FOLHA DE LONDRINA
Pesquisa sobre serviços de telecomunicações aponta que pouco mais da metade das moradias contam com computadores e que custo é o maior empecilho
No Brasil, 51,8% das residências não contam com computadores e 57,1% estão desconectadas da internet, segundo o estudo Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mesmo com o avanço de políticas sociais para a inclusão digital nos últimos anos, o equipamento ainda está distante do poder aquisitivo de boa parte das famílias, o que prejudica o acesso da população a uma ferramenta que aumenta a qualidade e corta o custo com a informação.
Para 34% dos entrevistados, os equipamentos seriam acessíveis se custassem entre R$ 301 e R$ 800, faixa de preço na qual é difícil de se encontrar um computador no Brasil. Outros 29,3% não se mostram nem mesmo dispostos a pagar pela posse do aparelho.
O chefe do departamento de economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Azenil Staviski, afirma que grande parte da população vive com renda familiar inferior a três salários mínimos, ou R$ 2.172. Como a prioridade são os gastos com alimentação, moradia e saúde, muitas vezes a compra de um computador se torna inviável. "Lamento, porque é um percentual alto e são pessoas de renda mais baixa que não têm acesso a essa ferramenta, que contribui para o estudo dos filhos e para a informação", diz.
A tributação e o fato de boa parte dos componentes e dos programas de um computador serem importados contribui para o alto custo no Brasil, afirma o economista. Conforme o Sips, que usa dados de outras pesquisas, a proporção de domicílios com acesso à internet no País, de 40,8%, é apenas a quarta maior da América do Sul, atrás de Uruguai, Argentina e Chile.
Consultor em telecomunicações e integrante do conselho de usuários da Sercomtel, Antônio Gomes diz que o preço dos computadores caiu muito nos últimos anos, mas ele concorda que ainda não é prioridade para parte da população. Sobre a comparação com outros países latino-americanos, ele diz que não sabe qual a tributação por trás dos serviços em outras nações, mas considera as taxas exageradas no Brasil. "Retrata nossas condições de acesso à internet, com 40% de impostos sobre a nossa telefonia", diz. Ao mesmo tempo, ele lembra que a internet por banda larga e a TV por assinatura são os serviços com maior espaço para crescer no País.
O preço também aparece como o principal empecilho para o acesso a TV por assinatura e à telefonia móvel. Para 78,6% dos entrevistados, o celular pré-pago é a única opção e apenas 26,6% das moradias têm canais fechados. "A programação de pacotes básicos ainda é ruim, próxima à da TV aberta, então não é algo acessível", diz Staviski.