FOLHA DE LONDRINA
Imponente, ela se destaca em meio a tantas outras árvores no Bosque Municipal de Londrina
Fotos: Anderson Coelho
Peroba-rosa do Bosque: testemunha da história
No Bosque Municipal, perto do parque infantil que se acessa pela Avenida Rio de Janeiro, na área central de Londrina, vive uma peroba-rosa imponente, que se destaca em meio a tantas outras árvores pelo seu tronco rugoso, retilíneo, e pela copa, que está a aproximadamente 40 metros de altura, uma das mais altas de toda a mata.
Para se estabelecer a idade de uma árvore, existe um procedimento científico específico, denominado dendrocronologia, que consiste em contar os anéis de crescimento que estão no tronco da planta. Cada anel representa, simplificadamente, um ano de vida.
Da peroba do Bosque nunca foi retirada uma amostra para fazer este exame, mas pela experiência de muitos anos trabalhando com árvores, o professor Moacyr Medri afirma sem medo de errar: "ela tem entre 250 e 300 anos". Isso significa que a planta já estava presente muito antes de a caravana pioneira dos britânicos que colonizaram Londrina chegar, em 1929. Dali, ela assistiu a uma cidade inteira crescer, começando com ranchos de palmito para chegar a centenas de prédios de concreto.
Nas primeiras décadas de Londrina, milhares de perobas, que eram nativas e abundantes nas matas que cobriam a terra vermelha, foram derrubadas e tiveram as tábuas utilizadas para a construção de casas. Muitas dessas residências ainda estão em pé, sobretudo em bairros mais antigos, como a Vila Casoni. "Esta provavelmente escapou porque, nas décadas de 1930 e 1940, ainda não era tão grande e não tinha o tronco tão espesso", teoriza o biólogo.
Atualmente protegida pela Lei de Crimes Ambientais, nenhuma Aspidosperma polyneuron Müll., que é o nome científico da peroba, pode ser derrubada no Brasil. A que está em pleno Centro de Londrina tem outra proteção tão importante quanto a lei: as árvores que a cercam. Tão alta e de raízes pouco profundas, as perobas precisam da proteção da mata para não serem derrubadas por ventanias e tempestades.
Segundo Medri, em espécimes que caíram ou foram cortadas onde hoje está o campus da Universidade Estadual de Londrina (UEL), os biólogos chegaram a contar em torno de 800 anéis de crescimento. A peroba do Bosque tem tudo para viver mais alguns séculos e se consolidar como a mais longeva testemunha da história de Londrina.
‘São importantes para a coletividade’
Em Lincolshire, na Inglaterra, uma macieira do século 18 está preservada. Relatos históricos indicam que foi dela que caiu a maçã que provocou em Isaac Newton o devaneio que resultou na lei da gravidade. Em Santa Maria del Tule, no México, o governo mudou a direção da Rodovia Pan-Americana, na década de 1990, para preservar um cipreste que é simbólico para a população local. As informações são da Revista National Geographic, de março de 2017.
"Em Londrina, árvores históricas e que são referências para a população poderiam ser melhor preservadas e conservadas", opina o professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da UEL, José Eduardo Lahoz Ribeiro. "Deveriam ser tratadas como patrimônio da cidade, ter placas informando a origem, a biologia. Tudo isso ajudaria na conscientização ambiental, para que as pessoas entendam que são seres vivos, que podem viver muitos anos e que são importantes para a coletividade."
A secretária de Ambiente, Roberta Silveira Queiroz, promete dar mais atenção para algumas árvores considerada especiais. (W.S.)
Deficit de 36 mil árvores na área urbana
Estimativas da Secretaria Municipal de Ambiente (Sema) apontam que Londrina tem entre 180 mil e 200 mil árvores em sua área urbana. É um número alto, mas longe de ser satisfatório. Quem anda pelos bairros facilmente percebe que muitas casas e estabelecimentos comerciais não mantém uma árvore na calçada. "Estimamos que o deficit de árvores na área urbana seja de 20% a 30% do total que temos hoje", diz a secretária da Sema, Roberta Silveira Queiroz. Trocando em miúdos, o deficit pode variar de 36 mil a 60 mil árvores.
No Censo de 2010, o IBGE fez um ranking de arborização entre os municípios considerando o número de árvores no entorno das residências. Bastava haver uma só em toda a quadra para o IBGE assinalar a casa como arborizada. Por esses critérios, Londrina atingiu a marca de 96% de arborização. Parece bom, mas entre os 399 municípios paranaenses, a cidade ficou apenas na posição 118.
Segundo a secretária, o plano para os próximos meses é realizar um levantamento para constatar o número real de árvores que faltam na cidade. O segundo passo é promover a conscientização da população para que todos entendam a importância dessas plantas. Depois, intensificar a fiscalização para que o Plano Diretor de Arborização do Município, que institui inclusive multas, seja cumprido.
"Muitas pessoas não querem as árvores porque sujam as calçadas ou encobrem a fachada, no caso de estabelecimentos comerciais, e até pelo fato de servirem de esconderijos para ladrões. Porém, elas trazem muitos benefícios para a cidade. Um deles é o melhor conforto térmico. Estamos trabalhando para chegarmos a uma situação próxima do ideal", explica Roberta. Atualmente, há 2,3 mil processos autorizados na Sema para poda e erradicação de árvores. (W.S.)
SERVIÇO
A Sema disponibiliza, gratuitamente, mudas de árvores para quem deseja realizar o plantio.
Mais informações pelos fones (43) 3372-4762 e 3372-4763, das 12 às 18 horas.
Wilhan Santin
Especial para a FOLHA