Sem forro, para que a fumaça das lamparinas e
lampiões dissipassem, e não prejudicassem muito a saúde dos moradores.
Tinha também um porão, onde os sitiantes guardavam
alguns apetrechos típicos da época. Ex.: rodas de carroça, debulhadeira
de milho, balanças, arreios, enxadas, rodos e enxadões.
Era comum também os cães, porcos e galinhas se
protegerem nestes porões à noite, motivo pela qual aparecia muitas pulgas
nas casas.
Para combater as pulgas os agricultores usavam o inseticida
"BHC” muito perigoso.
As janelas e portas eram feitas com tábuas.
não havia vidros. para ventilar ou clarear tinha que abrir totalmente
as janelas. com chuva e frio era muito difícil.
99% destas casas tinham também fogão caipira a
lenha feitos com tijolos e barro. A comida ficava gostosa, mas sempre havia
poluição com a fumaça que as vezes não subia pela chaminé.
A parte boa do fogão caipira é que o mesmo aquecia
a casa e os moradores na época do inverno.
Era muito gostoso fazer uma refeição ou tomar um
café ao lado do fogão aceso.
À noite, quando aparecia visitas, o fogão mantinha
todos aquecidos e, aí, era muitas estórias de assombração.
90% das famílias usavam grandes bacias para os
banhos. Poucas famílias tinham chuveiros com cordinha.
Nas primeiras décadas muitas famílias não possuíam
sequer casinha tipo privada para as necessidades fisiológicas. tempos difíceis.
A maioria da molecada não usava sapatos. estavam
sempre descalços. Botinas chegavam a ser um luxo.
Os adultos aprendiam a fumar cigarros de palhas
para espantar os mosquitos. Eram uma verdadeira praga.
A comida era sempre arroz, feijão, mandioca,
verduras e legumes cultivados nas propriedades. Havia muitas galinhas, frangos,
ovos e porcos. Carne de boi era um luxo para poucos. As vezes consumiam carne
seca e peixes salgados.
Nos sítios não se consumia refrigerantes, iogurtes,
maionese, ketchup, frutas do tipo maçã pera, mas havia muitas laranjas,
tangerinas e mexericas.
Muitos tinham uma vaca para produção de leite e
queijos.
Ninguém era poupado do trabalho. Até as crianças
quando vinham da escola, iam para a roça, carpir, plantar e colher.
As 10 horas da manhã eram levadas as refeições para
os adultos na roça, no meio do cafezal. De sobremesa eram consumidas laranjas
diretamente do pé,
Descanso só nos feriados e quando chovia muito.
Quando caia uma chuva fina, os pais iam com os
filhos roçar pastos e cuidar das reformas das casas, tulhas, paiol e arreios.
Ao acordar ouvíamos os passarinhos cantando
(alvorada) lá no pomar. O dono da casa, quando tinha um rádio, ligava pra ouvir
Tonico e Tinoco e outros cantores sertanejos. Enquanto a dona de casa estava
preparando o café, tirando água do poço, o marido ia para o curral ordenhar as
vacas e trazer o leite para as crianças.
Ao cair da noite, quem tinha rádio acompanhava as
notícias do brasil ouvindo o repórter Esso e " a voz do brasil".
99% das propriedades tinham como benfeitorias,
paiol para o milho. tulha para o café, terreirão para a secagem do café,
chiqueiro para os porcos, curral para separar as vacas dos bezerros, ordenha
e galinheiro.
Havia também um espaço para a horta e para o
plantio de pimentas, pepinos, alho e cebola.
Havia sempre o pomar para as frutas. Todos os
sítios tinham plantados laranjas, tangerinas e mexericas entre outras. A
molecada chupava as frutas lá em cima, diretamente do pé de mexerica.
A parte ruim: havia muito bicho de pé, ratos e
pulgas.
Diversão aos sábados eram os bailes debaixo
de encerados. A música era ao vivo com sanfona e violão.
Em noites de lua cheia os jovens andavam a pé quilômetros
atrás de bailes de sanfona. Iam conversando e contando causos pra passar o
tempo.
Aos domingos, muitos iam assistir peladas de
futebol nos patrimônios. Aí, alguns gastavam um pouco, comprando picolés de groselha
e paçoquinhas. Tubaína era pra poucos. Quando alguém comprava dividia com a
família. Um copo para cada um.
Acontecia também as festas juninas, com
fogueiras, pipocas, bolos, canjica, quentão e leite com chocolate.
Na festa de São João à meia noite muitos
atravessavam tapetes em brasa, descalços, para provar a fé. Eu fui um deles.
Havia também novenas, com muita reza. Após
sempre saia um chá com biscoitos caseiros.
Os sitiantes eram muitos unidos. acontecia sempre mutirões
para colheitas. Um vizinho ajudava o outro.
Poucos tinham carros e caminhões. A maioria nem
carroça puxada com animal tinha.
Nos dias de chuva, haviam muitas dificuldades para
estes sitiantes e porcenteiros se locomoverem para a cidade. Nestes dias de
chuvas, quando aparecia uma enfermidade a noite, era um tormento ir atrás de
socorro.
Quase todo sitiante tinha uma família de
porcenteiros morando próximo. O café ocupava muito mão de obra o ano inteiro.
A molecada gostava muito nos dias em que os pais e os
avós matavam porcos. Era uma fartura. Muita carne frita no tacho. Faziam
linguiça e codeguim.
Todo o dia, além dos serviços da roça, tinham que
dar comida e água para os animais, debulhar milho, e cortar cana para as
vacas e cavalos.
O dia mais feliz do mês era ir pra cidade fazer
compras para o mês. Neste dia a molecada tinha direito a um picolé, uma
paçoquinha e um copo de tubaína.
Por ocasião do natal e ano novo, os parentes
apareciam. Era um almoço especial com leitoa, frango assado, macarrão, guaraná
da antártica e cerveja quente. Não havia geladeiras.
Diversão para a molecada depois das tarefas, era
andar a cavalo e nadar no riacho e cachoeira.
Pouquíssimas famílias tinham rádios. Depois
da janta, por volta das 20 horas, todos iam dormir.
Não havia energia elétrica. Televisão o povo da
roça via quando visitava algum parente na cidade ou em alguma loja. Era muito
bom assistir o Bonanza e Rin Tin Tin.
Fazia frio, sol ou chuva, os adultos acordavam com
o segundo canto do galo, por volta das 5h da madrugada.
Era muito triste quando geava. Os agricultores tinham
que esperar depois mais dois ou três anos para uma boa colheita de café.
Antigamente o governo não liberava nenhum tipo de
ajuda para os agricultores. Eles tinham que ser muito fortes e trabalhar
muito, sem nenhum amparo social, como temos hoje.
A noite a gente dormia cedo ouvindo os grilos e
sapos.
José Carlos Farina
FOTO MARCOS DA TV PARDAU