Foto: Fernando Damas
Carlos Roberto “Ratinho” Massa é um desses personagens emblemáticos que surgem de tempos em tempos no cenário nacional. Aos 57 anos, consolidado como um dos artistas mais ricos do país, Ratinho é protagonista por onde passa e sua história de vida virou inspiração para muita gente que almeja o sucesso.
“Sempre quis ser radialista e ser famoso. Esse era meu sonho de infância”, conta na longa entrevista que concedeu ao Jornal Agora na tarde de quinta-feira (4) em uma propriedade rural sua localizada às margens de uma rodovia municipal de Apucarana que liga os distritos de Pirapó e Caixa de São Pedro.
Um amigo em comum, o médico Dr. Marcos César de Almeida, se encarregou de promover o encontro. O telefone do repórter toca e do outro lado o médico questiona: “Sabe aquela entrevista que você quer fazer com o Ratinho? Jantei com ele em São Paulo ontem, toquei no assunto e ele topou. Inclusive já está à sua espera”, surpreendeu.
Na chegada ao local o que se encontra é uma estrutura invejável, limpa, organizada e com muitas pessoas trabalhando. “O ‘seu’ Ratinho está andando pela propriedade, mas já aparece”, explica uma funcionária.
A espera permite-nos conhecer os espaço e conversar com funcionários, que são unânimes. “Ele é muito simples e educado. Nunca grita com ninguém nem destrata as pessoas”, derrama-se uma cozinheira do local, que brinca: “A única coisa que ele exige é um bolo de fubá especial que a gente prepara toda vez que ele está aqui”.
Sorridente, Ratinho aparece em um quadriciclo e pede mais alguns minutos. “Deixa só eu jogar uns peixes em um tanque e já conversamos com calma.” De hábitos simples, esse comunicador que recebe mais de R$ 5 milhões por mês e com patrimônio estimado em mais de R$ 1 bilhão falou de tudo, inclusive sobre como aconteceu o seu rompimento com o radialista Pinga Fogo.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Jornal Agora – Que lembranças você tem de quando começou a carreira em Mandaguari, na Guairacá?
Ratinho – Eu era fã do João Vrenna, que foi minha grande inspiração. Mas não tinha vaga, me deram só cinco minutos por dia para um programa que chamei de Boca no Trombone. Fui atraindo audiência e depois aumentou para 15 e posteriormente para 30 minutos. Acabei ganhando espaço.
Por sinal, tem amigos em Mandaguari até hoje...
É tanta gente que seria injusto ficar citando nomes, mas tem o Biló [Alcebíades Mosconi], o Santo Gereti, o Figura [Antônio Bittencourt], enfim, o Dr. Marcos César, que, aliás, jantou comigo ontem, meu amigo pessoal e médico meu e da minha família, enfim, só trago lembranças agradáveis de Mandaguari.
E a sua ida para a Rádio Cidade (hoje Rádio Jandaia), então recém- inaugurada?
Fui pelas mãos do Pinga Fogo de Oliveira [in memoriam], que também estava na Rádio Guairacá e foi para lá comandar a nova emissora. Mas acabei ficando sem espaço porque o Pinga era a estrela da companhia e acabou me mandando embora.
Foi quando decidiu se mudar para Curitiba?
Eu era vereador em Jandaia, já reeleito inclusive, mas queria realizar o meu grande sonho. Pedi licença da Câmara e comecei a vender ‘espetinho de gato’ nos arredores da rodoviária de Curitiba. Em dois meses estava com 59 latinhas [churrasqueiras], resultado do lucro que estava alcançando.
Foi um período muito difícil? Te traz que lembranças?
Eu não me lembro de estar infeliz em nenhum momento. A única lembrança que não me agrada é que eu comia coxinha todo dia [risos], não tinha mais opção. Tanto que até hoje não como mais coxinha.
E a volta ao rádio?
Consegui comprar horário em uma rádio, que inclusive acabei comprando posteriormente. Em 1985 conheci o Cadeia [Luis Carlos Alborguetti, in memoriam, apresentador de TV e deputado estadual] e virei repórter do seu programa. A partir daí minha carreira começou a deslanchar.
Por que mesmo assim resolveu voltar para a política?
A popularidade faz com que muita gente te incentive a isso. Eu me elegi vereador de Curitiba em 1988 e deputado federal em 1990, mas não era feliz na política, como eu na comunicação.
O Pinga Fogo foi deputado com você, mas houve um distanciamento na relação. O que aconteceu entre vocês, na verdade?
Primeiro quero deixar claro que tinha uma admiração e um respeito enorme por ele como comunicador e lamentei bastante a sua morte. Quando fui para São Paulo ele começou a se afastar de mim, não houve nenhuma briga na época.
Quando foi a última vez que se falaram?
Quando meu filho foi candidato pela primeira vez, em 2006, ele foi muito criticado pelo Pinga Fogo como candidato de Curitiba levando embora os votos de Jandaia do Sul. Como candidato de fora? Meu filho nasceu em Jandaia. Procurei o Pinga e disse: ‘Quer falar mal de mim, fique à vontade, mas do meu filho não, aí nós vamos brigar de verdade’. Ele parou de falar e não tivemos mais aproximação. Qualquer outra história sobre nós é mentira. A verdade é essa, tanto que tentei levar o filho dele [Juliano Pinga] para a minha televisão [Rede Massa], mas acabou não dando certo, infelizmente.
Como começou sua projeção nacional a partir da segunda metade dos anos 90?
Com uma derrota. Fui derrotado para deputado estadual em 94. Foi o que me salvou [risos]. Voltei apenas para o rádio e televisão o foquei naquilo que verdadeiramente gosto e sei fazer. Não que não goste de política, mas não serve para mim. Eu sonhava ser um bom radialista, popular e famoso, e fui atrás desse sonho.
E a chegada a Record?
Foi uma mudança completa na minha vida. Sucesso, audiência nacional, uma reviravolta. E depois ainda teve a mudança para o SBT e mais projeção ainda.
Como trabalhou para que a fama e o dinheiro não subissem à cabeça?
Eu vivo o que o Zeca Pagodinho canta na música ‘Deixa a vida me levar’. Se fosse me preocupar com os ‘nãos’ que recebi, teria desistido rápido. Minha grande qualidade é a persistência. Lido naturalmente com tudo isso, acho que está em mim. Tanto que mantenho os mesmos hábitos simples do tempo em que era pobre.
Como é sua relação com Silvio Santos, um dos grandes ícones da televisão brasileira e seu patrão?
Primeiro que dificilmente alguém o vê, não atende a quase ninguém. Mas é o cara mais gentil e educado que eu vi na vida. É sem dúvidas o maior comunicador da história da televisão brasileira.
Como foi o período em que ficou fora da televisão, sem contrato?
Foi um ano. É claro que não é nada agradável deixar de fazer o que mais gosta, mas negociei com a Band [não avançou] e comprei o SBT do Paraná e me preparava para fazer programa só para o Estado, quando o Silvio me chamou e fechamos um novo contrato.
Foi o contrato que o tornou um dos mais bem pagos do Brasil?
Consegui fazer um bom contrato, em que recebo 50% da receita do programa, não tenho salário fixo. Sou sócio do programa. Mudei meu estilo de programa e consequentemente passei a faturar mais. Foi bom para todos. Isso criou uma estabilidade inclusive na audiência, já que sou segundo lugar absoluto em audiência.
De onde vem seu tino empresarial?
Eu sou um vendedor, na essência. Acho que dinheiro tem que fazer dinheiro. Não sou igual o Faustão, por exemplo, que prefere aplicar o dinheiro dele e deixar render. Eu gosto de gerar emprego. Tenho um estilo diferente.
E a família?
É uma delícia. O melhor presente que Deus me deu.
Como é sua rotina de trabalho?
Segunda me manhã, reunião com a equipe na TV Iguaçu, em Curitiba, sede da Rede Massa. À tarde vou para São Paulo e gravo um programa e apresento o outro ao vivo. Na terça é igual e na quarta apresento apenas um, ao vivo. Nesse período estou vindo para o Paraná na quinta, onde estou engajado na campanha do meu filho a deputado estadual [Ratinho Junior] e Beto Richa a governador.
Como lida com o fato de o filho estar na política?
Eu não queria, mas se é do gosto dele, eu apoio. É um orgulho para mim.
E o seu futuro, o que está projetando?
Continuar do jeito que estou, tocar meus negócios, crescer e continuar gerando empregos. Hoje já são mais de 5 mil funcionários em todas as minhas empresas.
Reportagem publicada na 79ª edição do Jornal Agora.