Um acordo assinado ontem por
representantes dos governos do Brasil e da China pôs fim ao embargo do
país asiático a oito plantas de carne bovina dos estados do Mato Grosso,
São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás. A ministra da Agricultura, Kátia
Abreu, recebeu em Brasília o ministro da Administração de Inspeção de
Qualidade e Quarentena da China, Vhi Shiping, e obteve a habilitação das
plantas. A expectativa é que mais 17 sejam habilitadas no futuro.
A grande surpresa do acordo para o Paraná, entretanto, foi a
reabilitação imediata da planta da Big Frango, unidade da JBS em
Rolândia, que a partir de agora volta a exportar para o mercado chinês. A
comercialização dessa planta de aves estava suspensa desde 2012 em
função das divergências sobre o corte do produto. Agora, são oito
plantas no Estado autorizadas a exportar para os chineses. No País, as
plantas autorizadas ontem, junto com as 17 que podem ser habilitadas no
futuro, têm potencial para gerar US$ 520 milhões em negócios por ano, de
acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa).
Vale lembrar que durante toda a semana passada a unidade da JBS
em Rolândia foi alvo de uma força-tarefa envolvendo representantes do
Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), INSS, Receita Federal e Advocacia Geral da União (AGU), que
fiscalizaram as condições de trabalho no local. Após a averiguação, a
empresa recebeu 75 autos de infração, que podem gerar multas que
ultrapassam R$ 50 milhões.
Na planta foi encontrado um cenário degradante de trabalho:
maquinários em situação perigosa, frio e ruídos intensos, falta de
equipamentos de proteção individual (EPIs) e jornadas de trabalho que
chegavam a 18 horas diárias. Muitos colaboradores se queixavam das
condições físicas em que permaneciam, sendo que em um ano os
atendimentos de enfermagem atingiram o número de 70.279.
A equipe do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) continua a
vistoria esta semana na planta de Rolândia para analisar se houve
melhoria nas condições de trabalho. De acordo com o auditor da entidade,
Rodrigo Caldas, na segunda-feira a JBS protocolou um pedido da
suspensão de interdição de algumas máquinas que estavam paradas pois
traziam perigos à segurança dos colaboradores. "Na maioria delas, eles
instalaram sistemas de segurança e, aquelas que foram eliminadas, já
foram substituídas por novas. Agora eles estão cumprindo a Norma
Regulamentadora (NR-12), que trás o princípio da "falha segura". Das 51
máquinas, 36 estão regularizadas até o momento", explica Caldas.
Outras atividades que foram regularizadas dizem respeito ao
carregamento total de produtos por colaborador, que girava entre 20 e 30
toneladas por dia e agora está abaixo de 10 toneladas. Situações de
ergonomia mais críticas também foram sanadas. "Vale ressaltar que muitas
irregularidades persistem. A empresa sanou aquelas mais críticas, que
geraram os autos de infração, mas ainda há questões complexas, como a
diminuição dos ruídos e repetividade na linha de produção", complementa o
auditor.
A FOLHA entrou em contato com a JBS para saber o que mudou após a
força-tarefa e o impacto produtivo na planta de Rolândia após o anúncio
da retomada das vendas para o mercado chinês, mas não obteve resposta
até o fechamento desta edição.