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quinta-feira, 18 de abril de 2013

MINHA INFÂNCIA NA ROÇA NO NORTE DO PARANÁ 2( ANOS 60 )




Passava quase todas as minhas férias escolares no sítio dos meus tios e avós. Acordávamos de madrugada quando os pássaros começavam a alvorada nas árvores do pomar e na mata próxima do riacho. É claro que o galo também já estava cantando nesta hora (já estava até rouco). Tomávamos um café reforçado com pão, café e leite. A manteiga era feita no próprio sítio (minha avó batia a nata do leite). Quando não tinha manteiga usávamos gordura de porco, queijo branco ou torresmo para comer junto com o pão. Meu tio ia para o curral ordenhar as vacas. Eu e meus primos corríamos para lá com canecas na mão para tomar o leite com espuma e açúcar que o meu tio esguichava diretamente dos tetos da vaca.
BRINCANDO EM MEIO À  NATUREZA
 Depois deste leite delicioso íamos para o rio pegar seixos (pedras aredondadas) para  a nossa costumeira caçada de estilingue. As pedras colocávamos em um embornal atravessado no ombro. As vezes ficávamos uma manhã inteira atrás dos pássaros mas não conseguíamos abater nenhum ( eles eram muito ariscos ). Quando não era com estilingue pegávamos pombas juritis com arapucas feitas de taquara e arame. Após "tratar" (dar comida ) aos porcos e  vacas muitas vezes selávamos os  cavalos e saíamos a cavalgar  pelas estradas da região que eram muito bonitas. Não havia perigo... todas as pessoas eram boas e conhecidas. Passávamos por elas e dizíamos "dia" ( era o jeito caipira de falar bom dia). Lembro-me até hoje das paisagens... dos rios... estradas.. o cheiro da terra... o perfume da florada do café... o barulho das águas do riacho... O ar próximo ao rio era muto gostoso e tinha um cheiro especial...  O almoço era servido as 10 horas. Primeiro tínhamos que levar as marmitas para os adultos que estavam na lida da terra... carpindo ou colhendo café.  As marmitas era envoltas em guardanapos de panos com nós nas pontas. Nas marmitas além do arroz com feijão sempre vinha um ovo frito, um pedaço de carne de porco ou de frango.. um pedaço de torresmo...  mandioca frita... As variações eram feitas com legumes da época e saladas. A sobremesa estava ali do lado no pé de laranja ou de tangerina. Era só pegar. As vezes a minha avó colhia na hora um pepino ou uma pimenta para complementar a alimentação. A tarde depois de alimentarmos novamente a galinhas, porcos,vacas e cavalos íamos para o rio nadar ou pescar. 
NADANDO NO RIACHO
Para nadar tínhamos que represar o riacho que era muito raso. Juntávamos  pedra e galhos e fazíamos o rejunte com argila. Quando a água chegava na altura dos joelhos para nós já era uma alegria. Já podíamos nadar estilo "cachorrinho". Minha avó ficava na margem olhando e cuidando para ninguém se afogasse (como se fosse possível naquela água rasa). Meu tio Mané uma vez nos ensinou que engolindo um filhote de lambari  vivo a pessoa aprende a nadar. Toda a molecada da família engoliu um lambarizinho vivo. Coitadinhos... (dos lambaris). O efeito psicológico foi bom pois todos nós aprendemos a nadar para "o gasto". As vezes levávamos peneiras para pescar. Sempre pegávamos lambaris, cascudos e camarões. Mas o que vinha mesmo eram girinos ( filhotes de sapo). Argh!.. não gosto deste bicho.... 
FAZENDA DE MENTIRINHA
Outro brinquedo na roça consistia em montar sítios de mentirinha usando chuchus, abobrinhas  e laranjas para fazer de conta que eram vacas ou cavalos. Espetávamos gravetos neles imitando as patas e as cabeças. As cercas eram feitas de barbante. As casas, curral e paiol fazíamos com tijolos e pedras. Fazíamos os "caminhos" e "estradas" todas enfeitadas com flores. Aquele que tinha sonho de ser fazendeiro acabava com o chuchuzal da minha vó porque queria o pasto cheio de bois ( haja chuchu). Mas a minha avó era esperta... à  tarde quando acabávamos de brindar ela ia lá e pegava os legumes para cozinhar para o jantar ( a gente nem ficava sabendo). 
BRINCANDO DE TARZAN
Uma vez, imitando o Tarzan do cinema, fizemos arco e flechas mas nunca dava certo. Queríamos que o arco atirasse bem longe a flecha. começamos a desenvolver técnicas. Cada dia fazíamos arcos com uma madeira diferente. Até que um certo dia meu tio Mané nos  ensinou que a madeira boa para isso devia ser o marfim.  tá... mas como iriamos saber no meio de uma floresta com milhares de árvores qual seria o tal marfim? Meu tio ensinou como era a cor do tronco e o formato das folhas e lá fomos procurar. Quando voltamos todos felizes com a que supúnhamos ser Marfim ele abanou a cabeça e disse: - Esta é "Farinha Seca". Mas não é que a tal "Farinha seca" era boa para a confecção de arcos!... Nossos arcos agora eram quase iguais ao do Tarzan. As flechas fizemos de taquaras e amarrávamos penas de galinha na parte anterior. Coitadas das galinhas!... até dar certo quase deixamos uma lá totalmente depenada. Agora  faltava a lança. Logo achamos uma faca velha que foi pregada na ponta de um cabo de enchada. Graças a Deus que não  nunca brigávamos entre nós porque agora estávamos armados de fato igual ao Tarzan. (Só ficou faltando a tanga). 
CONSTRUINDO UMA JANGADA
Em outra oportunidade ficamos dias tentando construir uma  jangada igual uma que vi também num filme do Tarzan ( ou era do Jim das Selvas? não tenho certeza). Toda madeira que usávamos afundava. Usamos até um tacho da minha vó.. mas que!... afundou... Pegamos a mantimenteira ( em forma de caixote)... também afundou... Até que mais uma vez o tio Mané nos deu uma grande ideia.  Entre uma tragada ou outra do cigarro "palheiro" ele nos disse que a Imbaúva é oca por dentro e poderia dar certo... menino!.. ele salvou a pátria...  agora sim.. tínhamos a jangada e também mais um herói... o tio Mané... que virou nosso ídolo. Ficamos  todos metidos navegando de jangada na represa e pescando lá no meio do lago... armados de arco, flechas e lança  (vai que aparece uma onça). Eu ficava com a flecha no jeito para flexar algum peixe grande ou algum jacaré... mas eles nunca apareceram... 
LAMPIÃO DE VAGALUMES 
Em outras férias no sítio do meu tio, meu irmão Pedro foi junto. Na primeira noite ele ficou com medo dos ratos enormes que costumavam "passear" pelo quarto.  Ele pediu ao tio Mané para deixar uma lamparina acesa, mas ele disse que não podia por causa da fumaça que depois de algum tempo prejudica a saúde. Com dó do Pedro o primo Toninho teve uma idéia que salvou a pátria ( O Pedro já  estava querendo voltar à pé para Rolândia).  Na boca da noite saímos pegando vagalumes e colocando dentro de uma garrafa transparente. Não é que deu certo. Agora o Pedro ( e nós também) tínhamos lâmpadas de graça e sem fumaça. Só que o tio Mané falou para o Pedro para ele de vez quando soltar a rolha para os bichinhos respirarem. Resumo: o Pedro não sentiu mais medo mas também não dormiu.. ficou a noite inteira cuidando dos bichinhos. 
PRIMEIRA BEBEDEIRA
Na falta do que fazer em outra oportunidade fomos visitar o alambique de pinga que tinha lá na vizinhança. Como somos bastantes curiosos ficamos ajudando o senhor Constantino (dono do alambique) até que saísse a pinga após o processo de destilagem. Ajudamos a cortar cana.. moer a cana..  fermentar a cana... ferver o caldo... e aí.. tan tan tan tan... enfim saiu ou caiu a famosa pinguinha brasileira diante dos nossos olhos... toda branquinha...cheirosa... (deu até vontade)...  Como trabalhamos bastante o senhor  Constantino encheu um copo da pinga da mais fraca e deu para nós. A sede era tanta que bebemos como se fosse água. O senhor Constantino teve que se ausentar dali e aproveitamos para beber mais... O resultado é que chegamos em casa os quatros abraçados para não cair... cantando "Saudade do Matão" e rindo sem parar. Minha vó Dolores quando viu a cena começou a chorar... o que que a Tana (minha mãe) vai falar de mim?... vai falar que dei pinga pra vocês!... que eu não cuidei de vocês... Tivemos que prometer que não contaríamos para a minha mãe senão nunca mais poderíamos voltar em férias no sítio. 
TRABALHO NA ROÇA
A molecada da nossa família a partir dos 6 ou 7 anos já ajudava os pais nos serviços da roça ou da casa. Além de tratar dos animais tínhamos que ajudar a plantar e colher arroz, feijão e milho.  Limpávamos também os troncos dos cafeeiros com as mãos, afastando os grãos de café para que os adultos  pudessem rastelar e peneirar o café.  
MATANDO UM PORCO
Um dia divertido na roça é quando o meu tio ou o meu avô matavam porcos cevados. Fora a parte triste de  ver e ouvir o porco agonizar e gritar durante minutos, gostávamos de ver limpar o couro para tirar os pelos. Esta tarefa era feita com folhas secas de bananeiras em chamas ou com água fervendo. Após passavam uma faca super afiada como se estivessem fazendo a barba. Após estar limpo o porco  era colocado sobre um giral de madeira onde era partido ao meio. As ferramentas eram facões, martelo e machadinha. Já em duas  partes começavam a retirar as vísceras e os órgãos internos. A molecada pegava a  "bexiga" para brincar fazendo-a de balão. Já cortado todo em pedaços  pequenos o porco era todinho frito num grande tacho usando a própria banha. Depois de frito toda a carne era armazenada em latas de 20 litros encobertas pela banha quente. Depois de algum tempo a gordura  esfriava e endurecia, conservando esta carne por muito tempo, mesmo sem geladeira. Neste mesmo dia além de fritar a carne fazíamos linguiça e chouriço. Era costume sagrado mandar um pedaço de carne para todos os vizinhos que pudessem ouvir os gritos do porco em agonia de morte. É que acreditava-se que a molecada após ouvir os gritos do porco morrendo ficava com lombriga. 
COLHEITA EM MUTIRÃO
Quando o meu pai, tio e avós iam colher arroz costumavam fazer mutirão. Vinha todos os meus tios, primos e alguns vizinhos ajudar. Uns iam cortando com o "ferro curvado"... outros amarrando em forma de feixes e trazendo na bancada de madeiras para outros "baterem".  Conforme os grãos iam se desprendendo e caindo sobre o encerrado outros iam ensacando... outros iam trazendo para a carroça que por sua vez trazia até a tulha. Na colheita do feijão tínhamos que arrancar os pés de feijão secos e amontoá-los perto do carreador onde passava um adulto com carroça para recolher. Já na terreirão alguém batia este feijão com um "reio de madeira" para que as vagens abrissem e soltassem os grãos.  Para colher o milho primeiro tem que "quebrá-lo" ou seja entortar o tronco pelo meio para que o milho acabe de secar e para que não pegue umidade. Após algumas horas deste trabalho pesado nossos pais e avós nos liberavam para deliciosos banhos no rio ou na cachoeira. 
TIRANDO OS BICHOS DE PÉ
Lembro que quase todo dia pegava  "bicho de pé" em algum dos dedos dos pés. E após coçar por dias ( coceira forte ) o bicho ficava gordo e formava  uma bolinha amarela. Aí a minha tia, mãe ou avó tirava-os com o uso de uma agulha e queimava-os na lamparina. Era um alívio ficar sem aquele incomodo. (ficava feliz de vê-los fritar na lamparina). 
MEU AVÔ
Gostava de ver o meu avô dando milho para as galinhas a tardezinha (ele tinha mais de 200). Elas vinham todas e ficavam em volta dele. Ele ia debulhando a espiga com a mãos e jogando no chão e gritando: - pipipipipi... Meu avô era muito trabalhador e quando chovia pedia para nós ajudá-lo a roçar o pasto... fazer vassouras e passar óleo de mamona nos arreios. Ele aproveitava também para engraxar as rodas da carroça e afiar as ferramentas com lima. Outra tarefa era replantar café onde houvesse falhas. Lembro-me até hoje dele com um cigarrinho de palha no canto da boca... seu chapéu preto... sua botina com tiras nas pontas... trabalhando a vida inteira até poucos anos de morrer ( com 90 anos). Ele  tratava os seus animais com muito amor e obtinha deles também muito carinho. toda a vez que saia com o cavalo na volta tratava dele com milho e o escovava por inteiro.  (quando eu e meu primo saíamos à cavalo tínhamos que fazer o mesmo). 
HISTÓRIAS DE ASSOMBRAÇÃO
Meu avô e meu tio sempre recebiam visitas à noite para um bate-papo na cozinha. O fogão caipira estava sempre aceso e eu e meu primo o Toninho empoleirados nele para nos aquecermos. Minha tia coava um café cujos grãos foram colhidos na própria roça e torrados em casa. Tenho o cheiro deste café na minha mente até hoje... Eu e o meu primo comíamos pipoca e ficávamos atentos a toda conversa. Os causos falavam de uma luz que aparecia na entrada de uma determinada fazenda no estado de São Paulo e seguia as pessoas até que elas chegassem em casa ( o meu tio foi um deles).   Outro causo era de uma alma penada que gemia em baixo de uma ponte... Segundo a lenda só desapareceu quando mandaram rezar uma missa. Tinha também um que mencionava uma assombração que só descansou quando conseguiu contar para alguém onde tinha enterrado uma fortuna em moedas e ouro. Depois de ouvir todos estes causos íamos dormir, mas agora com medo... cobríamos bem os pés pois acreditávamos que alguma assombração pudesse nos puxar para debaixo da cama. Quando reuníamos os primos nas festas de final de ano contávamos estes causos e todos prestavam bastante atenção. E na hora de dormir sempre tinha um que pedia para acender uma lamparina por causa do medo. E ainda mais com o meu primo Toninho gemendo debaixa da coberta e dizendo: - "eu sou uma alma penada e vim te buscar... eu tô na porta do quarto.. eu tô do lado da sua cama... ahhahahahah te peguei!.....
MINHA AVÓ
Lembro de minha vó sentada em sua máquina de costura em frente a uma janela que dava para o jardim. Tinha um pé de camélia e lembro-me de tudo.. até do perfume das flores... Ela sempre nos pedia com carinho que a ajudasse  carpir o pomar. Em troca ela  fazia para nós cural de milho, pipoca ou  bolinhos para o café da tarde... hum que delícia. Lembro-me da minha avó assando pães e frangos no seu forno caipira de tijolos e barro. Ela  pedia para nós para colhermos o mato gachuma para fazer a vassoura que ela usava para varrer as brasas  do forno.  
FESTAS DE FINAL DE ANO
As festas do final do ano eram uma delícia no sítio do meu avô. Juntávamos vários primos. Depois do almoço que não podia faltar leitoa, frango assado, pernil e guaraná antartica nós brincávamos o dia inteiro. É claro que sempre ocorria uma ou outra briga. Sentíamos prazer de brincar perto dos pais e tios e todos riam muito. O meu tio Manoel ficava contando causos e a molecada prestava atenção. A noite dormíamos todos num mesmo quarto e ficávamos contando de novo aqueles causos, principalmente os de assombração. Os mais medrozos pediam para ascender uma lamparina pois ficavam com medo. A casa do sítio não era forrada e ficávamos olhando a claridade nas telhas cada vez que o meu tio ou avô davam tragadas em seus cigarros de palha. A parte ruim do sítio era tomar banho de bacia com sabão feito em casa e ouvir os enormes ratos à noite inteira  andando perto da sua cama.  
CAÇADAS COM O TIO MANÉ
As domingos saímos com meu tio Manoel ou para caçar passarinhos com alçapão ou para caçar bichos maiores. Na caça de bichos meu tio contava com o auxilio de cachorros americanos que uivavam o tempo todo. Muitas vezes andávamos um dia inteiro atrás destes cachorros que não paravam de uivar. A gente acreditava que tinham farejado algum bicho... mas era só "frescura" deles... não tinha bicho nenhum... aí o meu tio falava assim: - seus putos!... vocês são uns bostas.. da próxima vez vou largar vocês em casa... ele falava sério.. eu e meu primo, o Toninho, ríamos bastante. O duro é que os cachorros entendiam e abaixavam a cabeça após a bronca. 
FESTAS JUNINAS
Nas festas juninas a molecada se divertia bastante pulando a fogueira e soltando buscapé e bombinhas. Comíamos pipoca, bolo de fubá  e tomávamos leite com chocolate ou chá. A meia noite na passagem de "São João" muitos andavam descalços no tapete de brasa e não se queimavam. Eu fui um deles. Verdade... Havia também as novenas e terços. Enquanto os adultos rezavam a molecada brincava de esconde-esconde, salva e balança caixão. Depois sempre era servido uns pedaços de bolo com chocolate ou chá. Os adultos tomavam uma bebida conhecida como anizeti (essência de aniz, água e pinga). 
BAILES DA ROÇA
Aos sábados sempre tinha baile de sanfona nas imediações. Todo mundo se encontrava nestes bailes. Os rapazes e adultos tomavam  "rabo de galo"  ou "batida de amendoim".  A música era sempre a mesma e o estilo de dança idem... Depois de um certo tempo de dança ninguém aguentava a poeira que erguia em baixo da barraca de lona. Chegávamos em casa assoprando tijolos pelas narinas. Era muito bom as caminhadas pelas estradas em noites de lua cheia.Vínhamos em grupos de jovens conversado... fumando e contando as proezas que  fizemos durante a semana que findava. Uns tropicando pelo excesso de batida de "amendoim"... Outros vomitando de tão bêbados que estavam. 
COMPRAS NA CIDADE
O gostoso mesmo era acompanhar o meu tio ou avô nas compras na cidade. Vínhamos de charrete. Parávamos na venda e esta era a hora de tirarmos a "barriga da miséria"... comíamos paçoquinha com guaraná e chupávamos sorvetes de groselha com direito a repetir... era bom demais. Era tão gostoso passear de charrete. Lembro-me de tudo. Até o cheiro do cavalo suado de tanto andar (formava espuma em baixo do arreio). O meu tio meio alegre depois de tomar umas branquinhas... o povo do patrimônio... outras carroças no caminho... as meninas bonitas nas janelas escondendo a boca com a mãos com vergonha sei lá do que... (nós idem)... 
DUELO AO POR DO SOL
Um dia eu e o me primo Toninho ficamos sozinhos no sítio do meu avô e como toda criança fomos bisbilhotar as relíquias do meu tio Mané. Em cima do guarda-roupa ele guardava uma espingarda chumbeira de caça e uma garrucha. Ai todos "metidos" fomos brincar de Cowboy.  Meu primo colocou a espingarda atravessada  no ombro e a garrucha na cinta, enfiada por debaixo da calça. Aí ele olhou para mim com cara de mau e disse: - Zé Carlos.. saque a sua arma.. desafio você para um duelo! Eu sabendo que  o Toninho era maluco, já fui abaixando o corpo, colocando as mãos na cabeça e gritando: - Cuidado maluco esta garrucha está carregada!... Mas ele continuava com aquela cara de mau e com um pequeno sorriso nos lábios.. até que disparou... a bala passou a mais ou menos um metro da minha cabeça e foi se alojar na parede. Após ele pedir mil vezes perdão e agradecer a  Deus o livramento fez um último pedido: - Se você não contar para o meu pai amanhã eu levo você para andar à cavalo e deixo você usar a cela nova. Fechamos o acordo e até hoje ninguém sabia desta "desventura". 
UM DIA DE BARBEIRO
Um outro dia que ficamos sozinhos em casa recebemos a visita do nosso amigo Carlinhos. Ele era um menino moreno, filho do porcenteiro do meu avô. Nós que já tínhamos brincado de tudo, naquele dia resolvemos brincar de cortar cabelo, desde que não fosse o nosso... O meu primo com aquela cara de malandro perguntou ao Carlinhos: - Você está com o cabelo comprido, não quer que eu corte? O Carlinhos fez um bico, olhou torto e respondeu: - E você por um acaso sabe cortar cabelo? Toninho não se fez de rogado e retrucou: - claro".. sou eu que corto o cabelo do meu avô.... Carlinhos asseverou: - mas o seu avô é careca... Toninho sempre querendo ter a última palavra: - mas você pensa que é fácil deixá-lo careca... é o que dá mais trabalho. Toninho para captar o seu primeiro cliente foi lá no banheiro e trouxe o aparelho de gilete e a esponja da espuma e argumentou: - Olha se você deixar nós cortarmos o seu cabelo ( eu também estava envolvido) nós vamos apará-lo com gilete. A molecada da época gostava desta parte.. a parte em que o barbeiro fazia as "costeletas" e a nuca com gilete ou navalha... e assim Carlinhos concordou... Aí começamos o serviço... (a duas mãos)... Colocamos uma toalha nos ombros do menino.. cada um queria cortar um pouco... Carlinhos desconfiado pedia de minuto em minuto um espelho para ver como estava ficando... O Toninho respondia... fique calmo... está ficando lindo.. só vamos mostrar no final... A parte do corte até que ficou bom... nós tínhamos noção, mas na hora da gilete... hummm .. que c...... raspamos a "costeleta" para dentro... tentamos arrumar.. ficou pior... começou a dar uma dor de barriga em nós... mas cada vez que mexíamos ficava pior. Carlinhos percebeu a fria em que se meteu e correu lá dentro da casa para olhar no espelho... quando viu saiu chorando... O meu primo para consolá-lo falou que aquele era um corte moderno que estavam usando lá na cidade... Mas o Carlinhos cada vez que olhava no espelho chorava mais alto... De noite o pai do Carlinhos trouxe o menino para o meu tio ver a c.... que tínhamos feito. O resultado é que o meu primo apanhou de cinta na presença do Carlinhos que se sentiu vingado. Eu, como era apenas sobrinho levei apenas uma bronca. Depois de muito tempo o meu tio Mané sempre lembrava do que fizemos com o Carlinhos e ria muito.. ele falava: - Vocês deixaram o menino mais  feio do que ele era.. o coitadinho ficou sem sair de casa por um mês....
NORTE DO PARANÁ
O norte do paraná sempre foi um  ótimo lugar para se viver e trabalhar. Talvez seja exagero mas sempre digo que  aqui é o melhor lugar do mundo para se viver. Sou suspeito pois nasci aqui e sei que aqui vou morrer um dia (não tenho pressa). Um abraço a todos que leram esta crônica até o fim. Deus  abençoe a todos.  JOSÉ CARLOS FARINA


LEGENDA DA FOTOS: Na 1ª foto o autor da crônica com 12 anos; 2ª meus avós e o Tio Mané ( que foi bastante citado na matéria). 3ª Eu, tio mané,Toninho ( em cima do cavalo) e primos.

12 comentários:

  1. Li até o fim, sentindo muito prazer nisso. Vc relata com muita fidelidade a rotina de sua infância e adolescência no sítio da família, entre os anos 60 e 70, possivelmente, nessa terra abençoada do Norte do Paraná. Fez-me reviver também as minhas lembranças deste tempo feliz. Eu insisto em dizer que vc deve continuar escrevendo e futuramente reunir em livro esses interesantes relatos. Vc escreve bem. E tem memória prodigiosa.
    Deus te abençoes, Farina. E te dê vida e saúde para levar em frente esse trabalho, em meio às muitas outras atividades que ocupam o seu precioso tempo. Meu abraço!

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  2. RESPONDI AQUI MEU AMIGO. UM ABRAÇO. DEUS ABENÇOE VC. http://blogdojosecarlosfarina.blogspot.com.br/2013/04/jose-carlos-farina-recebe-elogio-sergio_18.html

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    1. Zé Carlos, meu amigo, porque me esqueço de digitar as letrinhas eu quse sempre perco todo o texto. Há um outro problema: o de digitar rapidamente. O sistema ignora.
      Olha, eu fico, às vezes emocionado com essas coisas que vc escreve. Vc nos traz em relatos muito bem escritos lembranças e redescobertas de coisas que tendem a cair no esquecimento total. Eu já lhe disse de outras vezes e quero novamente insistir: Vc tem, além do talento inato para escrever, uma memória prodigiosa. Estes relatos seus são dignos de registro em livro, porque reproduzem com singeleza, espontaneidade, mas - sobretudo - com talento literário - uma época que ficou de certo modo esquecida no tempo. Eu gostaria, sinceramente, de - um dia desses - conhecer mais sobre este seu trabalho de resgate do cotidiano da vida das pessoas, durante os anos de 50-60-70, especialmente no ambiente rural. Mas com a visão dos fatos urbanos que vc também conserva nítidos na memória. Muito já se escreveu sobre isso, claro, mas não, sem dúvida, com essa precisão de detalhes que vc traz. Por isso, gostaria muito de poder, um dia desses, ver pessoalmente esse trabalho seu: o que vc certamente guarda, por enquanto, nas gavetas. Digo, sinceramente, que todos ganharemos com uma publicação das suas narrativas em forma de livro. Precisamos e devemos resgatar esses conteúdos históricos. Você é um Rolandiense com "R" maiúsculo. Eu te trago meu aplauso. Espero que não sejam palmas isoladas, diante de um grande talento literário como o seu.
      Faço votos que vc continue acumulando êxitos em seu trabalho, notadamente neste em que, certamente, nada aufere em termos financeiros, mas certamente, muito acrescenta aos estudos do que foi a colonização do Norte do Paraná. Meu abraço.

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  3. Meu amigo Sérgio: você é muito gentil e bondoso com estas palavras que me enchem de emoção pois sei que são sinceras. Escrevo apenas para "o gasto" mas se a minha crônica sensibilizou-lhe é porque coloquei muito amor nas palavras e tentei transcrever um período muito feliz de minha vida. Só de receber este elogio já valeu a pena tê-la escrito. Receba o meu abraço fraterno com os votos de que o Papai de Céu te cubra sempre de ricas bençãos. JOSÉ CARLOS FARINA

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  4. Parabéns, Grande Tio.

    Em uma frase: A felicidade está nas coisas simples da vida...

    Fraterno Abraço!!!

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  5. Obrigado Paulinho. Você aprendeu isso cedo.. muito bom. um abç. Fk com Deus...

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  6. Grande Farina parabéns pelo texto. Essas memórias merecem registro até para que as futuras gerações entendam nossa relação com a natureza, o respeito aos mais velhos e a importância da da família. Continue nos brindando com esses "causos"... nós agradecemos.

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  7. SIMPLESMENTE FANTÁSTICO AS HISTÓRIAS. CONFORME VOU LENDO, FICO IMAGINANDO A CENA COMO ACONTECEU.
    PARABÉNS....

    P.S. quando publicar um livro, não esqueça de fazer uma dedicatória a quem sempre te incentivou, rsrsrsr. ABRAÇÃO.

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  8. Obrigado amigos pelas palavras gentis de incentivo. Vocês são maravilhosos. A idade é bom para isso.. para a gente repassar alguma experiencia de vida para os mais jovens. Deus abençoe vcs. FARINA

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  9. Farina, essa história é bem parecida com as que minha mãe conta pra gente em casa, as situações engraçadas, a simplicidade da criança que mora no sítio, o divertimento com coisas simples e saudáveis, as conversas sobre assombração e também do saci pererê que corria atrás delas na roça e chegavam sem comida pro meu avô...kkkkkkk....época boa que não volta mais...é uma viagem no tempo....infância feliz, sem jogos eletrônicos, sem computadores mas com toda certeza muito mais saudáveis do que as nossas crianças tem nos dias de hoje. Eu não tive o prazer de crescer no sitio....cresci na cidade, mas qdo ouço essas histórias me da até uma inveja boa de não ter crescido nesse ambiente que mesmo sem muitos recursos, era um ambiente feliz, sem a violência que vemos hoje...sorte a sua por ter vivido sua infância em um lugar tranquilo, sadio, livre, inocente, mas muito feliz...pense com carinho em colocar num livro todas essas aventuras....abraço!!

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  10. HEHEHE Obrigado Edilene. Vc e mais dois amigos estão me estimulando a escrever um livro.. agradeço o carinho e incentivo.. vou preparando o material.. quem sabe um dia.. Deus te abençoe.

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