FOLHA DE LONDRINA - 18/07/2014
Cem anos muito bem vividos
Pioneira alemã comemorou o centésimo aniversário ontem em Rolândia; mata fechada do início da colonização avivou paixão pela natureza
Cercada da família, a pioneira Annelise Köhrmann Jung apagou as velas de seu 100º aniversário
Rolândia – Os cem balões soltos no céu de Rolândia, no início da tarde de ontem, deram início às comemorações ao centésimo aniversário da pioneira Annelise Köhrmann Jung. Filhos, sobrinhos, netos e bisnetos se reuniram no Sítio São Joaquim, de propriedade da enteada Gisela Jung Pagano, para homenagear a matriarca da família. Lúcida, Annelise recebeu os convidados e relembrou histórias marcantes.
Nascida em Düsseldorf, na Alemanha, ela chegou no Brasil em 1937. Após breve passagem pelo interior de São Paulo, pegou o trem em Ourinhos (SP) com destino à então mata fechada. "Haviam poucas famílias. Os homens abriam a mata e as mulheres ajudavam na criação de porcos e gado", lembrou. A aventura de deixar um país estruturado para começar uma nova vida em uma região inóspita nunca a assustou. "Quando você é jovem, tem que seguir em frente, tem que se virar", aconselhou, com o carregado sotaque alemão.
Os perigos da mata, que assustavam muitos imigrantes alemães, causavam fascínio em Annelise. A paixão pela natureza só aumentou com o passar do tempo. Na Fazenda Água do Canyon, onde mora, ela mantem um bonito jardim de inverno na sala principal. Ao lado da casa, há uma estufa e um orquidário com espécies raras de plantas oriundas de várias partes do país. Mimos do falecido marido que viajava bastante. A biodiversidade brasileira foi amor à primeira vista.
Sentada na cadeira da espaçosa varanda do sítio, ela também se recordou da inseparável companheira Boneca, uma égua da raça mangalarga marchador. "Tinha um porte muito bonito. Ela nos levava até a venda para comprar os mantimentos". Vez ou outra, Annelise pedia ajuda dos parentes com os nomes dos personagens de suas histórias. "Não sei porquê ainda pergunto para vocês. São todos novinhos, não vão se lembrar mesmo", brincou.
A memória afiada é um dos orgulhos da pioneira, que segundo o neto Herman Cuellar, de 39 anos, nunca perdeu uma partida de gamão. "Nunca consegui ganhar dela. Já nem tento mais". Além dos jogos de tabuleiro, Annelise ainda lê os clássicos em alemão de sua biblioteca e faz palavras-cruzadas. "Além do ar fresco do campo, acho que o segredo é não se entregar. Continuo com minhas atividades normalmente".
Cuellar, que é advogado em Curitiba, contou que todo ano vinha passar as férias no sítio da avó. Nos últimos anos, traz os filhos Lucas, 8, e Gabrielle, 13, para resgatar as memórias da família. "É uma sensação indescritível poder estar com meus filhos aqui para homenageá-la. Ela é uma guerreira", destacou. O advogado lembrou que, apesar da idade, a avó sempre se manteve atenta às novidades. "Quando ela conheceu o GPS foi muito legal. Ela sempre foi muito ligada à mapas, tanto que minha mãe é professora de geografia".
Após o almoço com comidas típicas – pato ao molho de laranja e purê de batatas com repolho roxo – Gisela agradeceu a presença de todos e espera repetir a dose no ano que vem. "Chegar aos 100 anos com toda essa saúde é um presente pela tenacidade e bondade com que ela conduziu a vida ", frisou a enteada. Convidado ilustre, o prefeito Johnny Lemann enalteceu a importância da data. "É muito gratificante presenciar este momento, que é uma continuidade da história de Rolândia. A experiência de Annelise, pioneira que se embrenhou nestas matas para colonizar a cidade, é um orgulho para todos nós", pontuou.
Celso Felizardo
Reportagem Local