Rolândia – Duas mortes, investigadas como possíveis casos de negligência e omissão de socorro, na única unidade de urgência e emergência de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina) deixaram evidentes um conflito na gestão da saúde pública do município. A prefeitura está insatisfeita com a qualidade no atendimento do Hospital São Rafael, administrado por uma associação beneficente ligada à Igreja Católica, e tenta articular um gestão compartilhada da unidade, que só em 2012 recebeu cerca de R$ 11 milhões de subvenções municipais.
Enquanto isso, a administração municipal recebe duras críticas da direção do hospital e do Conselho Municipal de Saúde, que na semana passada rejeitou as contas do primeiro quadrimestre por falta de documentação.
O diretor administrativo da Associação Beneficente São Rafael, Marisbel Mungo, disse que os recursos repassados para a entidade são consumidos quase que na totalidade para os custos da mão de obra do setor de saúde da prefeitura, que segundo ele extrapolaria os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal com gastos com pessoal, não fosse o artifício da terceirização. Pelo convênio, a associação fica responsável pela folha de pagamento do Programa Saúde da Família, dos serviços de urgência e emergência, além dos gastos com plantonistas em postos de saúde. "Não sobra quase nada para o resto", garante. Ele disse que a associação não tem "nenhum interesse" em renovar o convênio, que vigora até novembro deste ano.
Marisbel também acusa a prefeitura de deixar os postos de saúde sem médico, o que estaria sobrecarregando o pronto-socorro do São Rafael. O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Jessé Fernandes, também confirma a situação. "No final de semana do feriado de Corpus Christi, a grande maioria dos postos ficou fechada por quatro dias. E os que funcionaram não dispunham de médicos", afirmou o conselheiro.
A Secretaria Municipal de Saúde vive uma fase de transição. Luiz Francisconi Neto pediu demissão esta semana alegando motivos pessoais. A enfermeira Giseli de Freitas assumiu o posto interinamente. Segundo fontes ligadas ao prefeito Johnny Lemann (PTB), o cargo deve ser ocupado em definitivo por um nome indicado pelo DEM, partido que compõe a coalização que governa o município.
Giseli disse que tentará uma aproximação com a direção do hospital para melhorar o atendimento no pronto-socorro. Ela admitiu que algumas escalas "ficaram descobertas" em alguns postos e que estão sendo estudadas medidas para resolver o problema. Não está descartada a contratação de fornecedora de mão de obra na área médica.
Hoje, no final da tarde, será realizada uma reunião de membros do Conselho Municipal de Saúde com a promotora Lucimara Salles Ferro para discutir os gastos na área de saúde. Jessé Fernandes acusa o atual prefeito de dificultar o acesso à documentação contábil do setor de saúde. "Não há transparência", acusou.