Tudo que é chique um dia vai virar brega. E o brega, chique. Quem não se lembra da musa Vera Fischer, no seu auge novelístico, ostentando a sua cigarrilha, numa época que fumar representava o suprassumo do charme. Mas o tempo passou, e apesar das pessoas revisitar o retrô, os conceitos sobre o mundo mudaram. Todos se deram conta do mal que o cigarro faz e a mídia parou de idolatrar os fumantes. Mas como no Brasil as coisas demoram a ser assimiladas, o cigarro segue firme e forte na cultura de massa. Vivemos num lugar onde cardiologistas fumam sob a proteção da máxima “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. E quem mais sofre com essa ambiguidade é o jovem. Alienado, se deixa influenciar pelo falso glamour do cigarro – muitas vezes, para ser aceito na sua turminha.
Eles têm a falsa ideia que o cigarro dá poder, autoconfiança. Precisa de uma válvula de escape para afirmar sua personalidade. E de certa forma, nos passa esta imagem, mesmo que superficial. Eu como um não-fumante, quando vejo uma pessoa fumando, no primeiro momento, vejo esta pessoa mais forte, de fato. Mas num exercício mais acurado, percebo o quanto deselegante e cafona é o ato de fumar. E que por trás daquela pessoa, estão muitas fragilidades que a fizeram entrar no vício. Não quero entrar na questão da saúde, pois cada um sabe o que está fazendo. Ou não. É tão irônico e bizarro que as pessoas fazem brincadeiras quanto às mensagens do Ministério da Saúde no verso da embalagem. “Eu só não compro o que dá impotência”, é a declaração mais clássica na roda de amigos. Pouco importa saber que o cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias químicas que envelhecem e matam. A escolha é de cada um.
Nas noitadas, as pessoas vêm me pedir fogo direto. Como jornalista e músico de banda de rock, obviamente, devia me encaixar no estereótipo de um fumante de carteirinha. Eu teria o perfil para cavalgar Free por aí com meus Malboros. Desde os 15 anos, combati com naturalidade a influência dos amigos para não mergulhar nesta nuvem de fumaça – apesar de respirar por tabela uma parcela significativa de Derbys a vulso. Com as novas leis (que não são respeitadas 100%), o combate ao cigarro avança no sentido de tratar como uma questão de saúde. Já que o fato de ser cafona não muda nada para um fumante pois ele já é escravo do vício. Então, o governo tomou medidas (tardias) para pelo menos preservar o espaço do não-fumante.
Mas o que me deixa mais preocupado, é que ainda alguns me acham careta por não fumar. Geralmente são os mais brutos. Figuras que se vê de longe. Chegam com seus isqueiros Bic azuis, (ou caixa de fósforos Fiat Lux) e acendem o crivo com aqueles olhinhos forçados de cara de guri mijado. E estufam o peito seguido de umas tossidas e um catarro repugnante. Depois de terminado o ato, com ar superior, atira a bituca na calçada. Por essas e outra que eu acho que o governo deveria colocar um novo alerta na embalagem: ‘Fumar faz mal a sua elegância”.