19/03/2014 - FOLHA DE LONDRINA
Minha Infância no Norte do Paraná
"Tenho muito orgulho da infância e juventude que tive aqui em Rolândia, dividindo o meu tempo entre a cidade e o sítio. Temos aqui uma das melhores terras do mundo e um povo honesto e trabalhador"
Nasci em Rolândia, Norte do Paraná, mas sempre tive um pé na cidade e outro nos sítios de café dos meus avôs e tios. A partir dos meus 8 anos passava todas as minhas férias no sítio do meu avô materno Juan Martin. Lá morava o meu primo mais chegado, o Toninho, conhecido por Preto.
Como era costume, as crianças a partir dos 8 anos ajudavam os pais na lida do café e dos cereais. Eu, meu primo e irmãos ajudávamos os avós e tio até as 15 horas e depois éramos liberados para brincar. O nosso trabalho era capinar, limpar os troncos dos cafeeiros para facilitar o rastelamento, apanhar café, "virar" o café para secar no terreirão, amontoá-lo à tarde, ajudar a lavar os grãos para separar a terra e impurezas e ajudar a ensacar.
Uma certa época, nos anos 60, minha mãe pegava café para separar as impurezas em casa. Os comerciantes de café cediam umas máquinas onde os grãos caiam em uma esteira de pano. Com um pedal íamos movimentando a esteira e tirando os torrões, pedrinhas e pequenos pedaços de madeira. Eu e meus irmãos ajudávamos todo dia a nossa mãe. Era uma maneira de ajuntarmos uns troquinhos para assistirmos a matinê do cinema aos domingos. Até hoje me lembro de cheiro do café beneficiado.
Na década de 60 teve um ano em que o preço do café caiu tanto que as máquinas de beneficiamento cederam de graça aqueles grãos mais quebrados. Meu avô pegou logo uns dois ou três caminhões para usar como adubo. Lembro-me que vinha muita gente pegar aquele café para torrar e consumir.
Mais tarde, já mocinho viajava sempre com meu pai (que era corretor de terras) para mostrar propriedades agrícolas aos seus clientes. Por todas as estradas que andávamos de jipe víamos apenas enormes cafeeiros. O Norte do Paraná era um imenso cafezal. O mais lindo e vistoso do mundo. Pés com até 2,50 metros, verdinhos e saudáveis. As nossas terras sempre foram as melhores do Brasil.
Quase todos os proprietários davam empregos para os porcenteiros. Estes trabalhavam muito e tinham muita fartura. Criavam uma vaquinha, porcos e galinhas, tinham um cavalo com carroça.
Aos sábados na roça, infalivelmente, aconteciam os bailes de sanfona em barracas cobertas com lona. Havia uma amizade sincera e muito companheirismo. Os jovens voltavam a pé para a casa sob a lua cheia, conversando e contando piadas. Falávamos sobre as namoradas para quem ainda não havíamos declarado o nosso amor.
Aos domingos a diversão era banhos na cachoeira, pesca, caçar passarinhos com estilingue e futebol. A noite meu avô sempre recebia os amigos para ouvir as notícias no rádio. Eu e meu primo ficávamos ouvindo sentados ao lado do fogão caipira, tomando café e comendo pipoca feita com gordura de porco. Após ouvir as notícias meu avô, meu tio e os amigos começavam a contar causos de assombração. O duro era dormir com a lamparina apagada, com medo de que aquelas assombrações fossem aparecer!
Tenho muito orgulho da infância e juventude que tive aqui em Rolândia, dividindo o meu tempo entre a cidade e o sítio. Amo minha região e minha família. Temos aqui uma das melhores terras do mundo e um povo honesto e trabalhador. Sinto saudade daqueles tempos e se pudesse viveria tudo outra vez. Um abraço a todos os norte-paranaenses. Deus abençoe a todos.
José Carlos Farina é advogado em Rolândia