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sábado, 13 de fevereiro de 2021

FARINA: COMO FOI MINHA CARREIRA DE ADVOGADO

Pelo que pesquisei, o advogado mais culto de todos os tempos de Rolândia, foi o Dr. Albanir Manfredini ( décadas de 50 a 70).

Nesta época tivemos também David Schnaid, Rubens Neves, Moretti, Mauricio Leite, Vitório Constantino. Todos também cultos e competentes. Nesta época o juiz era o Aurélio Feijó. Ouvi falar que era gente boa. O saudoso dr. Moretti me contou uma vez que chamou o Dr. Aurélio para ir de companhia em uma viagem pelo interior. Estradas de terra. Tinha chovido e o jipe encalhou. Adivinhem quem empurrou o jipe e se enlameou todo?? isto mesmo o dr. Aurélio.

De 70 a 2000 lembro-me de José Roberto Beffa, Otto, Pacheco, Pesenti, Osvaldo Costa, Ticão, Utiyama, Mauricio Schnaid, Elcidio, Luiz Oliveira, Else Rausch, Pinceli, Nelci, Mara, Nelci, Sonia lachner, Mauro Conte., Moacir kretschmar, Paulo costa, Arno giesen. Após a aposentadoria (como Promotores), tivemos ainda Deobaldo, Luiz Sartori e João Carlos.

Sobre os advogados atuais ( 2.000 para cá) deixo para outros escreverem. É que são de uma outra época. Conheço poucos. Iria deixar (sem intenção) a maioria de fora.

Na atualidade, e desde a década de 70, José Roberto Beffa, virou lenda. Mas temos outros (as) excelentes e cultos (as) de igual quilate, que também ficaram famosos (as) e alcançaram projeção.

José Marques, é bacharel, nunca exerceu a profissão, mas tornou-se um dos maiores oradores da cidade.

Convivi com ótimos juízes ao longo de minha carreira, Posso citar, dentre outros, Alberto José Ludovico, Marcos Rogério Rocha, Renato Cruz de Oliveira Jr., João Batista de Assis, Sérgio Rodrigues,, Dr. Péricles, Sergio Alves Gomes, Gamaliel Semi Scaff, Dartanghan Serpa Sá, Cassimiro Wielivick, Miguel bompeixe, maria mercis, Ivan campos Bortoleto, dr. Hélio..

Tivemos muitos bons promotores. Dr. Hideraldo, Dra. Lucimara, dr. Sartori, Dr. Deobaldo, Dr. Naylor, Dr. Mauro Todeschini, Dr. João Carlos. Um deles virou lenda: Dr. Vercesi.

Em Londrina, Adir Sebastião Ferreira virou lenda pela sua cultura jurídica. Dava aulas para qualquer desembargador ou ministro. Ele trabalha até hoje, agora em Curitiba.
Falei com com ele pelo telefone outro dia.
É um dos melhores advogados do Brasil. O mestre respira leis, doutrinas e jurisprudências.
Descobri que temos alguma coisa em comum: gostamos de visitar e conhecer cemitérios antigos históricos... kkkk

BOAS LEMBRANÇAS:
De alguns juízes e promotores no início da minha carreira ( 1981 em diante).
Tomávamos café juntos na cantina (Fórum antigo), de manhã (era comum os advogados se reunirem de manhã para este café). Era preparado pela Nanci Batista (café forte). Na época quase todo mundo fumava. Depois do café no meio da fumaça que formava, havia tempo para um bate-papo. Quantas vezes pedi opinião sobre o modo correto de requerer alguma ação nova para mim. Havia muita solidariedade, respeito e amizade.
Um dos promotores da época, ao ser promovido, me chamou em sua casa e me presenteou com uma coleção de livros (tenho eles até hoje).
A muitos anos atrás, encontrei na Comarca de Tibagi, um juiz que passou por aqui. Fui de manhã ao Fórum antes da audiência para examinar o processo. O referido juiz ao me ver ficou feliz e me convidou (e pagou) um almoço na churrascaria da cidade. Hoje este juiz é desembargador do Tribunal de Justiça.

MÁS RECORDAÇÕES:
Infelizmente na profissão de advogado temos que matar um leão por dia. O ruim da profissão é debater com uns poucos juízes e promotores arrogantes. Apesar de termos no judiciário do Paraná 90% de bons juízes e promotores, tive o dissabor de enfrentar alguns péssimos juízes e promotores. Muitos partiram para o lado pessoal, e passavam a ser contra tudo o que requeríamos. Mas acima deles tem Deus e o Tribunal para reformar decisões erradas e dar a cada um o que é seu.
Uma vez fui contratado para patrocinar uma causa criminal (acho que foi perto de Bela Vista do Paraiso). O meu cliente estava preso. Quando fui protocolar um pedido de Liberdade Provisória, fui recebido por um senhor junto ao balcão do cartório. Ele muito indelicado perguntou o que eu queria. Quando disse, pegou a petição, deu uma olhada, jogou em cima do balcão e falou: - não perca tempo doutor. O teu cliente vai apodrecer na cadeia. Só aí ele disse que era o juiz da cidade. Parecia mais um xerife daqueles cidadezinhas do velho oeste. Para resumir: Consegui no Tribunal a liberdade do cliente. Este juiz morreu e não sei se foi para o Céu. Ainda bem que são poucos assim deste naipe.
Outra parte ruim é que no tempo dos Cartórios privados, alguns cartorários queriam mandar mais que o juiz. Isto me deixava muito bravo. Tive que representar muitas vezes contra alguns.
No passado (anos 50) um advogado chegou a atirar de revólver em um deles por não dar andamento regular nos processos de seu escritório.
Hoje, graças a Deus, restaram quase nada desta classe. Com a estatização dos cartórios a advocacia melhorou 99%. Hoje os cartórios prestam o mesmo atendimento a todos os advogados, sem discriminação ou privilégios.

FATOS ENGRAÇADOS
Eu tinha (e tenho) a mania de deixar para cumprir os meus compromissos sempre na última hora. E assim, o saudoso Dr. Godinho, me apelidou de 15 para 5. É que eu chegava sempre faltando 15 minutos para fechar o Fórum. Como ele era muito gozador, inventou um regulamento: o advogado que aparecesse 15 para 5 para protocolar petição teria que pagar a cerveja. Conclusão: depois de pagar forçado algumas cervejas comecei a chegar 20 para 5.
Um dia em uma audiência criminal presidido pelo Dr. Alberto Ludovico, fiz um monte de perguntas para uma testemunha. A testemunha estava indo muito bem e o meu cliente praticamente estava sendo absolvido, até que fiz a última pergunta, desnecessária. Aí a testemunha inexplicavelmente mudou tudo e condenou o réu. O Dr. Godinho que estava presente, riu bastante, e se encarregou de contar para todos os advogados da comarca. Dali pra frente sempre que um advogado começasse a fazer muitas perguntas desnecessárias, alguém falava: Farinou.
Um dos oficiais de justiça um dia perdeu dezenas de mandados. Ao informar o juiz Dr. Bompeixe, escreveu que foi fazer necessidades fisiológicas no mato e foi surpreendido com um vento leste que levou os mandados. O juiz ao despachar na Sindicância, concluiu: - "recomendo ao meirinho que doravante, se for fazer de novo suas necessidades no mato, que amarre os mandados com barbante, para não ser surpreendido com os ventos".
Um advogado homossexual famoso de Londrina entrou no gabinete do juiz B..... e sentando no sofá, esparramou o corpo pelo mesmo e exclamou:- O senhor que é o juiz cheio de trique-trique ?... o juiz B.. respondeu de inopino: sim.. mas não dou o ..... (não sei como terminou o episódio)
Este mesmo juiz B... um dia despachou assim: "detesto processos que andam pelas gavetas, igual almas penadas, a espera do milagre da salvação".
Uma vez deixei o juiz Alberto Ludovico bravo com uma intervenção pela ordem. Depois que ele falou bastante e não querendo magoá-lo mais, respondi: - Não sei porque o senhor ficou bravo. Sou o seu maior fã".. Aí foi só risos na sala. Mas é verdade. Admiro muito o Dr. Alberto, que conheci ainda nos tempos da faculdade em Londrina, década de 70.
Um fato que não sei se é alegre ou triste: Participei de muitas audiências em que o juiz, o promotor e os dois advogados das partes estavam fumando ao mesmo tempo. E junto ali as partes e a testemunha engolindo aquela fumaça toda. kkkk
Cada juiz tinha uma mania. Um gostava de pescar, outro de jogar bola. O Dr. João Batista de Assis, de saudosa memória, gostava de óperas. Um dia ele me convidou para assistir uma ópera no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Tive que recusar o convite, por causa dos custos. Imaginem o valor do ingresso? nem perguntei. Disse que tinha um outro compromisso. Ele foi um grande e culto juiz. Um bom amigo também.
O promotor Vercesi foi o campeão das polêmicas. Um dia ele prendeu sozinho um jovem que estava fumando maconha na praça da igreja. Em outra oportunidade brigou com um homem que furou a fila no Banco Itaú. Em outra oportunidade expulsou um advogado que estava falando com o juiz durante um julgamento do Tribunal do Júri. Ele se envolveu em várias polêmicas e conseguiu alguns inimigos velados. Como ele gostava de jogar futebol, estes adversários quando podiam davam um jeito de butinar ele durante os jogos. Quantas brigas....os jogos acabavam sempre antes do tempo regulamentar. E adivinhem por culpa de quem??
O dr. Godinho passava horas ali no átrio do Fórum (quando podia) só para observar os acontecimentos. Não lhe escapava nada . Ficava sabendo de tudo. Ele sabia tudo o que acontecia na cidade. O saudoso Osvanir Salles sempre o visitava para contar as últimas notícias.

FATOS TRISTES
Uma vez um juiz, hoje aposentado, expulsou aos berros um senhor de idade, roceiro, só porque estava no corredor do Fórum com roupas sujas, de botas e de chapéu.
Um outro juiz, também aposentado, pediu para que o advogado levasse o seu cliente para fora da sala de audiência para que se recompusesse. O advogado não entendeu e perguntou: - mas recompor o que? ele aos gritos histéricos: olhe doutor... ele está com os botões da camisa aberta em cima. Isto é um desrespeito a este Juízo!. O advogado chacoalhou a cabeça e para não brigar e arrumar um inimigo de graça acabou levando o cliente para fora por alguns segundos para que abotoasse três botões que estavam soltos. Eita... não sei se este juiz está vivo e se foi para o Céu.
Em outra oportunidade um cliente meu, que tinha ocupado cargo público, foi convocado por um promotor, hoje falecido, para esclarecer detalhes sobre procedimento com compras de medicamentos. Acompanhei o cliente na audiência. Ao entrar o promotor exclamou: - Você vai acompanhar Farina? respondi: - não posso? - Sim pode, mas não vá me f.... (utilizou um palavrão). retruquei:- Se não houver necessidade, não atrapalharei.
Não demorou muito, na hora da transcrição para o termo, já notei algo errado. Levantei questão de ordem. Ele, com olhos de fogo, esbravejou: - C... (palavrão) o que foi agora Farina? respondi: - o meu cliente não falou isso. O promotor querendo prevalecer a sua truculência que lhe era peculiar perguntou diretamente para o depoente. Você não falou assim fulano? ele respondeu: não. eu disse outra coisa. E explicou como dissera.
O promotor que devia ter algum problema de ordem psiquiátrica ordenou ao funcionário que estava digitando: - fulano, apaga esta b.... (palavrão). Os gritos eram ouvidos por quem estava fora da sala.
Mas não parou por aqui. Em outra oportunidade mandou a vigilância sanitária fiscalizar as condições de habitação das casas que eu e minha família temos para locação.
Na minha defesa expliquei ao juiz que estava evidente que o referido promotor estava se vingando de algumas vitórias que obtive contra atitudes erradas dele em outros processos.
O Juiz é claro, mandou o promotor explicar que a lei deve ser aplicada a todos, e não somente contra a família Farina. Não conseguiu explicar é claro porque só os imóveis da família Farina deveriam ser inspecionados. O processo nulo foi arquivado.
Infelizmente convivi com profissionais deste naipe. Mas, felizmente de lá para cá melhorou 100%. Esta coisas não acontecem mais. Ficou lá no passado. No tempo em que existiam muitas pessoas rudes. Hoje estou aposentado, longe das lides e pendengas judiciais. Os advogados mais jovens poderiam comentar como é a vida de um advogado (a) do século XXI.

A ADVOCACIA É UMA DAS MAIS BELAS E DIFICIEIS PROFISSÃO DO MUNDO. É UMA LUTA SEM TRÉGUAS.

JOSÉ CARLOS FARINA ( ADVOGADO APOSENTADO )

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