JOSÉ CARLOS FARINA, BLOGUEIRO E YOUTUBER

sábado, 14 de janeiro de 2012

A HISTÓRIA DOS TRENS ( TREM ) NO NORTE DO PARANÁ



Viajando de trem pelo Norte do Paraná 
By http://londrinahistorica.blogspot.com/ ( JONAS LIASCH )



Os primeiros habitantes de Londrina não tinham muitas opções de transporte para poder viajar, e a principal delas era, sem dúvida, o trem.



A Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná - SPP, de propriedade da Companhia de Terras Norte do Paraná, chegou a Londrina em julho de 1935, e operou até 1944, quando foi vendida ao Governo Federal, sendo incorporada à RVPSC - Rede Viação Paraná - Santa Catarina.



A foto acima, tirada por Francisco de Almeida Lopes, é da primeira estação ferroviária de Londrina, que ficou operacional entre 1935 e 1946.






Os trens de passageiros operaram em Londrina de 1935 a 1981, quando foram totalmente suprimidos.



(Carro de passageiros da SPP - Francisco de Almeida Lopes)






Os trens de passageiros da SPP eram tracionados por locomotivas a vapor, alimentadas a lenha, combustível bastante abundante na região naquela época. Eram compostos geralmente por uma locomotiva e seu tender, um carro de bagagem, três a quatro carros de passageiros e um vagão gaiola, de transporte de animais, (foto abaixo, de Francisco de Almeida Lopes).



A velocidade do trem era baixa, média de 40 Km/h, e as paradas eram muitas. Em média, havia uma estação a cada 15 Km de linha entre Londrina e Ourinhos, estação onde os passageiros deveriam fazer baldeação para os trens da Cia. Sorocabana, caso desejassem prosseguir viagem além. Somente entre Londrina e Cornélio Procópio, por exemplo, existiam nada menos que sete estações: Ibiporã, Jataí, Frei Timóteo, Serra Morena, Pirianito (atual Uraí), Congonhas e Catupiri.


(Estação de Jataí, por Francisco de Almeida Lopes)






Em todas as estações, acumulavam-se pilhas e pilhas de lenha, para abastecer os tenders. Enquanto os empregados da SPP colocavam água e lenha nos tenders, os passageiros desciam para fazer uma refeição rápida, esticar as pernas e, eventualmente, tirar fotografias.



(Estação de Santa Mariana, por Francisco de Almeida Lopes)





Em relação aos ônibus, os passageiros do trem eram poupados do suplício da poeira vermelha, fina e penetrante, mas, em compensação, estavam sujeitos à fumaça e às fagulhas lançadas pela locomotiva. 



(Estação de Cornélio Procópio - Francisco de Almeida Lopes)






A queima de lenha, ao contrário da queima do carvão, produz grande quantidade de fagulhas. Por isso, os passageiros costumavam viajar com roupas velhas, pois as fagulhas abriam buracos de queimadura nas mesmas. Ao longo da linha, a SPP mantinha equipes de trabalhadores encarregadas de apagar o fogo que as fagulhas ateavam ao mato cada vez que um trem passava.



(Estação de Congonhas - Francisco de Almeida Lopes)






A lenha era um combustível de baixo rendimento e, consequentemente, as locomotivas precisavam de mais lenha praticamente a cada parada.



(Estação de Bandeirantes - Francisco de Almeida Lopes)






O serviço prestado pela SPP era razoável, com uma organização típica dos ingleses, e os trens, ainda que lentos, costumavam ser pontuais. O mesmo não se pode dizer dos serviços da RVPSC. A qualidade do serviço caiu muito, os trens andavam sempre lotados e cada viagem era uma verdadeira epopéia.





A RVPSC foi incorporada a RFFSA em 1957, que promoveu, pouco tempo depois a dieselização da ferrovia, substituindo as velhas locomotivas a vapor, apelidadas de "Maria-Fumaça", por novas locomotivas diesel-elétricas GM EMD G-12, o que eliminou o incômodo das fagulhas e da fumaça, além de terem grande autonomia e não precisarem de reabastecimento frequente.



(Trem de passageiros saindo de Ourinhos para Maringá - Francisco de Almeida Lopes)






Aos poucos, os carros de madeira foram sendo substituídos por carros de aço, mais seguros, e as novas locomotivas passaram a tracionar trens mais longos e com maior velocidade, podendo manter uma média de 60 Km/h entre as estações.



(Estação de Ourinhos, nos anos 50 - Francisco de Almeida Lopes)






Com o asfaltamento das rodovias, no início dos anos 50, os ônibus começaram a ganhar vantagem em relação aos trens, que foram sendo deixados de lado e relegados à população de renda mais baixa, devido ao baixo preço das passagens, aproximadamente metade do preço para um lugar nos carros de segunda classe.



(Locomotivas G-12 e Maria Fumaça, no tempo da dieselização - Francisco de Almeida Lopes)






Nos anos 70, a FEPASA - Ferrovias Paulistas S/A, sucessora da Cia. Sorocabana, permitiu que seus carros Budd, de aço inoxidável, circulassem no Norte do Paraná, de Ourinhos a Maringá, o que evitava a incômoda baldeação em Ourinhos. Os trens que circulavam no Paraná eram tracionados, então, por locomotivas GM EMD G-22U, em duplas, e quando chegavam a Ourinhos, eram incorporadas a um outro trem, que vinha de Presidente Prudente, e daí seguiam para a Estação Júlio Prestes, em São Paulo, com tração elétrica.



(Trem da RFFSA com carros Budd, em Maringá, de partida para São Paulo - Blog Maringá Histórica)






Um detalhe interessante é que as passagens a partir de Ourinhos tornavam-se sensivelmente mais caras, diminuindo a grande vantagem que o trem tinha sobre os ônibus, que, ainda por cima, eram bem mais rápidos.



(Estação de Nova Dantzig, atual Cambé - Francisco de Almeida Lopes)






Ainda que os trens fossem lentos e os carros Budd fossem um tanto antigos, (foram comprados em 1952) o trem era razoavelmente confortável, muito espaçoso, e dispunha de carro-restaurante, que fornecia refeições prontas e de boa qualidade, a um preço bem acessível. Empregados da ferrovia também vendiam doces, salgados e bebidas a bordo do trem.



(Estação de Londrina nos anos 50 - Francisco de Almeida Lopes)






A pontualidade era uma característica dos trens nessa época, e os horários eram cumpridos rigorosamente. Os maquinistas eram selecionados entre os melhores, e esmeravam-se em parar e arrancar tão suavamente que alguns passageiros mal percebiam.



(Trem passando sobre a ponte do Rio Tibagi, na década de 30 - José Juliani)






A paisagem da região Norte do Paraná, especialmente no trecho entre Cornélio Procópio e Londrina, era bastante atraente para os passageiros dos trens, que serpenteavam entre as montanhas da Serra Morena, e a travessia do Rio Tibagi, a ponte mais longa do percurso, era um atrativo á parte.



(Ponte sobre o Rio Tibagi - Francisco de Almeida Lopes)






Por volta de 1978, um trem de passageiros típico que circulava na região tinha duas locomotivas G-22U, de 1600 HP cada uma, um carro-bagageiro, quatro carros de segunda classe, um carro-restaurante e dois carros de primeira classe, na cauda do trem.



(Estação de Rolândia nos anos 40 - Francisco de Almeida Lopes)






Em alguns casos, os carros-bagageiros e restaurantes eram supridos pela RFFSA, de Ourinhos a Maringá, enquanto os carros equivalentes da FEPASA seguiam para Presidente Prudente, ou ficavam em Ourinhos, para serem usados em outros trens.



(Estação de Rolândia nos anos 40 - Francisco de Almeida Lopes)






Infelizmente, nem com o baixo preço das passagens, os trens não puderam concorrer com os ônibus, cada vez melhores, mais rápidos e com mais opções de horário, e a RFFSA acabou suprimindo os trens de passageiros, cuja última viagem ocorreu em 10 de março de 1981.



(Trem da SPP atravessando a ponte sobre o Rio Paranapanema, entrando no Estado do Paraná - Francisco de Almeida Lopes).

Nenhum comentário:

Postar um comentário