‘Coisas’ como emoções e improvisações que ele faz questão que
apareçam no filme. "Quanto mais o ator conseguir deixar a história
verdadeira, mais eu fico satisfeito. Para essa produção, foi essencial a
integração entre atores experientes com atores e pessoas que não são
profissionais. Isso torna tudo mais vivo, porque é representado por
pessoas reais. Há, ainda, a abordagem documental, cenas gravadas em
acontecimentos reais, como uma competição no autódromo."
Liberdade que pôde ser presenciada pela reportagem no último dia
de gravação do filme com o núcleo jovem da trama, na quarta-feira
passada. O ambiente tranquilo – possibilitado pela equipe de direção -
de uma cena que se passa em um laboratório de anatomia, na Universidade
Estadual de Londrina (UEL), permitiu que os atores pudessem dialogar com
tanta naturalidade que até mesmo um erro da fala fosse incorporado à
cena.
Os três atores do triângulo amoroso nunca haviam atuado em
cinema antes. O ator que interpreta um piloto de automobilismo, Bruno
Silva, de 16 anos, por exemplo, sequer havia atuado. "Esse é um mundo
totalmente diferente; nunca vivi nada parecido com as gravações. O ritmo
é muito cansativo, mas, ao mesmo tempo divertido. Teve dias em que
gravamos até de madrugada. Vou levar essa experiência para a vida toda",
disse o rapaz que, na vida real, é piloto de kart desde criança e,
assim como seu personagem, quer seguir carreira profissional. "Quero ser
piloto. Espero que o filme dê mais visibilidade ao meu trabalho",
contou.
O cansaço é nítido e perceptível. Uma cena de pouco mais de um
minuto demorou quase três horas para ser gravada. Detalhe: houve dias em
que ficaram até 18 horas filmando. Entre um ajuste e outro de luz,
correção do som, bocejos, espreguiçadas, movimentos faciais. Mas, muita
disciplina e comprometimento, sobretudo de quem está debutando. "É um
desafio imenso manter-se repetindo a cena com a mesma qualidade. Mas a
direção nos deixa bem tranquilos", contou a jovem Letícia Conde,
estudante de Arquitetura de 20 anos, que não perdeu a pose após 17
tentativas da mesma cena. Apesar de estudar teatro desde criança, é sua
primeira participação em um filme desse porte. "Atuei numa produção em
minha cidade natal, Varginha (MG), mas que nem se compara. Lá era tudo
amador."
Se a repetição na cena é um dos pontos destacados, o jovem ator
de teatro Filipe Garcia comentou que, no cinema, ‘menos é mais’. "Na
tela ficamos mais expostos. Por isso, movimentos, voz, olhar, tudo
precisa ser bem sutil. Foi difícil conseguir ‘limpar’ isso, porque, no
teatro, nos utilizamos de todos os recursos possíveis ao mesmo tempo.
Está sendo completamente diferente de tudo o que já fiz", pontuou o
rapaz, de 18 anos.
Orientado a não movimentar-se muito além do espaço determinado
na cena, fazia exatamente como pedia o diretor em outro ângulo de
gravação. "Tenho que apontar para o vidro, mas sem me mexer muito para
não sair do quadro. É isso, Grota?", perguntou, durante a filmagem de um
dos takes.
Após duas horas de montagem de luz, mais três de gravação,
chegou ao fim apenas uma cena, a de número 45, última com diálogo no
filme. "A filmagem nunca começa quando queremos e nunca acaba quando
imaginamos. É um trabalho infinito", brincou o assistente de direção,
Rafael Ceribelli.
Além de auxiliar o diretor, ele era o responsável por organizar o
ambiente e a equipe. "O diretor precisa estar focado na cena; não pode
desviar a atenção com o tempo e problemas, principalmente técnicos.
Agora, por exemplo, vamos fazer mais umas imagens da atriz de antes da
conversa dos três e quando os meninos chegam ao laboratório. Tenho que
chamá-los para cá", explicou. E assim foi mais algum tempo, para, enfim,
a reportagem se despedir depois de uma tarde acompanhando a gravação.
"A filmagem nunca começa quando queremos
e nunca acaba quando imaginamos"