Aposentado planta 16 mil árvores em áreas abandonadas na zona leste de SP
LETÍCIA MORI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Caminhando pela parte mais fechada da vegetação até o local onde as mudas são recém-plantadas, o administrador aposentado Hélio da Silva, 62, sabe dizer a idade de quase todas as árvores do parque linear Tiquatira, na Penha, zona leste. É ele quem vem plantando exemplares na região há dez anos.
Jequitibá, ingá, pitangueira, jacarandá... Hélio aponta suas favoritas e conta história. "Essa aqui é uma imbaúba. Essa outra, calabura, atrai 52 espécies de passarinho."
Mesmo tendo voltado a trabalhar após a aposentadoria, Hélio começou a plantar em 2003, às margens do rio, que fica a alguns quarteirões de sua casa. "Isso tudo era um descampado, cheio de sujeira."
Hélio da Silva, 62, plantou mais de 16 mil árvores no parque linear Tiquatira, na Penha
A ideia era colocar 5.000 unidades; hoje, na contagem do próprio Hélio, são 16.591 árvores de 170 espécies diferentes, a maioria nativa da mata atlântica. "Algumas pessoas acham que sou funcionário da prefeitura", afirma ele, que teve de conseguir autorização da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente antes de plantar e não ganha nada pelo trabalho. Por um tempo, diz que gastou R$ 2.000 por mês com mudas e adubo.
PROBLEMAS
Além de plantar, é preciso cuidar da herança que ele diz deixar para os três filhos, os netos e a cidade. Assim, agora no outono, que não é época de plantio, ele poda as mudas. "São Paulo me deu tudo. Estou só retribuindo." Ele conta que, quando começou, achavam que era louco. Sua mulher, Leda Vitoriano, era uma dessas pessoas. "Eu dizia: 'Você faz tudo e quem vai levar a fama são os vereadores'", conta ela, que acha que o casal comprou brigas desnecessárias. A principal foi com comerciantes da região, já que a vegetação começou a tapar a visão das lojas da avenida Carvalho Pinto. As primeiras 500 mudas foram destruídas. "De cada dez que eu plantava, arrancavam oito." Após quatro anos e 5.000 árvores, a prefeitura transformou, em 2007, o Tiquatira no primeiro parque linear (ao longo de rios) da cidade e lá instalou banheiros e equipamentos de lazer. Há 12 anos no ponto, o vendedor de coco Antônio Ferreira, 52, testemunhou o processo. "As pessoas começaram a caminhar mais aqui, o movimento dobrou." Mas Hélio também ouve piadinhas. "Me perguntam para quem estou plantando. Digo: 'Pro seu neto, porque logo, logo você já era!'."
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