FOLHA DE LONDRINA
Multas na planta da JBS podem ultrapassar os R$ 50 milhões
Representantes de força-tarefa confirmaram 75 autos de infração contra a empresa
Heiler Natali, procurador do
trabalho do MPT, disse que o que foi encontrado na planta da Big Frango
comprovou a necessidade da força-tarefa
Condições de trabalho
degradantes, maquinários perigosos, frio intenso, falta de equipamentos
de proteção individual (EPIs), jornada de trabalho de até 18 horas
diárias, colaboradores doentes e sem condições físicas para trabalhar.
Este foi o cenário encontrado na Big Frango, unidade da JBS em Rolândia,
durante toda a semana, através de uma inédita força-tarefa envolvendo
30 pessoas, sendo elas representantes do Ministério Público do Trabalho
(MPT), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), INSS, Receita Federal e
Advocacia Geral da União (AGU). Ontem, em entrevista coletiva, os
representantes dessas entidades deram uma prévia dos números finais e
confirmaram 75 autos de infração contra a empresa, que podem gerar
multas que ultrapassam R$ 50 milhões.
Os dados divulgados pela força-tarefa, batizada de "Uma Grande
Escolha" - em alusão a um antigo slogan da Big Frango –, são
assustadores. Dos 4.100 colaboradores da empresa, 2.738 foram demitidos
no último ano, o que aponta uma rotatividade de 66% da equipe. Do total
dos processos ajuizados na Vara de Trabalho de Rolândia, 27% são
referentes à Big Frango.
No que diz respeito ao processo de adoecimento dos
colaboradores, a força-tarefa mais uma vez mostrou-se necessária. No
último ano, foram 10.600 consultas clínicas realizadas, e mais 2 mil
consultas ocupacionais. Os atendimentos de enfermagem atingiram o número
de 70.279. "Constatamos nos últimos dois meses mais de 5.400 registros
de excessos de jornada, em atividades insalubres, com alto risco de
adoecimento, variando de 10 a 18 horas por dia. Podemos remeter
inclusive aos tempos da Revolução Industrial, em que as pessoas eram
submetidas a jornadas extremamente longas de trabalho e sem descanso",
salientou o auditor fiscal do trabalho do MTE, Rodrigo Caldas. Tal
situação, lembrou Caldas, "não causa danos apenas para os colaboradores,
mas para a sociedade em geral, onerando o Sistema Único de Saúde (SUS) e
o INSS".
Interdição
Durante a semana, 51 máquinas foram interditadas na planta em
Rolândia. Após ajustes imediatos da empresa, 16 voltaram a operar, 3
foram eliminadas completamente e 32 permanecem paradas, principalmente
embaladoras. Quatro setores inteiros chegaram a ser paralisados. Na
próxima semana, parte da equipe da força-tarefa deve voltar ao local
para fazer uma nova averiguação.
Para o procurador do trabalho do MPT, Heiler Natali, o que foi
encontrado na planta da Big Frango comprovou a necessidade da
força-tarefa da forma que foi executada. "Os dados do nosso serviço de
inteligência recomendavam a necessidade do averiguação do ambiente de
trabalho do frigorífico. Ainda que tivéssemos um levantamento preliminar
antes de ingressar na planta, você conceber que uma única empresa
afastou mais de 1.000 mil pessoas por mais de 15 dias nos últimos cinco
anos é assustador. Não imaginávamos que iríamos encontrar um ambiente de
trabalho tão permeado de riscos, das mais diversas naturezas, e de
nível de intensidade tão elevados", ressaltou Natali.
E o trabalho deve ser frequente a partir de agora. O
procurador-chefe da Procuradoria Federal no Estado do Paraná (PF/PR) da
AGU, Miguel Cabrera Kauam, disse que deve acontecer mais ações desse
porte daqui para frente. "Nos próximos dois anos, nossa ideia é realizar
este trabalho em mais 16 ou 17 estabelecimentos", complementou.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da JBS ontem durante a tarde, mas não teve retorno.
Victor Lopes - Reportagem Local