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Recém-aberta, a ''estrada de autos'' desviava-se de antigos caminhos, só aproveitando os últimos seis quilômetros do ''Velho Picadão Três Bocas'' até o Patrimônio, na bacia esquerda do ribeirão. Os cinco quilômetros remanescentes situam-se entre a Universidade Tecnológica Federal, em Londrina, e um conjunto habitacional próximo à BR-369 em Ibiporã.
''Lembro-me daquele longínquo dia de maio de 1932'', começou a escrever Vladimir Revenski em 1959. O narrador é russo e menciona dois escoceses já no primeiro parágrafo. ''Quando após ter pernoitado em Jatahy, na casa do sr. Maxwell em companhia do corajoso Ian Fraser, dirigimo-nos Dr. Willie e eu, num pé de bode de cor marrom, guiado pelo chauffeur João Rochinski, à balsa sobre o Rio Tibagi''.
Às 10 horas ''aproximadamente'' o Ford entrou na estrada. ''Tinha chovido à noite e ameaçava continuar. Isto não demorou. Até o acampamento do Miguel Bender e da sua turma de construção da aludida estrada, conseguimos chegar relativamente bem e paramos ali para tomar um cafezinho. Sem, infelizmente, aceitar o almoço que nos era oferecido.''
''Dali para diante (...) as dificuldades começaram. A chuva não desmerecia (desvanecia) e a estrada, recém-construída, bordada de mata virgem, era escorregadia, formando nas baixadas verdadeiros lagos que tínhamos de atravessar a grande custo. Muitas vezes Dr. Willie e eu descíamos do carro para o empurrar e tomávamos verdadeiros banhos de cima, o de chuva, com água limpa; de baixo, das rodas do carro, de água barrenta, vermelha, que os pneus derrapando nos borrifavam em profusão. (...)''
''Enfim, lá pelas oito horas da noite conseguimos, sujos, cansados e famintos, chegar ao hotel da Companhia de Terras Norte do Paraná, bem na divisa do princípio dos seus terrenos.''
Revenski viera para o Brasil em 1929, ingressou na Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná em 1930 e a seguir na Companhia de Terras, ''recebendo os materiais para a construção da sede, das casas do Dr. Willie, do médico, do escritório, enfim erguendo a futura Londrina'', palavras suas no legado histórico.
Widson Schwartz
Paulista de Campinas, tinha fama de british
Outra efeméride neste 22 de maio envolve Willie Davids: os 60 anos da inauguração do busto, na praça, em 1952. Presentes a esposa, Carloto Peixoto Davids, filhos, parentes e amigos de Willie; às 11 horas, o presidente da Associação Comercial, David Dequêch, convidou o prefeito Milton Ribeiro Menezes ''a descerrar a bandeira que cobria o busto do saudoso bandeirante''.
Conforme as reportagens da FOLHA (22 e 24/5/52), a iniciativa se deveu à ''velha guarda'' (pioneiros), representada em comissão organizadora integrada por Arthur Thomas, Celso Garcia Cid, Raymundo Durães, Luiz Estrella e David Dequêch. A banda executou uma ''marcha batida'' e o advogado Ruy Ferraz de Carvalho, ao longo do discurso, ressaltou que a imagem de bronze ''plantada no coração da cidade'', ali ficaria ''perpetuando a memória de Willie e constituindo, por certo, para os cidadãos londrinenses, um exemplo e uma inspiração''.
Willie Brabazon da Fonseca Davids, engenheiro eletricista formado na Inglaterra, acumulou credenciais da Light em São Paulo e Companhia City de Santos; a seguir no Paraná, entre 1914 e 1925, prefeito de Jacarezinho e deputado estadual. Fazendeiro no Norte Velho desde 1911 e um dos incorporadores da ferrovia Ourinhos-Cambará, integrou as primeiras expedições ao Norte Novo por interesse do grupo de lorde Lovat.
A partir de 1932, Willie administra a abertura de estradas e a implantação da infraestrutura urbana, apressando a transição de Patrimônio para Cidade, em dois anos sede do município que o elegeria prefeito. Exerce o cargo entre entre 2 de dezembro de 1935 e 30 de maio de 1940 (nomeado a partir de 1937).