Presos da unidade 2 da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL II), localizada na zona sul da cidade, iniciaram uma rebelião por volta das 10h30 desta terça-feira (6). A mobilização começou na galeria 21, quando um agente abria a cela para guardar um preso que recebia atendimento médico.
Pelo menos cinco presos são feitos reféns. Ainda não há confirmação de identidade, apenas que nenhum deles é agente penitenciário. Os reféns seriam presos de facções inimigas, e foram amarrados e agredidos pelos rebelados.
Dois presos que pularam o muro da PEL II sofreram fratura nas pernas e foram atendidos pelo Siate. Segundo a Polícia Militar, eles relataram que fugiram com medo de morrer.
Viviane Costa/Grupo Folha
Preso é mantido como refém durante rebelião na PEL II
Segundo o grupo Restaurando Londrina, que atua na implantação da Justiça Restaurativa em unidades prisionais da cidade, os detentos já vinham se queixando de racionamento de água e alimentação. Na última semana, um interno alertou para o risco de rebelião.
"Como trabalhamos para garantir os direitos básicos da comunidade carcerária, recebemos, indiretamente, muitas reclamações dos presos. Ficamos sabendo dos racionamentos e das possíveis consequências. Repassamos estas informações às autoridades [a Vara de Execuções Penais (VEP) e a própria diretoria da PEL II]. Diante dessa insatisfação, era previsível uma crise como a que está acontecendo hoje, mas não sabíamos quando iria acontecer", afirma o professor de Direito João Ricardo Anastásio Silva, docente da Unifil e um dos coordenadores do grupo.
Depoimentos de aproximadamente 20 familiares, colhidos pelo Restaurando Londrina, confirmam a situação caótica vivida dentro da PEL 2. Segundo os parentes dos internos, desde junho - quando o agente penitenciário Kevin de Souza, de 21 anos, foi morto em frente à sua casa, em Cambé - os presos têm enfrentando restrições no fornecimento de água, comida e tratamentos médicos.
"De acordo com os familiares, nestes últimos meses os internos têm tido acesso à água apenas das 9h às 17h, mesmo com o intenso calor. Há também casos de detentos com tuberculose que não são atendidos e denúncias de que alguns agentes deixam a comida estragar ou ficar passada antes de entregá-la aos internos", afirma o estudante de Direito Leonardo Martins, um dos membros do grupo.
Kevin de Souza foi morto a tiros na noite de 15 de junho, na rua Mateus Lemes, no Jardim Silvino, em Cambé. Sua morte teria sido comemorada por alguns presos da PEL 2, onde o agente trabalhava. Durante as investigações, a Polícia Civil chegou a informar que a ordem para a execução de Souza teria partido do Primeiro Comando da Capital (PCC). Um pano branco com o nome da facção criminosa foi exibido por um detento, no telhado da PEL 2, durante a rebelião desta terça (6).
Tanto o suposto mandante, Willian Pereira Soares, de 27, quanto o suspeito de ter sido o executor do crime, Guilherme Bertha Alves Miranda, de 19, foram presos pela Polícia Civil.
Negociações
O Comando da Polícia Militar de Londrina foi deslocado para o local para avaliar a situação e abrir as negociações. O Pelotão de Choque chegou por volta das 12h40. No primeiro contato, os presos pediram água e o restabelecimento da energia, que foi cortada.
O vereador José Roque Neto, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Londrina, entrou na penitenciária e repassou a informação de que não há feridos. Neto conversou com Luiz Alberto Cartaxo Moura, diretor geral do Depen, que previu um prazo mínimo de 48 horas para que acabe a rebelião.
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB em Londrina, Paulo Magno, também compareceu ao local para averiguar a situação dos detentos. Em entrevista à Paiquerê AM, por volta das 17h40, ele afirmou que o clima seguia tranquilo. "Os presos estão no telhado, fazendo barulho, mas não atacam ninguém".
As negociações, segundo ele, seguem paradas devido à indefinição da pauta de reivindicações. "Não existe um acordo entre os rebelados. Como não houve avanços, iremos para casa, mas voltaremos a qualquer momento assim que os presos solicitarem a presença de membros da Comissão", completou.
Por volta das 16h40, um pequeno grupo de presos tentou fugir pelos fundos da unidade, mas foi impedido pela Polícia Militar, que usou balas de borracha para contenção.
Com capacidade para 960 presos, a PEL II recebe atualmente 1.250 detentos.
Incêndio
Por volta das 18h50, um densa fumaça preta tomou conta de uma das alas do presídio. Um caminhão do Corpo de Bombeiros foi até o local para realizar a contenção das chamas. A Polícia Militar e Diretoria da PEL II não informaram sobre como o incêndio teria começado, bem como qual área teria sido atingida. A princípio, não há registro de feridos.
Mais tarde, por volta das 19h35, um novo foco de incêndio pôde ser percebido em área próxima à anteriormente atingida. Barulhos de tiros, possivelmente de balas de borracha, foram ouvidos do lado de fora da unidade prisional.
(com informações dos repórteres Viviani Costa, Celso Feilzardo e Auber Silva, do grupo Folha)