Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que leva seu sobrenome, detalhou em depoimentos aos investigadores da Lava Jato que a empresa fez repasses de dinheiro vivo destinados ao ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A informação foi revelada com exclusividade por ISTOÉ, em reportagem de capa da edição de 11 de novembro.
O herdeiro da companhia fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República e está prestando depoimentos a três procuradores da Força Tarefa da Lava Jato desde a semana passada, na superintendência da Polícia Federal de Curitiba, onde está preso há um ano e seis meses.
O ex-executivo e hoje presidiário diz ter destinado a Lula dinheiro em espécie. Os repasses foram efetuados, em sua maioria, quando Lula não mais ocupava o Palácio do Planalto. O maior fluxo ocorreu entre 2012 e 2013. Foram milhões de reais originários do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – o já conhecido departamento da propina da empresa. Segundo já revelado pela Polícia Federal, aproximadamente R$ 8 milhões foram transferidos ao petista. Conforme apurou ISTOÉ junto a fontes que tiveram acesso à delação, o dinheiro repassado a Lula em espécie derivou desse montante.
Os pagamentos em dinheiro vivo fazem parte do que investigadores costumam classificar de “método clássico” da prática corrupta. Em geral, é uma maneira de evitar registros de entrada, para quem recebe, e de saída, para quem paga, de dinheiro ilegal. E Lula, como se nota, nunca se recusou a participar dessas operações nada ortodoxas. O depoimento é a prova de que, sim, o petista não só esteve presente durante as negociatas envolvendo dinheiro sujo como aceitou receber em espécie, talvez acreditando piamente na impunidade. Se os repasses representavam meras contrapartidas a “palestras”, como a defesa do ex-presidente costuma repetir como ladainha em procissão, e se havia lastro e sustentação legal, por que os pagamentos em dinheiro vivo?
Investigadores da Lava Jato estão apurando se os repasses em dinheiro vivo ao ex-presidente guardam conexão com a operação Dragão, onde foram presos os operadores Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran, cujo papel era justamente oferecer dinheiro em espécie para o sistema de corrupção. Pelo esquema, as empreiteiras contratavam serviços jamais prestados, efetuavam o pagamento a Duran e, ato contínuo, recebiam o dinheiro para pagar agentes públicos.
A trama só foi desbaratado graças à colaboração de um delator da Odebrecht: Vinícius Veiga Borin. Ele contou à PF e procuradores como funcionava a engrenagem da lavagem de dinheiro criada pelas empreiteiras: as contas no exterior sob a batuta de Marcos Grillo, outro executivo da Odebrecht, alimentavam o Departamento de Propina da empreiteira. Quando havia necessidade de entregar valores em espécie no Brasil, eles recorriam a offshores, controladas por Duran. A Lava Jato suspeita que o dinheiro repassado a Lula possa ter integrado esse esquema.
Além de Marcelo Odebrecht, no corpo da delação da empreiteira Lula é citado por Emílio Odebrecht e Alexandrino Alencar.
Agora, Marcelo segue seus depoimentos detalhando os esquemas de corrupção que irrigou contas e campanhas eleitorais de centenas de políticos brasileiros. Desta bombástica confissão, muitas cabeças coroadas vão rolar.