JORNAL DE LONDRINA
O conturbado governo de João Goulart (1919-1976), no ano que antecedeu ao golpe militar de 1964, pode ter contribuído para a história do Brasil se esquecer de uma grande catástrofe: o incêndio que atingiu 2 milhões de hectares no Paraná, entre agosto e setembro de 1963. Relatos da devastação do fogo, das vítimas, das providências, auxílio do governo federal e até de outros países, além de dados técnicos, estão reunidos no livro 1963 – O Paraná em chamas (edição do autor, 200 págs, R$ 34,90), do geógrafo e servidor municipal José Luiz Alves Nunes. “O livro é um documentário do maior incêndio florestal em devastação de área do mundo. Foram queimados 2 milhões de hectares de pastos, cafezais e florestas”, conta Nunes.
O fogo teria iniciado a partir de queimadas que os agricultores faziam para aumentar as terras agricultáveis. “Só na Fazenda Monte Alegre, da Klabin, foram queimados 85% da propriedade, uns 200 mil pinheiros. Dos 166 municípios que o Paraná tinha na época, o incêndio teve ocorrência em 128. Só não queimou em parte do oeste, do sul e do litoral. Em Londrina, até no sítio do meu pai queimou.”
A pesquisa teve início em 2010. “Eu vi uma foto do [engenheiro agrônomo] Armínio Kaiser, que registrou o incêndio. Ele fotografou um grupo de crianças na beira da estrada, perto de Astorga, numa procissão da Igreja Católica pedindo para Deus mandar a chuva”, conta o escritor.
Nunes passou a estudar o incêndio. Não somente em recortes de jornais, mas também em documentos e memórias de pessoas que estiveram envolvidos no combate ou na cobertura jornalística. O autor entrevistou os jornalistas Délio César, Jota Oliveira e Widson Schwartz. Documentos da Biblioteca do Congresso Americano, notícias publicadas em jornais espanhóis e outros depoimentos foram outras fontes consultadas.
Cruzando os dados, imprecisos e desencontrados, foi possível levantar alguns números. “Foram, no mínimo, 150 mortes, de 3 mil a 5 mil feridos e de 5 mil a 10 mil desabrigados. Veio gente do exterior ajudar a combater o incêndio.”
Os prejuízos contados passam dos bilhões de cruzeiros. Somente a ajuda pedida a Jango chegou a Cr$ 3,2 bilhões. Entretanto, registros apontam que o governo federal mandou apenas Cr$ 1 bilhão. Até mesmo o papa Paulo VI teria enviado ajuda financeira.
Mesmo assim, os registros do incêndio foram diluídos ao longo do tempo. “Ficou esquecido porque está encaixado no governo de João Goulart, que antecedeu o golpe militar. [O incêndio] está num período conturbado”, avalia Nunes, que considera importante resgatar a história dessa tragédia como forma de refletir sobre o passado.
Serviço
1963 – O Paraná em chamas – Livro de José Luiz Alves Nunes. Edição do autor, 200 páginas, R$34,90. À venda na Eduel (campus da UEL, fone 3371-4691), Sebo Capricho (R. Mato Grosso, 211, fone: 3324-9460), Livrarias Curitiba (Catuaí Shopping), Revistaria Vencer (Super Muffato da Av. Madre Leônia, 1175, fone: 3321-0914), Banca Flamengo (Mercadão Shangri-Lá, fone: 3028-6923) e Café 70 (R. Aminthas de Barros, 399).