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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Londrina: Primeiro filme longa metragem... Leste Oeste de Rodrigo Grota

Uma tarde no set de filmagem

Fotos: Lis SayuriReportagem da FOLHA acompanhou a gravação da última cena do filme "Leste Oeste", primeiro longa-metragem rodado em Londrina

Foram duas horas de montagem de som e mais três de gravação no laboratório de anatomia da UEL – tudo para finalizar apenas a cena de número 45, a última com diálogo no filme. Apesar do cansaço, a equipe de direção manteve o ambiente tranquilo, o que contribuiu para a naturalidade da atuação em frente às câmeras.    As filmagens de "Leste Oeste", primeiro longa-metragem rodado em Londrina, foram finalizadas há uma semana, mas a equipe ainda ‘respira’ o intenso ritmo das gravações. Isso porque, agora, começa a fase de finalização. Depois de 21 dias seguidos de filmagens em 19 locações reais diferentes na cidade, a expectativa é que o filme de 90 minutos tenha sua primeira exibição já no primeiro semestre de 2015. Para Rodrigo Grota, que dirige seu primeiro longa, a experiência de viver a fundo e por um período mais longo os personagens foi enriquecedor. "Existem situações que são genuínas de um set de filmagem. Por mais que eu tenha trabalhado por três ano e meio no roteiro, há ‘coisas’ que só acontecem com a câmera ligada", resume.

‘Coisas’ como emoções e improvisações que ele faz questão que apareçam no filme. "Quanto mais o ator conseguir deixar a história verdadeira, mais eu fico satisfeito. Para essa produção, foi essencial a integração entre atores experientes com atores e pessoas que não são profissionais. Isso torna tudo mais vivo, porque é representado por pessoas reais. Há, ainda, a abordagem documental, cenas gravadas em acontecimentos reais, como uma competição no autódromo."

Liberdade que pôde ser presenciada pela reportagem no último dia de gravação do filme com o núcleo jovem da trama, na quarta-feira passada. O ambiente tranquilo – possibilitado pela equipe de direção - de uma cena que se passa em um laboratório de anatomia, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), permitiu que os atores pudessem dialogar com tanta naturalidade que até mesmo um erro da fala fosse incorporado à cena.

Os três atores do triângulo amoroso nunca haviam atuado em cinema antes. O ator que interpreta um piloto de automobilismo, Bruno Silva, de 16 anos, por exemplo, sequer havia atuado. "Esse é um mundo totalmente diferente; nunca vivi nada parecido com as gravações. O ritmo é muito cansativo, mas, ao mesmo tempo divertido. Teve dias em que gravamos até de madrugada. Vou levar essa experiência para a vida toda", disse o rapaz que, na vida real, é piloto de kart desde criança e, assim como seu personagem, quer seguir carreira profissional. "Quero ser piloto. Espero que o filme dê mais visibilidade ao meu trabalho", contou.

O cansaço é nítido e perceptível. Uma cena de pouco mais de um minuto demorou quase três horas para ser gravada. Detalhe: houve dias em que ficaram até 18 horas filmando. Entre um ajuste e outro de luz, correção do som, bocejos, espreguiçadas, movimentos faciais. Mas, muita disciplina e comprometimento, sobretudo de quem está debutando. "É um desafio imenso manter-se repetindo a cena com a mesma qualidade. Mas a direção nos deixa bem tranquilos", contou a jovem Letícia Conde, estudante de Arquitetura de 20 anos, que não perdeu a pose após 17 tentativas da mesma cena. Apesar de estudar teatro desde criança, é sua primeira participação em um filme desse porte. "Atuei numa produção em minha cidade natal, Varginha (MG), mas que nem se compara. Lá era tudo amador."

Se a repetição na cena é um dos pontos destacados, o jovem ator de teatro Filipe Garcia comentou que, no cinema, ‘menos é mais’. "Na tela ficamos mais expostos. Por isso, movimentos, voz, olhar, tudo precisa ser bem sutil. Foi difícil conseguir ‘limpar’ isso, porque, no teatro, nos utilizamos de todos os recursos possíveis ao mesmo tempo. Está sendo completamente diferente de tudo o que já fiz", pontuou o rapaz, de 18 anos.

Orientado a não movimentar-se muito além do espaço determinado na cena, fazia exatamente como pedia o diretor em outro ângulo de gravação. "Tenho que apontar para o vidro, mas sem me mexer muito para não sair do quadro. É isso, Grota?", perguntou, durante a filmagem de um dos takes.

Após duas horas de montagem de luz, mais três de gravação, chegou ao fim apenas uma cena, a de número 45, última com diálogo no filme. "A filmagem nunca começa quando queremos e nunca acaba quando imaginamos. É um trabalho infinito", brincou o assistente de direção, Rafael Ceribelli.

Além de auxiliar o diretor, ele era o responsável por organizar o ambiente e a equipe. "O diretor precisa estar focado na cena; não pode desviar a atenção com o tempo e problemas, principalmente técnicos. Agora, por exemplo, vamos fazer mais umas imagens da atriz de antes da conversa dos três e quando os meninos chegam ao laboratório. Tenho que chamá-los para cá", explicou. E assim foi mais algum tempo, para, enfim, a reportagem se despedir depois de uma tarde acompanhando a gravação.

"A filmagem nunca começa quando queremos
e nunca acaba quando imaginamos"

Marian Trigueiros
Reportagem Local

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