FOLHA DE LONDRINA
06/02/2013
Retorno às aulas marcado pela tragédia
Rolândia - Dez dias após o incêndio da boate Kiss, que vitimou 238 pessoas na cidade de Santa Maria (RS) e deixou outros 92 gravemente feridos, as aulas na Universidade Federal retornaram anteontem. Apenas da instituição, foram 140 alunos que morreram. Dezenas deles, ex e futuros alunos do professor universitário dos cursos de Engenharias e Agronomia, Jaime Freiberger Junior, que estava na boate.
Natural de Rolândia (Região Metropolitana de Londrina), Freiberger mora há quatro anos em Santa Maria. Segundo ele, o trauma e o clima de tristeza ainda são grandes na universidade e ainda está difícil retomar qualquer conteúdo das disciplinas.
"Eu não tinha condições de chegar no primeiro dia de aula e ensinar qualquer que fosse o tema. Os alunos muito menos. Levei uma caixa de isopor com picolés para eles, nos sentamos numa sombra e fizemos uma reflexão de tudo o que aconteceu e como iremos retomar a rotina e os estudos daqui em diante", conta.
Da turma em questão, dos 14 alunos do curso de Engenharia Ambiental, apenas dez compareceram. Alguns deles estavam na boate, mas um continua internado em estado grave.
Apesar do luto e da revolta, o professor diz que será inevitável a realização de avaliações das disciplinas o quanto antes. "Tivemos uma extensa greve e o semestre deverá ser finalizado em março. Os professores ainda estão analisando qual vai ser a melhor maneira para realizar essas provas, porque é visível o abalo desses jovens. Há turmas que perderam muitos alunos de uma mesma sala."
Freiberger acrescenta que a universidade disponibilizou um Centro de Referência com atendimento de psicólogos e assistentes sociais para os estudantes s afetados direta ou indiretamente pela tragédia. Esse acompanhamento, para ele, é de extrema importância para que todos consigam superar a tragédia e minimizar a dor. "O trauma foi muito grande para todos nós. Não sei como vou lidar com os alunos daqui para frente. Teremos que reconfigurar todo o cenário pedagógico, pois todos estamos abalados. Nas conversas, tanto das pessoas que conseguiram se salvar quanto dos familiares, há muita culpa e arrependimento. Vai ser difícil esquecermos desse dia e voltarmos à vida ao normal", analisa.
Marian Trigueiros
Reportagem Local
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