PAULO BRIGUET- FOLHA DE LONDRINA
Vida e morte do Senhor da Mata
Há exatos 20 anos, em 22 de dezembro de 1996, morria o pioneiro londrinense Olavo Godoy. A despedida ao fazendeiro de 83 anos foi discreta e até mesmo melancólica, considerando a importância que ele teve na história da cidade. Naquela noite, poucos amigos se dirigiram ao velório de Olavo, o que contrastava com a comoção da cidade na morte de seu irmão e companheiro de lutas Álvaro Godoy, em 1979.
Em 13 de janeiro de 1996, numa manhã de sábado, estive na fazenda Santa Helena. Como repórter da Folha, fui até a propriedade para entrevistar a sra. Josyê Rose Baxhix Godoy, então casada com o sobrinho do pioneiro e administradora da propriedade. Enquanto conversava com a sra. Josyê na varanda, vi Olavo Godoy, que apareceu de relance à porta da casa, dirigindo-me um olhar triste.
A fascinante trajetória do pioneiro londrinense inspirou o promotor público Antônio Winkert Souza a escrever o livro "Olavo Godoy — A História e o Drama do Guardião da Mata", que li com grande interesse nos últimos dias. O ensaio biográfico recupera informações valiosas sobre o homem que, ao lado do irmão Álvaro, chegou a Londrina nos anos 30 e desempenhou um papel importante na história da cidade, como líder ruralista e defensor da natureza.
Chama a atenção na trajetória de Olavo Godoy o seu conceito avançado de desenvolvimento, que harmonizava os aspectos econômicos e ambientais. Ao mesmo tempo em que se destacou como importante produtor agrícola — tendo sido um dos fundadores da Sociedade Rural e ferrenho adversário dos movimentos sem-terra —, ele era um guardião implacável do nosso maior santuário ecológico, a Mata dos Godoy. Olavo era a prova viva de que a proteção da natureza e produtividade econômica podem caminhar lado a lado.
Quando menino, Olavo costumava andar com os bolsos cheios de sementes, que ia espalhando ao longo do caminho. Jamais se casou: a quem lhe perguntava os motivos, dizia que a sua esposa era a própria floresta. Floresta que ele defendia com unhas, dentes e uma carabina contra os caçadores, invasores e até o próprio Incra, que nos anos 80 sobretaxou a Mata dos Godoy por considerá-la "área improdutiva". Coisas que só existem no Brasil, tais como a jabuticaba.
Em 1989, no dia em que a Mata dos Godoy foi transformada em Parque Estadual, Olavo fez um discurso emocionado na Assembleia Legislativa do Paraná, utilizando palavras que definem sua grandeza: "Espero legar aos nossos pósteros professores, cientistas e historiadores um laboratório natural e fiel de uma floresta que nasceu com o mundo. (...) Aos pés dessas árvores companheiras da minha solidão ficará sepultada minha mocidade e meu coração, e por certo minh’alma virá vagar por elas."
O nome Olavo tem origem nórdica e significa "O Sobrevivente". Dediquemos nosso pensamento a esse lutador que hoje sobrevive na terra que amou, nas sementes que plantou e nas árvores que protegeu. Ah, como eu queria voltar no tempo, caminhar até ele e dizer:
— Obrigado, Olavo Godoy!
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por Paulo Briguet
COMENTÁRIO:
Tive o prazer de homenageá-lo aqui pela Câmara Municipal de Rolândia com o diploma "Honra ao Mérito". Quando estive na Fazenda Helena para comunicá-lo de minha homenagem andamos juntos por vários lugares da "Mata do Godoy". Junto conosco estavam meu sogro, minhas filhas e meus sobrinho Paulo Augusto e Tiago. Sempre com um facão na mão ia abrindo caminho para nós. Contemplamos algumas preciosidades da reserva, principalmente algumas perobas centenárias. Ele ia falando sem parar e explicando tudo. Demonstrava muito amor e orgulho por seu espaço. Dentre muitas histórias que nos contou esta eu não esqueço: Disse que seu pai adquiriu a área através de sesmaria. Ele e seu irmão vieram tomar posse da fazenda nos idos de 1929 ou 1930. No começo criavam porcos. Grandes manadas. Quando os porcos estavam gordos vendiam para compradores de Londrina e Jataizinho. Os porcos eram levados à pé. Ticados igual rebanho de gado. O Alvaro Godoy ia na frente, ao lado do porco líder. Os demais porcos seguiam. Olavo ia mais adiantado, a uns 300 metros à frente para espantar certas aves e animais silvestres. É que se algum bicho ou ave fizesse barulho os porcos viravam para trás e iam para lá na fazenda onde foram criados. O seu Olavo me disse na ocasião que isso aconteceu várias vezes. Às vezes tinham percorrido grandes distâncias e acabavam voltando para trás junto com a manada. Aí começa tudo de novo. Eram tempos diferencieis, - dizia ele, "mas valeu a pena.. temos muito amor por esta mata, por Londrina e pelo norte do Paraná, onde temos muitos amigos. Sinto apenas muita falta do Álvaro, que estava sempre ao meu lado e que foi o meu irmão querido e companheiro nas caminhadas". JOSÉ CARLOS FARINA
E/T.: DEPOIS DE MUITOS ANOS VOLTEI NA MATA DO GODOY ONDE PRODUZI ESTE VÍDEO. ESPERO QUE GOSTEM. ABRAÇO. FARINA.