São Paulo - O desembargador Walter de Almeida Guilherme, que integra o órgão especial do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, classificou ontem de ''descalabro'' pagamentos antecipados a magistrados ''sem justificativa plausível''. O desabafo de Guilherme ocorreu durante a etapa administrativa da primeira sessão no ano do órgão especial da corte. Os 25 desembargadores do colegiado deram início à análise dos polêmicos procedimentos sobre desembolsos a cinco colegas que receberam valores superiores a R$ 600 mil no período entre 2008 e 2010.
Os pagamentos milionários são alvo de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Entidades de classe da toga se rebelam ao conselho. Centenas de magistrados pleitearam nos últimos anos verbas que lhes são devidas por férias não cumpridas, equiparações e fator de atualização monetária, mas apenas um grupo seleto recebeu. O clima na corte é tenso.
O presidente do TJ, desembargador Ivan Sartori, disse que ''a questão merece atenção imediata não pelas notícias veiculadas pela mídia e sim pela pressão dos próprios colegas''. Vinte e nove magistrados receberam verbas milionárias, entre eles o ex-presidente do TJ, desembargador Roberto Vallim Bellocchi. Ele ficou com R$ 1,6 milhão. Afirma ter recebido ''pouco mais de R$ 500 mil''. O privilégio do qual poucos desfrutaram revoltou a grande maioria dos juízes que recebem seus créditos em longas parcelas mensais.
Guilherme relata que existia uma boataria muito grande sobre pagamentos antecipados. ''A gente sabia que existia, mas não sabia quantos e nem quem eram os favorecidos. Ouvia-se muito, sobre valores díspares.''