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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

JUDEUS E NAZISTAS EM ROLÂNDIA ( MATÉRIA ESPECIAL NA FOLHA DE LONDRINA )

FOLHA DE LONDRINA

História Esquecida - Suástica no Norte do Paraná


Região foi local de concentração de simpatizantes do nazismo na década de 1930

Anderson Coelho
"Eles (símbolos nazistas) eram expostos nas efemérides ligadas às ações do partido como o aniversário do Führer", revela o professor Marco Soares
Reprodução/Anderson Coelho
O pavilhão nazista foi ostentado durante a inauguração da escola alemã em Rolândia


Rolândia - A cruz suástica é um dos símbolos mais fortes já criados. Inicialmente representava "sorte", "prosperidade" e "sucesso". Contudo, em função da Segunda Guerra Mundial e da "Solução Final para a Questão Judia" - eliminação dos povos judeus que ocupavam territórios alemães – passou a ter uma conotação totalmente negativa. 

Na década de 1930, o pavilhão com a cruz suástica foi hasteado no Norte do Paraná. A região foi um local de concentração de simpatizantes do nazismo. Segundo o professor de História da Universidade Estadual de Londrina(UEL), Marco Antonio Neves Soares, boa parte dos simpatizantes do nazismo estavam em Rolândia (Região Metropolitana de Londrina). "Eram pessoas que já tinham se estabelecido em Santa Catarina, mas devido a um problema sanitário, a incidência de febre amarela, se mudaram para Rolândia", expõe. 
Segundo o professor, um deles era August Nixdorf, que montou em Rolândia uma célula do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), conhecido como Partido Nazista. "August Nixdorf usava o termo alemão 'stutzpunkt' (base), ou seja, um ponto de apoio do partido em Rolândia. Não chegou a ser uma agremiação, mas uma célula. Os simpatizantes eram em pequeno número e não tinham muito problema em ostentar o apoio ao regime na Alemanha", declara Soares. 
August exerceu grande influência na vida da Gleba Roland, como era conhecida Rolândia na época. Os primeiros imigrantes alemães vieram para cá por intermédio da Companhia para Estudos Econômicos Além-Mar, criada na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial para solucionar a crise econômica que atingiu pequenos lavradores, incentivando a emigração. Um de seus presidentes foi Erich Koch-Weser, advogado e político liberal que foi um dos fundadores do Partido Democrático Alemão e que também atuou como Ministro do Interior, vice-chanceler e ministro da Justiça. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo alemão proibiu a saída de dinheiro da Alemanha e a solução encontrada por Erich Koch-Weser e Johannes Schauff , representantes da inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná na Alemanha, foi realizar a chamada Operação Triângulo, por meio da qual os alemães sob risco forneciam o dinheiro para compra do material para a construção de uma estrada de ferro e, em troca, recebiam títulos conhecidos como "cartas de terra", que davam o direito de adquirir terras em Rolândia. Cerca de 400 famílias de origem alemã se estabeleceram na Gleba Roland entre 1934 e 1938, dos quais entre 80 e 120 famílias eram de judeus, inclusive assimilados e convertidos. Dessas famílias, 12 chegaram a Rolândia pela Operação Triângulo e tiveram acesso à terra. 
"Sabemos que algumas dessas iniciativas não deram certo. As pessoas compraram o ferro, mas ele não foi entregue à companhia inglesa. Devido ao esforço de guerra, a Alemanha proibiu a negociação do material e aquelas pessoas cujo material não chegou nas mãos da companhia inglesa não obtiveram acesso à terra. Temos aqui no CDPH alguns depoimentos de pessoas que ao chegarem aqui, jamais imaginavam que seriam empregados domésticos ou lavradores que executavam serviço braçal no campo", relata. 
Muitas delas, ao chegar ao Brasil, se depararam com símbolos nazistas como os pavilhões com a suástica do NSDAP e isso as aterrorizou. "Eles eram expostos nas efemérides ligadas às ações do partido como o aniversário do Führer. Há, inclusive, uma foto no dia do aniversário de Hitler em que a poetisa Maria Kahle (1891-1975) se apresentou em uma clareira aberta no meio da mata e declamou versos que tinha escrito em homenagem ao líder alemão", destaca Soares. 
Maria Kahle nasceu na Alemanha em 1891 e veio ao Brasil em 1913, para visitar uma tia, mas não conseguiu voltar por causa do início da Primeira Guerra Mundial. Em 1920 voltou à Alemanha, e conheceu a ordem antidemocrática e antissemita "Der Jungdeutsche". Com a ascensão nacional-socialista, voltou à América em 1934 para fazer propaganda partidária do regime nazista nas colônias alemãs, entre elas, Rolândia. 
Outro evento em que o pavilhão nazista foi ostentado durante a inauguração da escola alemã em Rolândia. Os refugiados judeus se sentiram incomodados com a exposição do pavilhão nazista e não se interessaram em colocar seus filhos na instituição. "A população que era perseguida, os refugiados, pouco vinha para a cidade, enquanto os que eram simpáticos ao nazismo permaneciam no centro do município", aponta Soares. Segundo o professor, os próprios judeus deram aulas para seus filhos ou contrataram professores. "Por isso, os confrontos entre os dois grupos são difíceis de serem localizados em Rolândia." (Leia mais sobre o assunto na página 2).  Vítor Ogawa - Reportagem Local


‘Era a bandeira de um partido político’



Rolândia - Segundo o engenheiro agrônomo Klaus Nixdorf, cuja família não tem parentesco com August Nixdorf, os pavilhões com a cruz suástica eram expostos naquela época como hoje as bandeiras de partidos são expostas em alguns eventos pelo País. "Era uma bandeira de um partido político. Meu pai (Oswald Nixdorf) foi diretor da colonização e era agente consular da Alemanha. Por esse motivo era obrigado a participar do partido, só que ele nunca praticou o nazismo. Quem praticou isso, foi o August Nixdorf, que foi o chefe do partido nazista na região. Só que ao estourar a guerra, ele foi preso e disse que não era ele o chefe do partido, mas o meu pai. Por esse motivo ele foi preso e teve as terras confiscadas", revela. 

Klaus afirma que até hoje não existem provas de que seu pai era nazista. "O pai teve de entrar com um processo judicial para reaver suas terras. Demorou dez anos para que ele pudesse reavê-las", revela. Nesse intervalo, relata que a mãe dele foi desalojada sem nenhum dinheiro e teve de vir a Londrina para procurar famílias que pudessem criar os seus filhos. 
Klaus aponta que se o seu pai fosse nazista praticante, não deixaria nunca entrar 80 famílias judaicas na colônia. "Foi o contrário. Recebeu todas elas de braços abertos e inclusive se hospedaram na casa dele ao chegar a Rolândia", diz. Segundo Klaus, ninguém era nazista em Rolândia. "Eu não posso lhe dizer quantos membros o partido tinha aqui, porque se faz muito mais barulho do que era na realidade. Aqui era mata virgem e era impossível fazer um trabalho grande como poderia ser feito nas grandes cidades. O August Nixdorf não teve tempo de fazer nada. Ele foi preso em Curitiba antes de realizar qualquer atividade nazista", garante. 
Segundo o jornal A Notícia, de Joinville (SC), em nome da segurança nacional, suspeitos de apoiar os países do Eixo foram detidos no Estado em 1943. Entre eles estava August Nixdorf, que foi preso na cidade de Porto União. Klaus diz que não chegou a ter contato com August. "Eu tinha 9 anos, e numa dessas festas devo ter conhecido ele, mas não me lembro dele. Muitos anos atrás me ligou, da Alemanha, uma senhora, provavelmente esposa dele, que gostaria de saber onde ele foi parar. Não pudemos informar", revela. 
Depois veio uma informação de que ele estava em Joinville (SC) e morreu por lá. "Estive em uma viagem do grupo germânico e pedi a um advogado para que buscasse onde ele estava enterrado para provar que ele não era irmão de meu pai." Segundo Klaus, os "documentos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) indicavam isso, mas era uma mentira inventada por August". "Ao ter as terras confiscadas, meu pai perdeu os melhores anos do café e recebeu a propriedade totalmente arrasada", lamenta. 
Além de Rolândia, o professor Marco Soares revela que um filme da década de 30 do século passado mostra imagens de muros pintados com a cruz suástica em Cambé. "Nós temos um filme feito em Cambé no final dos anos 30 onde há a suástica pintada em algumas propriedades, em alguns edifícios no centro da cidade, no comércio. Mas não temos nenhuma informação sobre isso. O filme é mudo. Mas se tem a suástica, ou tem nazistas ou quem eles assombram, ou seja, gente demonstrando a ideologia nazista ou alguém sabendo que aquilo pode amedrontar os outros", observa.(V.O.)

História Esquecida - Judeus sepultados no São Rafael

Cemitério na área rural de Rolândia abriga também túmulos de católicos e luteranos de origem alemã

Gina Mardones
A maioria das lápides de judeus tem estampada a Estrela de Davi, símbolo do Judaismo


Rolândia - Muitas famílias de origem hebraico-alemãs estão sepultadas no Cemitério São Rafael, mas a maioria é de origem católica e luterana. Existem também outras etnias que ajudaram a colonizar Rolândia, como suíços e eslavos. A maioria das lápides de judeus tem estampada a Estrela de Davi, símbolo do Judaismo, mas há algumas famílias de origem judaica que preferiram apenas colocar o nome dos mortos. 

Na dissertação de mestrado "Entre dois mundos", de Marcos Ursi Corrêa de Castilho, na Universidade Estadual de Londrina (UEL), o autor menciona o depoimento de Pedro Bernardy, um descendente de alemães cuja família chegou a Rolândia em 1935. De acordo com o depoimento de Bernardy e reproduzido por Castilho, o início da colonização de Rolândia se deu pela Estrada São Rafael. O Cemitério São Rafael, que fica na região, possui 14 quadras com 379 terrenos. 
Segundo Bernardy, as quadras do lado esquerdo eram reservadas para a religião luterana, as da direita para os católicos e as do fundo, dos dois lados, para os de outras religiões, basicamente os judeus. 
A reportagem tentou conversar com alguns dos descendentes de alemães que vivem em Rolândia, mas como já estão na terceira ou quarta geração, poucos sabem da história do período da Segunda Guerra Mundial ou preferem se abster de fazer qualquer comentário. 
O Cemitério São Rafael possui um cenário bastante bucólico e fica próximo da capela de mesmo nome construída em 1958 e que possui uma torre revestida de pedras. A necrópole conta com belas árvores e é extremamente bem cuidada, com muitas flores sobre os túmulos, como se fosse um jardim. No local estão os túmulos de Erich Koch-Weser, ex-ministro alemão, e de Max Herman Maier, advogado de Frankfurt que se tornou "cafeeiro na mata do Brasil". De origem judaica e conselheiro na associação assistente dos judeus na Alemanha, ele deu apoio a outros judeus que pretendiam sair da Alemanha e tornou-se, ao lado de Erich Koch-Weser, guardião de toda a cultura intelectual e da tradição clássica da Alemanha, combatendo a ideologia nazista e apoiando, de maneira ativa, os movimentos antinazistas e antifascistas no Brasil. Seu escritório na Alemanha serviu de fachada para articular vistos e documentos para aqueles que desejassem sair do país. 
Em entrevista à historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, a esposa de Max Herman Maier, Mathilde, revelou que para vir ao Brasil teve de subornar o cônsul do Brasil na Alemanha. Muitos dos judeus que estavam no mesmo navio tinham passado por campos de concentração, estavam com cabeças raspadas e tinham estampados em seus passaportes a letra J em vermelho, que identificava os judeus. 
Para Klaus Nixdorf, uma das provas de que seu pai não era nazista foi o fato de que foi sepultado no Cemitério São Rafael ao lado de muitos judeus. "Mais uma prova de que os judeus se davam bem com os alemães e que estavam trabalhando debaixo de um chapéu, senão não seriam enterrados no mesmo cemitério. A amizade era muito grande. Meu pai era muito amigo dos judeus", garante.
Vítor Ogawa

Reportagem Local


Nazismo em Rolândia

Parte da História de Rolândia que Poucos Conhecem e outros tantos escondem

CAPA DO LIVRO "ABRIGO NO BRASIL" de Gudrun Fischer

Prefácio
“Uma pesquisa do IBOPE realizada em março de 2001 mostrou que 89% dos brasileiros nunca ouviram falar do Holocausto e 32% não sabem que houve um extermínio em massa de judeus pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. Os resultados do levantamento não surpreenderam. Em vista das deficiências do sistema educacional no Brasil, o nível de conhecimento de grande parte da população é muito baixo. Se a maioria dos brasileiros desconhece sua própria história, não é de estranhar que haja ignorância em relação ao que aconteceu na Europa sob o regime nazista…” (Henry I. Sobel).
O livro
A escritora alemã Gudrun Fischer transcreve em seu livro “Abrigo no Brasil” relatos surpreendentes de mulheres judias alemãs que fugiram da Alemanha nazista e vieram para Rolândia. Mas mesmo longe da loucura do Führer*(Hitler), o medo continuou presente em suas vidas. Suas lembranças são comoventes e dolorosas, estimulantes e informativas. Cada uma elabora a fuga de forma diversa, o que se reflete na variedade dos relatos: ora irônicos, ora secos, alguns sintéticos, outros minuciosos e detalhados.
Para que os leitores e leitoras passam conhecer um pouquinho mais sobre o assunto, transcrevo abaixo fragmentos do citado livro, pois não podemos ignorar o passado, sob pena de vagar cegos no futuro.
Fuga em massa
“Algumas fontes informam que cerca de 10 mil fugitivos alemães judeus se instalaram no Brasil durante o período nazista (…).Fischer, Gudrun. Abrigo no Brasil. São Paulo,2005.P.154.
“(…) Ao todo, cerca de 155 mil alemães emigraram para o Brasil; deles, 90 mil chegaram antes da Primeira Guerra Mundial. Em 1937, havia cerca de 1 milhão de alemães ou descendentes de alemães no país (dados de Emílio Willens, citado por Ethel Kosminsky, 1985) (…)”.Fischer, Gudrun. Abrigo no Brasil. São Paulo,2005.P.149.
Nazismo em Rolândia
“A maioria dos descendentes alemães simpatizantes do nazismo em Rolândia, tinha vindo dos outros estados do Sul, para o Norte do Paraná. Mas alguns nazistas emigraram da Alemanha para Rolândia, entre os anos de 1930 e 1950(…)”.
“Havia pessoas influentes em Rolândia que eram comprovadamente nazistas (…)”. Fischer, Gudrun. Abrigo no Brasil. São Paulo,2005.P.162.
Proibido falar alemão
“A partir de 1942, não era mais permitido falar alemão em público no Brasil, e escolas alemãs foram fechadas. Essa lei também valia para os judeus. Em Rolândia, alguns judeus ficaram presos por alguns dias por falar alemão nas ruas. E quem fosse viajar precisava trazer consigo um salvo conduto.” Fischer, Gudrun. Abrigo no Brasil. São Paulo,2005.P.164.
Frases das entrevistadas
“Todos os dias, na escola, (na Alemanha) nós tínhamos que dizer `Heil Hitler` e `Hitler é o nosso Deus”. (Ruth Kaphan)
“Quando descemos do navio, eu disse a mim mesma: “quero apagar tudo que marcou a minha vida por 18 anos”. (Susanne Behrend)
“Sempre serei grata ao Brasil” (Brigitte wendel)

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