A avenida Higienópolis parou por algumas horas nesta segunda-feira (17). Horas que irão ficar para ahistória da cidade de Londrina. Pelo menos cinco mil londrinenses - jovens, em sua maioria - saíram às ruas protestar contra a repressão policial vista em manifestações realizadas em São Paulo na última semana.
A indignação dos manifestantes foi traduzida nos cartazes levados por eles. "O gigante acordou!", anunciava um deles. "Borrachada de polícia tem gosto de ditadura", acusava outro. "Se tem para Copa, tem que ter para Educação. Quando seu filho ficar doente, leve-o ao estádio", ironizavam mais dois. "Temos que mudar a atual situação do Brasil. Quando vi o protesto de São Paulo na televisão, achei que os manifestantes estavam errados, mas pesquisei e vi que não é bem assim. O governo tenta maquiar a atual situação e a gente não pode deixar que isso aconteça. Ir para as ruas é um bom começo", disse o estudante Leonardo Luis Santos, de apenas 16 anos.
A manifestação teve início em frente ao Teatro Ouro Verde. Grupos dividiam as reivindicações. Uns usavam máscaras. Outros acendiam sinalizadores verdes para deixar o protesto mais chamativo. Muitos levavam buzinas, apitos, a voz. A concentração no calçadão foi feita entre 17h e 18h. Às 18h10, o os manifestantes começaram a marchar. Andaram o calçadão inteiro. "Vem pra rua!!", gritavam em uníssono, tentando chamar a atenção dos moradores dos prédios residenciais e de quem ainda trabalhava no comércio.
O número de pessoas, que já era grande, foi se tornando cada vez maior. Jovens universitários. Mães com os seus filhos. Um homem com dificuldade de locomoção usava moletas, mas andava com os demais, mesmo assim. "A energia deles me motiva", disse quando questionado sobre o problema relevado.
O protesto, apesar de gigantesco, não foi interrompido. Agentes e veículos da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) fizeram o acompanhamento da marcha apenas no começo. A Polícia Militar (PM) ficou de longe e optou pela não intervenção. A marcha parava eventualmente, para o descanso e o fluxo dos carros. O grupo optou por paralisar o protesto, por poucos minutos, em trechos conhecidos da avenida Higienópolis, no cruzamento com a rua Espírito Santo, na rotatória com a avenida Juscelino Kubitschek e no balão da avenida Madre Leônia Milito. Em todas as paradas, os manifestantes soltavam a voz e relembravam a importância da liberdade de expressão. "O povo unido jamais será vencido!", repetiam grande parte deles. "Sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor!", cantavam em seguida.
Apesar da grande aglomeração, nenhuma confusão de grande monta foi registrada. Quando um ônibus foi pichado, uma manifestante foi à frente do grande grupo e criticou: "temos que lembrar que esse protesto é pacífico!", disse. A jovem foi vaiada por alguns, mas teve a mensagem levada em conta pela maioria.
Em frente ao Iate Clube, o grande grupo quebrou o protocolo, mudou o trajeto - não virou na rua Joaquim de Matos Barreto - e optou por seguir pela Higienópolis. Na rotatória da Madre Leônia, o grupo impediu o tráfego de veículos. O autônomo Maurino Martins, de 65 anos, um dos motoristas interrompidos, não ligou. "A manifestação é legítima e tem que continuar assim, pacífica, sem violência. Eles têm o direito de reclamar. São jovens e precisam lutar por um futuro melhor", destacou.
Na parada, alguns sugeriram a ideia de ir para o prédio da prefeitura, mas a grande maioria seguiu até a avenida Ayrton Senna e desceu para o aterro do lago Igapó II, onde a marcha terminou quase três horas após o início. "A mensagem foi mais do que importante. As autoridades não interviram e isso fez com que a manifestação acontecesse da melhor forma possível", ressaltou o mecânico Wellinton Oliveira, de 27 anos. "É um evento que vai ficar para a história. O londrinense mostrou que não vai mais aceitar tudo o que está acontecendo", complementou o vendedor Lincoln Normando, de 23 anos.
A veterinária Hannah Lia dos Santos, de 25 anos, disse que o protesto de Londrina fez coro às manifestações realizadas em diversas cidades do país. "Mostra que o povo está unido. Independentemente de cor, credo, classe social", disse. "Vamos esperar que não pare. Isso precisa ser o início de algo que veio para melhorar a nossa vida. Para fazer com que a gente tenha ainda mais orgulho do nosso país", argumentou o estudante Wagner Mariano Schimitt, de 24 anos.
Uma pequena parte do grupo continuou a marcha pela avenida Maringá. Os manifestantes também passaram pelas avenidas Tiradentes, Leste-Oeste, Rio Branco e acabaram com o protesto no Terminal Central, onde pularam catracas e barraram a saída de alguns ônibus. Apesar disso, não houve o registro de tumultos ou intervenções.