Guaraci - A ocupação de parte da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, no município de Guaraci (a 77 km de Londrina), teve fim na manhã de ontem. A operação para o cumprimento da reintegração de posse envolveu equipes da Polícia Militar, do Pelotão de Choque, da Polícia Rodoviária Estadual e até do Grupamento Aeropolicial e Resgate Aéreo (Graer). Aproximadamente 50 policiais chegaram por volta das 5 horas e a ação ocorreu sem violência física. Nos olhares das famílias era possível perceber o desespero de quem ainda não sabia para onde ir.
"Esse é o pior momento da vida da gente", resumiu Jorge de Souza, ao observar o trator que derrubava uma a uma as barracas construídas por toda a comunidade. Nos últimos três meses, as terras da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, pertencente ao Grupo Atalla, foram o local de moradia para 30 famílias ligadas à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). As estruturas foram feitas aos poucos com bambus, lonas, pedaços de madeira e algumas telhas.
No final da manhã de ontem, cada morador ainda vigiava os pertences para que os móveis restantes que seriam colocados nos caminhões não fossem perdidos pelo caminho. Além de Souza, Sueli Marcos de Melo sabia dos riscos ao ocupar a terra particular. Ambos decidiram conviver com a insegurança, mas ainda mantinham a esperança de ter "o próprio pedaço de chão para plantar". O sonho de Souza e Sueli é o mesmo de Ana Aline de Souza. Aos 19 anos, com um filho de 4 anos e grávida de dois meses, ela busca "uma terra para garantir o sustento e o futuro das crianças".
Entre as justificativas das famílias para a ocupação está uma dívida milionária do Grupo Atalla com o Governo Federal. "É assim né filha, uns têm tanto, outros não têm é nada", resumiu Rosângela Moreira, que também participou da ocupação. O coordenador Especial de Mediação dos Conflitos da Terra da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp), major Valdir Carvalho de Souza, acompanhou a ação. "Nos reunimos ontem aqui com as famílias para avisar que a Polícia Militar iria dar o cumprimento a reintegração de posse. O proprietário das terras disponibilizou ônibus para que eles retornem ao local de origem." Os PMs permaneceriam na fazenda até que todas as famílias fossem retiradas. Parentes dos integrantes da ocupação também foram até o local para ajudar no transporte dos materiais. Alguns iriam para a casa de amigos. Os pertences dos integrantes da Contag seriam deixados no ginásio de esportes de Guaraci.
O ouvidor agrário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Raul Bergold, informou que várias famílias continuaram na cidade em busca de abrigo. "Diante da impossibilidade de obtenção da área para a reforma agrária, nós buscamos um acordo para a desocupação e esperávamos um prazo maior para a retirada das famílias. A Fetaep (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná) deve prestar apoio aos trabalhadores". Segundo ele, a fazenda é produtiva. "Outras quatro áreas pertencentes ao Grupo Atalla, num total de 11 mil hectares, foram consideradas improdutivas. A questão está sendo discutida na Justiça", frisou.
A assessoria de imprensa do Grupo Atalla informou que 15 fazendas estão ocupadas de forma irregular, que todas as áreas são produtivas e a maior parte delas é usada no plantio de cana. Por meio da assessoria de imprensa, o grupo admite a existência de uma dívida financeira com o governo federal, mas destacou que os valores foram renegociados e as parcelas estão sendo pagas em dia. O montante devido não foi revelado.