O guardião do vale
Masayoshi Iwase transformou a área em frente à casa onde mora: o que era depósito de lixo virou um bosque
Masayoshi Iwase no vale do córrego Limoeiro: "Ganhei qualidade de vida"
O furtivo cidadão que pretende realizar um despejo irregular de sujeira no fundo de vale da bacia do córrego Limoeiro, na zona leste de Londrina, provavelmente se enrolará numa tarefa inglória. É que dificilmente ele passará despercebido pelo contabilista aposentado Masayoshi Iwase, que cuida daquele pedaço como se fosse o jardim da própria casa. Armado de coragem e paciência oriental, o "guardião do vale" é implacável com os sujismundos de plantão.
Nem mesmo um ou outro vizinho mais folgado escapa do sermão de Masayoshi, que se mudou para lá em 1998 e encontrou uma situação deprimente: um mato tão alto que deitava sobre a rua e escondia animais mortos – com aquele odor insuportável – e, pior, animais peçonhentos, principalmente aranhas e escorpiões, que de vez em sempre visitavam os moradores sem pedir licença.
A primeira tentativa de limpar o local foi infrutífera. Carroceiros incautos e moradores sem um pingo de consciência ambiental ignoravam solenemente as placas de "Proibido jogar lixo". E os órgãos públicos ignoravam os apelos para uma limpeza mais regular e eficaz.
Daí que Masayoshi chegou à conclusão de que, se quisesse um local agradável para morar, teria de arregaçar as mangas. "Quebrei três enxadões só para tirar umas touceiras de colonião deste tamanho aqui, ó", conta ele, abrindo os braços.
A parte mais urbana da bacia do córrego Limoeiro compreende cerca de 12 mil metros quadrados ao longo das ruas José Hélio Luppi (Jardim São Conrado), Marco Polo e Adriano I (Jardim Albatroz), próximo ao Aeroporto. É uma encosta de aproximadamente 30 metros que, morro abaixo, une-se à mata de chácaras e que formam um corredor ecológico até o Rio Tibagi.
Além de capinar o local, Masayoshi ajeitou a terra em forma de curvas de nível para evitar erosão e, de 2000 para cá, plantou perto de 600 mudas de pelo menos 40 espécies de árvores frutíferas, medicinais e ornamentais. Roseiras, palmeiras, orquídeas e palmitos dividem espaço com pau d’alho, pau Brasil, cedro, peroba, canafístula, sibipiruna, imbaúba, flamboyant.
Um pouco distantes da arnica, erva cidreira, pimenteiras, boldos e erva de santa maria encontram-se pés de manga, jamelão, jaca, tamarindo, abacate, orvalha, araçá, cambuí, graviola, acerola, pitanga, goiaba, romã, ameixa, banana, jabuticaba, guaraná, fruta do conde e diversos cítricos.
Depois de gastar tempo, suor e algum dinheiro com as caçambas contratadas para transportar o entulho, o resultado pode ser comprovado a olho nu: terreno capinado, árvores produzindo, mudas crescendo com vigor, telhados agora protegidos dos ventos que antes os ameaçavam, visual acolhedor, vizinhança pacificada e região valorizada
O que mais, Masayoshi, você ganhou com isso? "Ganhei higiene mental, frutos o ano todo, árvores florindo e cantar de passarinho", ele responde. "Ganhei foi qualidade de vida."
Que o diga a trupe de quatis que receberam a FOLHA quando foi registrar as imagens do fundo de vale.
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