Auditoria da Petrobras
Investigação descobriu preços 1.600% acima do mercado. Contrato de mais de US$ 820 milhões foi cortado para pouco mais da metade.
O Bom Dia Brasil teve acesso a uma auditoria interna da Petrobras que revela detalhes de irregularidades em um contrato com a construtora Odebrecht.
O contrato foi fechado em 2010, no valor inicial de mais de US$ 820 milhões. Os auditores encontraram preços superfaturados, como, por exemplo, pedreiros recebendo salários de mais de R$ 22 mil. Depois da auditoria, o contrato foi cortado para pouco mais da metade do valor.
Os auditores da Petrobras analisaram a licitação, a fiscalização e as condições do contrato com a Odebrecht, fechado em 2010. A TV Globo teve acesso a auditoria, feita quase dois anos depois da assinatura do contrato.
A construtora venceu uma disputa para fazer estudos nas áreas de segurança e meio ambiente no Brasil e mais nove países. Um contrato de valor inicial de mais de US$ 820 milhões.
Os auditores encontraram preços superfaturados. Só na Bolívia, os custos superaram em mais de 1.600% os valores de mercado. No Chile, esse índice foi de quase 600%.
Em razão das irregularidades, o contrato foi limitado a quatro países e o valor, reduzido para US$ 481 milhões, no ano passado.
A conclusão: houve muito mais gasto com escritórios e pessoal do que com os serviços contratados. A Petrobras aceitou informações ultrapassadas e condições excessivamente onerosas para a estatal.
De acordo com o documento, a Odebrecht venceu a licitação mesmo sem detalhar serviços e custos. A auditoria comprovou ainda que, mesmo sem dar informações básicas, a Odebrecht não foi questionada pela Petrobras.
Depois de vencer a licitação, a construtora contratou uma empresa por R$ 29 milhões para detalhar projetos que a própria Odebrecht já deveria ter feito. Segundo os auditores, a construtora conseguiu fechar contrato com a Petrobras mesmo sem apresentar dados suficientes em 80% desses projetos.
Além disso, os técnicos dão exemplos de itens aprovados, mesmo a preços exorbitantes: aluguel de três máquinas fotocopiadoras por mais de R$ 7 milhões e pedreiros com salário de R$ 22 mil por mês.
Pelo plano de ação, que inclui contratação de pessoal e aluguel de escritórios, a Petrobras pagaria US$ 33 milhões. A auditoria constatou que comprar um imóvel novo com área e instalações equivalentes não custaria mais que US$ 4 milhões.
À época do contrato, em 2010, o presidente da Petrobras era o petista José Sérgio Gabrielli, hoje secretário de Planejamento da Bahia. Mas o contrato foi aprovado por mais seis diretores, entre eles Graça Foster, atual presidente.
Em nota, a Petrobras diz que os processos de licitação, contratação e execução de serviços são constantemente avaliados pela sua auditoria interna. E reforçou que a renegociação limitou a abrangência do contrato a quatro países.
Mas a estatal não respondeu se diretores da empresa foram alvo de investigação interna ou se já prestaram depoimento a órgãos de controle.
A renegociação do contrato e a redução do valor, por causa das irregularidades, foram feitas na gestão da atual presidente, Graça Foster, em junho do ano passado, quatro meses após ela assumir o comando da estatal.
A assessoria do ex-presidente da Petrobras e atual secretário de Planejamento da Bahia, Sergio Gabrielli, foi procurada, mas não retornou as ligações do Bom Dia Brasil.
A direção da Odebrecht não quis gravar entrevista. A assessoria divulgou nota onde informou que o contrato foi concluído na última sexta-feira, 28 de fevereiro, como previsto.
A construtora também negou irregularidades nos contratos com a Petrobras conquistados por meio de concorrências públicas. Disse ainda que desconhece os questionamentos da auditoria da estatal.
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