Médico de coração
Em plena atividade, cardiologista completa 50 anos de profissão e recebe homenagem do Conselho Regional de Medicina pela atuação
Professor aposentado do curso de
Medicina da UEL, Pedro Kreling atende em seu consultório e em três
hospitais, e também prepara um livro: "Não quero partir dessa sem deixar
um legado"
"Não penso em parar", avisa o
cardiologista Pedro Kreling, que comemorou recentemente cinco décadas de
profissão. A data especial rendeu homenagens do Conselho Regional de
Medicina (CRM) pelo trabalho ininterrupto nesses 50 anos, sem quaisquer
advertências ou penalidades. A cerimônia aconteceu em Curitiba, mesma
cidade em que Kreling se formou, em 1964. "Foi uma linda homenagem, no
Dia do Médico, 18 de outubro."
Segundo Kreling, foram dois sentimentos. "Me fez pensar duas
vezes, com alegria, porque minha mulher e meu filho estavam lá comigo, e
também com uma certa nostalgia. Me lembrei quando saía do HC (Hospital
das Clínicas) para almoçar e pensava na contagem regressiva para a
formatura", conta o médico. Nascido em Selbach, Kreling deixou o Rio
Grande do Sul ainda pequeno para acompanhar a família, de mudança para
Rolândia. "Foram vários dias de trem", lembra o médico sobre a viagem
que o trouxe para o Norte do Paraná.
Londrina entrou na história do médico quando ele e um grupo de
sete amigos decidiram que queriam mais da vida. "Em cidade pequena, os
estudos paravam no ginásio. Queríamos estudar e por isso viemos para
Londrina, onde fizemos o científico", conta. Na sequência, optou pela
Medicina, uma das pouquíssimas ofertas de curso superior naquela época,
ao lado de Engenharia e Direito. "A única faculdade de Medicina ficava
em Curitiba", lembra.
Kreling só passou no segundo vestibular. "Não tinha dinheiro
para o cursinho, que era muito caro", conta. "Sabia que a minha
performance não tinha sido boa, então comecei a ver a lista dos
aprovados pelo final e vi meu nome em segundo lugar", diverte-se o
médico.
No segundo ano de faculdade, um susto familiar o fez optar pela
cardiologia. "Meu pai faleceu, disseram que foi um mal súbito. Foi
quando eu decidi que seria cardiologista", define. Com o diploma nas
mãos, rumou a São Paulo para fazer a residência. "Tinha ligado para o
Dante Pazzanese e quando peguei o táxi da rodoviária me levaram a um
outro hospital, não sabia que havia dois HCs. Mas foi a minha sorte,
acabei acertando com o Luis Venere Décourt, que foi meu exemplo, um
professor sério, humanista, um estudioso", lembra.
Nos três anos fazendo residência em São Paulo, Kreling teve
contato com Euryclíades de Jesus Zerbini, conhecido por ter feito o
primeiro transplante de coração no Brasil, em 1968. "Nós preparávamos os
pacientes para o Zerbini", lembra o médico, que viveu na capital
paulista todo o início do cateterismo no País, um momento efervescente.
Ao voltar para Londrina, no final da residência, uma dica do
mestre Décourt serviu para os próximos 40 anos de vida profissional de
Kreling. "Ele me disse que seria bom que eu entrasse para a faculdade,
que eu fizesse dois períodos, um no consultório e outro dando aulas.
Segundo ele, isso iria aprimorar tanto um quanto outro. Eu não ficaria
rato de laboratório, se optasse apenas pela faculdade, ou não evoluiria
cientificamente, se ficasse apenas no consultório", lembra.
Foram 40 anos, até a aposentadoria, dedicados ao curso de
Medicina da Universidade Estadual de Londrina. "Aceitei um convite do
Ascêncio Garcia Lopes para ser professor", explica Kreling, que foi um
dos pioneiros do curso londrinense. "A aula inaugural foi dada pelo
então governador do Paraná Paulo Pimentel no dia 3 de março de 1967, no
Teatro Ouro Verde."
"Até falei para minha esposa, Neusa, que gostaria de ver como é
não fazer nada por uns dois anos", explica o médico, que tem a
fotografia como hobby. "Também jogo tênis regularmente e já fui
colecionador de selos, filatelista, e de moedas, mas parei", lista. Nos
últimos três anos Kreling vem se dedicando ao livro "O coração: seus
mitos, sua história, seus males", que deve ser publicado ainda este ano.
"Não é um livro técnico, é para o leigo, mas também não é para aprender
a se tratar", adianta.
O cardiologista também prepara uma autobiografia, reunindo
documentos e fotos antigas. "Não quero partir dessa sem deixar um
legado, que eu passei por aqui", avisa Kreling.
Karla Matida
Reportagem Local