Hospital São Rafael em processo de recuperação da credibilidade
CRM suspendeu indicativo de interdição ética; número de cirurgias aumentou de 90 para 200 por mês e taxa de ocupação de leitos está em 80%
Saulo Ohara
Hospital de Rolândia foi interditado em dezembro de 2015 e uma comissão do município assumiu a gestão
Rolândia - A administração, o corpo clínico e os pacientes de dois hospitais do Paraná ficaram mais aliviados com a suspensão, pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), do indicativo de interdição ética. Tanto no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), de Curitiba, quanto no Hospital São Rafael, de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), havia o risco de fechamento se não atendessem as exigências de segurança e de prestação de serviço. O indicativo de interdição ética é um instrumento do CRM que visa a garantia de prestação de serviços de qualidade por parte dos médicos, pois se o hospital não oferece suporte para que eles trabalhem com segurança, essa qualidade fica comprometida, o que vinha acontecendo nos dois hospitais.
A interdição do hospital em Curitiba aconteceu em junho de 2016 e no São Rafael e em dezembro de 2015. A liberação foi realizada no início de abril. Em função dos problemas no São Rafael, o Ministério Público pediu para que a prefeitura interviesse e uma comissão de administração assumiu o local, composta pelo diretor administrativo do hospital, Nilson Giraldi; pela diretora técnica Tatiana Müller e pelo diretor contábil e financeiro Júnior Camargo. "O indicativo de interdição ética é anterior à intervenção", destaca Tatiana. Em 2015 o hospital de Rolândia lidava com a falta de medicação, de farmacêuticos, de equipamentos e de estrutura mínima para seu funcionamento.
O secretário-geral do CRM, Luiz Ernesto Pujol, relata que o indicativo é a maneira do CRM pressionar a administração para solucionar esses problemas. A expectativa no caso do São Rafael não era boa; achamos que as coisas não iriam acontecer e que teríamos de fechar o local", revela. Seis meses depois do indicativo, o CRM enviou uma comissão para avaliar a situação em que alguma melhora pontual foi verificada, mas não eram suficientes. "Voltamos agora (dia 7) e tivemos uma assustadora impressão positiva do que foi feito pelo grupo administrativo, desde o entendimento do que o hospital precisava, do comprometimento dos médicos, da parte econômica, até a melhoria da estrutura física do hospital", aponta. "O hospital está saneado em todos os setores, com exceção da UTI, que permanece fechada e vai levar algum tempo para poder reativá-la."
"O município não aumentou o aporte de recursos. O segredo é que o hospital foi administrado com mais transparência e mais seriedade. Em agosto do ano passado o São Rafael voltou a ter título de filantropia que tinha perdido por oito anos", observa o prefeito de Rolândia, Luiz Francisconi Neto (PSDB). "É toda uma engrenagem. Para conseguir emendas parlamentares precisávamos de título de filantropia. Ao mesmo tempo, precisamos de indicações de políticos para conseguir liberação de recursos, mas o hospital estava sem credibilidade. A cada obstáculo que ultrapassamos ficávamos mais próximos da meta financeira e da prestação de serviço satisfatória", destaca Tatiana.
Giraldi explica que para isso o hospital diminuiu funcionários e reviu os processos, buscando soluções na tecnologia. "Usamos mais a inteligência e tecnologia para ter um processo mais enxuto, com menos gente", aponta. Ele ressalta que isso possibilitou equacionar problemas, como a falta de depósito do FGTS e do INSS pelo hospital e a falta de concessão de férias.
O trio que administra o São Rafael ressalta que ainda há um processo de recuperação da credibilidade para conseguir doadores. "Neste momento não pedimos doações em dinheiro. Solicitamos doação de materiais como lençóis, roupas e alimentação. Fazemos quase 600 refeições por dia e 90% vêm de doação. Não precisamos usar dinheiro de equipamento, medicamentos, enxovais para comprar comida. Os enxovais temos conseguido com as igrejas", aponta Giraldi.
Com a melhoria de condições, os médicos voltaram a procurar o hospital para trabalhar e, consequentemente, a quantidade de procedimentos aumentou. O número de cirurgias, que girava em torno de 90 por mês, passaram a ser mais de 200. "Temos a meta de fazer 300 por mês, que vai ser alcançada até o fim do ano. Zeramos a fila de ortopedia e de clínica geral", afirma Tatiana. Giraldi acrescenta que a fila de obstetrícia e ginecologia ainda vai ser equacionada. "A ginecologia tinha 120 mulheres na fila, algumas com 4 anos aguardando. Dessas, quem ainda não fez a cirurgia já está com ela agendada. Tudo isso porque dependiam de exames e isso já está resolvido", explica Giraldi. Ele garante que em 60 dias, o hospital vai voltar a ter tomógrafo. "Outros equipamentos já tínhamos, como o raio-X, endoscopia e ultrassom. Estamos implantando mamografia, que não tem no serviço público em Rolândia", destaca.
A taxa de ocupação dos leitos, que chegou a ficar em apenas 50%, hoje está em 80%. A servidora pública Vera Lúcia Silveira Garcia, 52 anos, foi uma das pessoas que voltou a procurar o hospital. "Ter um hospital na cidade e não poder contar com ele é muito ruim. Antes não tinha o medicamento e nem funcionários suficientes. Toda vez que precisava de um hospital eu ia para Cambé ou Londrina. Agora estou confiando que o hospital está mudando. Essa notícia da suspensão da indicação da interdição deixa a gente superfeliz", relata.
CURITIBA
O Hospital de Clínicas da UFPR estava com o indicativo de interdição ética atribuído às unidades de terapia pediátrica, neonatal e cardíaca. A instituição estava com dificuldades com os insumos, equipamentos de ecografias e de pessoal nas UTIs. Eles tiveram seus problemas sanados com licitações, aquisições de equipamentos e com a chegada de novos funcionários via Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)para que houvesse expansão nos serviços. Este indicativo foi realizado pelo CRM em 7 de junho de 2016, tendo sido prorrogado por mais 60 dias no final de outubro e somente no dia 27 de março foi suspenso. Desde a gestão anterior e, agora, dando continuidade, com um número de servidores adequados nas UTIs os problemas estão sendo resolvidos", afirma a superintendente do Complexo HC (CHC), Claudete Regianni. Ela planeja aumentar de 22 para 30 leitos de UTIs e pretende reabrir mais 200 leitos de internamento.
UPA de Sarandi está sob indicativo de interdição ética
A comissão do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) decidiu pelo indicativo de interdição ética no Pronto-Atendimento Gustavo Farias, em Sarandi (Noroeste). A UPA 24 horas passa por fiscalizações do CRM desde 2016 e, segundo o órgão, vem registrando problemas sérios à qualidade e segurança da assistência, que incluem falta de materiais e medicamentos básicos e profissionais.
O diretor técnico administrativo da UPA e da rede UBS do município, Allan Márcio Vieira da Silva, declarou estar preocupado com a situação. "Houve boicote às licitações, cancelamentos e tudo isso gerou um efeito cascata, culminando em desabastecimento e desinvestimento", afirma. "Com ações integradas conseguimos resolver 60% dos problemas listados pelo CRM-PR. Essa administração elegeu a UPA como prioridade número um. Estamos esperando concretizar esse primeiro ciclo de licitações até o dia 15. Mas a UPA consome um terço de toda a verba destinada para a saúde. Dos R$ 32 milhões destinados para o orçamento global de saúde em 2016, R$ 10 milhões foram destinados para a UPA. Temos que ser gestores e bem engenhosos para reestruturar tudo", declarou.
Segundo ele, Sarandi possui cerca de 100 mil habitantes e nove em dez habitantes do município dependem exclusivamente do SUS. "Temos 657 equipamentos dos quais 257 estão com problemas. Mas apenas uma nota de autorização de empenho para comprar algo precisa passar pelo Planejamento e se constatar que realmente precisa do equipamento eles mandam para a Fazenda para ver se tem o dinheiro para isso. Caso haja o recurso, vai para o Administrativo aprovar para poder pagar. Isso é só um empenho. Essa burocracia acaba atrasando todos os processos um a um", reclama.
Silva destaca que irá atacar em três pontos básicos: restruturação dos equipamentos; gestão da farmácia e reorganização dos recursos humanos. Apesar do prazo de três meses dado pelo CRM-PR, caso o serviço não demonstre possibilidade funcional ou ética e imponha risco à saúde dos usuários, poderá ser decretada a sua efetiva interdição a qualquer tempo. Atualmente a UPA possui 133 servidores, entre médicos, enfermeiros e outros profissionais. (V.O.)
Vítor Ogawa
Reportagem Local