Londrina – O maquiador Diego Ramos Quirino, de 30 anos, pode ter sofrido um surto psicótico paranoide provocado pelo uso excessivo de drogas, associado à falta de tratamento. É o que apontam especialistas ouvidos pela FOLHA. Quirino matou quatro pessoas no último final de semana na zona oeste de Londrina - incluindo a própria mãe e três vizinhas.
As características predominantes do surto psicótico paranoide são desconfiança das pessoas e alucinações, situações que podem ser amenizadas com tratamento psiquiátrico e medicamentoso. No entanto, Quirino não buscava auxílio médico há 13 anos.
"O uso prolongado de drogas, crack ou cocaína, principalmente, pode levar ao surto paranoide de
perseguição. Os casos descritos na literatura apontam que as pessoas tendem a fazer alguma coisa para se defender quando se sentem acuadas", explicou a assessora técnica da diretoria de Serviços Complementares da Secretaria de Saúde de Londrina, enfermeira psiquiátrica Fábia Almeida .
"Quando a pessoa tem um surto psicótico, prediz que é agudo. Isso acontece de forma abrupta, repentina. A pessoa começa a demonstrar uma confusão mental e chega num quadro de distorção da realidade rapidamente, fica confusa, pode delirar, ter alucinações. O delírio paranoide é o mais
comum e nele o indivíduo acha que estão agindo contra ele. A reação pode se tornar agressiva, até usada como uma forma de defesa. O tratamento medicamentoso pode amenizar as crises", esclareceu o psiquiatra Luiz Paulo Garcia.
Diego Ramos Quirino é viciado em drogas desde os 12 anos. Durante sua adolescência foi internado quatro vezes para tratamento contra dependência química e recebia acompanhado do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Londrina. Porém, deixou de frequentar o local ao alcançar a maioridade
O maquiador foi viver em São Paulo, onde passou quase uma década, e não teria deixado de usar drogas. "Familiares disseram em depoimento que ele conheceu o crack em São Paulo, onde fez uso prolongado. Segundo sua avó, ele havia parado com o crack e vinha fazendo uso de maconha com frequência", explicou o delegado Willian Soares.
Soares já ouviu oito pessoas nesse inquérito e descobriu que o acusado evitava receber atendimento médico. "Parentes disseram que ele era resistente a internação, mesmo quando cogitado. A Patrícia (Amorim Dias), esposa dele, também resistiu e deve ter suas razões. Como ela estava abalada emocionalmente no primeiro dia, vou reinquiri-la para explicar outras coisas", disse. Diego Ramos Quirino, que se manteve calado no primeiro depoimento, também será reconvocado.
O delegado pretende ouvir hoje à tarde a médica que atendeu o maquiador no sábado no Pronto Atendimento 24 horas de Cambé. "Pretendo saber dela o que foi receitado, qual o quadro clínico dele no momento do atendimento, se era um caso de internação. Se sim, por que não houve encaminhamento", explicou.
O psiquiatra Luiz Paulo Garcia, que trabalhou quase uma década no sistema público de saúde, adiantou que o paciente (ou seus familiares) podem rejeitar a internação. "O profissional que está de plantão num pronto atendimento não vai ter todos os dados necessários para saber se (o paciente) está num surto intenso, mas a proposta varia de um tratamento ambulatorial ou internamento em que o uso de medicamento é essencial. No entanto, é necessário que a pessoa aceite fazer o tratamento", explicou.
O maquiador Diego Ramos Quirino é mantido isolado em uma cela da unidade 2 da Penitenciária Estadual de Londrina. Ele passa por avaliações de educadores, médicos e nenhuma anormalidade havia sido constatada até a tarde de ontem.
"São avaliações de rotina, questionamentos e exames. Essa triagem dura até 30 dias e até então não foi notada nenhuma situação diferenciada. Adianto que ainda é prematuro relatar outras coisas, seriam especulações", explicou o vice-diretor da PEL 2, Edmir Cardoso da Silva.