Casagrande, comentarista da Globo, durante entrevista ao "Fantástico" deste domingo (Reprodução)
Durante entrevista ao programa "Fantástico" exibida neste domingo, o ex-jogador e comentarista da Rede Globo, Walter Casagrande, falou sobre a sua virada contra o vício das drogas, assunto que tratou em sua biografia "Casagrande e seus demônios", lançada nesta semana.
"Hoje, eu tô legal. Minha vida mudou muito. Consigo viver bem sozinho. Antes, eu não suportava o meu jeito, então saía muito, eu tava muito na rua, eu até usava droga para dar uma congelada no meu emocional, para eu me suportar e tal. Eu quero viver como eu vivo hoje. Só não quero continuar sendo escravo da droga", declarou o ex-jogador, que também mostrou gratidão à Globo.
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"Meu suporte atrás foi o meu trabalho. Tive apoio dos lados da minha família, meus pais de um lado e meus filhos do outro, os amigos, mas as minhas costas tavam apoiadas na TV Globo."
Sobre o que sentia enquanto usuário, Casão disse que por ter sido atleta de ponta, treinando muito e com ótima resistência física, sempre achava que podia ir um além: "[usava] medicamentos junto com álcool, com cocaína, com droga injetável. Fazia essas misturas constantemente", recorda.
Durante a entrevista no "Fantástico", foram exibidos alguns dos depoimentos de Casagrande ao seu livro. "Tinha visões horríveis, tudo parecia muito real. Via demônios pelo apartamento inteiro, Eram maiores do que eu, com dois ou três metros de altura. Isso durou um mês, um mês e meio. Eu entrei em surto psicótico pelo uso exagerado de drogas e privação de sono", diz uma das partes da obra.
"Eram sensações, via vultos. Olhava pro sofá e via o sofá num formato que parecia que tinha alguém sentado ali", explicou Casão.
Outro trecho forte da biografia fala de uma das overdoses de Casão num dia que estava em casa e se preparava para jantar fora com um dos filhos e usou cocaína e heroína. "Eu ia usar e não poderia sair com ele, porque era droga injetável e sairia do banheiro completamente transtornado, dizendo que não iria jantar mais ou então porque iria colocar em risco a minha vida e a vida do cara", lembrou, mostrando o quão dramático era administrar o vício com família e vida social.
"Botei tudo de uma vez, rapidamente, pois o Leonardo estava em casa e podia aparecer a qualquer momento. Houve uma explosão no meu peito. Explodiu, mesmo: bummm, e saí cerca de um metro do solo, bati contra a parede e caí no chão", conta ele, no livro, sobre essa história. "Uma das piores situações que passei do meu envolvimento com a droga foi nesse dia", admite.
Ao Fantástico, Casagrande também relembrou o dia do acidente de carro que acabou sendo decisivo para a sua internação e recuperação contra as drogas. "Eu adormeci numa descida, meu pé caiu no acelerador, acelerou e eu capotei com o carro. Quando acordei, tava no [hospital Albert] Einstein, e quando acordei a segunda vez eu tava internado numa clínica. Foi a virada da história. Aquele sábado foi o limite e alguma coisa tinha que acontecer", diz.
"Eu não aceitava estar lá [na clínica de reabilitação para dependentes em drogas], não aceitava que eu era doente. Meu pensamento era típico de dependente químico, de que amanhã eu paro, de que eu paro quando eu quiser, que se eu não quisesse, eu não usava, o que é uma bobagem, uma mentira, justificativa porque você tá dominado pela droga", acrescentou ele, na entrevista, no qual também falou sobre como se despediu do ex-companheiro de Corinthians e seleção, Sócrates, pouco antes de sua morte em dezembro de 2011. “Tive a intuição e me veio a vontade de olhar nos olhos dele e falar: 'Magrão, eu te amo, cara, você foi um dos caras mais fantásticos que eu conheci'."
"Isso é uma coisa que não é simples de falar, não é simples de ouvir, que não é simples de lembrar, porque eu gostaria de lembrar disso que tô falando, saí daqui e ir tomar uma cerveja com o Magrão e dizer: 'Magrão, eu te amo ainda', e isso eu não posso mais”, lamentou, Casagrande, no ótimo depoimento dado neste domingo.