Na primeira fase, dez pacientes serão avaliados quanto aos efeitos colaterais do medicamento; se eles não forem graves, a pesquisa prosseguirá até chegar a cem pessoas por grupo de tumores
São Paulo - O governo de São Paulo anunciou na semana passada que começará a testar a fosfoetanolamina sintética, a "pílula do câncer", em pessoas. Os testes começarão hoje e serão conduzidos pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) na capital paulista.
Na primeira fase, dez pacientes serão avaliados quanto aos efeitos colaterais - se não forem graves, a pesquisa prosseguirá. Em seguida, os testes serão feitos em 21 pessoas em cada um dos grupos de tumores - cabeça e pescoço, pulmão, mama, cólon e reto, colo uterino, próstata, melanoma, pâncreas, estômago e fígado. Se houver sinais de atividade da substância ao final de alguns meses, as pesquisas continuam e mais pessoas serão acrescentadas, até chegar a cem por grupo.
Os selecionados ainda não começaram o tratamento ou estão em algum estágio cuja abstinência no uso das drogas "regulares" não vai afetar o tratamento. Eles não podem ter a doença em estágio avançado, e devem ter o sistema imunológico respondendo "razoavelmente bem".
"Nós não vamos arriscar a possibilidade de cura", diz o oncologista e diretor do Icesp, Paulo Hoff. "Se o paciente tem a opção de cirurgia, quimioterapia definitiva curativa, radioterapia, ele não pode entrar", afirma. Todo o período de testes deve durar cerca de dois anos.
Testes in vitro e em animais encomendados pelo governo federal não apontaram resultados satisfatórios.
Segundo Hoff, ainda assim os testes em humanos são necessários. "No momento em que você tem mais de 20 mil pessoas que fizeram uso do produto ["fosfo"] e um grande interesse popular, acho que é uma obrigação que nós resolvamos de uma vez por todas a questão se a droga é realmente eficiente no tratamento do câncer ou não", afirmou.
Hoje há entre 15 mil e 18 mil liminares judiciais ativas de pacientes que tentam obter a droga, que foi desenvolvida pelo professor da USP Gilberto Chierice, atualmente aposentado. Antes de haver conclusão de qualquer teste em humanos, ela começou a ser distribuída pelo professor.
Thiago Amâncio
Folhapress