FOLHA DE LONDRINA
08/04/2014
Aprendendo com a diversidade da natureza
Projeto da Fazenda Bimini, em Rolândia, estimula nas crianças a reflexão sobre o processo de competição no meio ambiente e na sociedade
As crianças também foram no riacho observar os lambaris, que não se trombam e vivem em harmonia
Num antigo terreirão de café, os pequenos desenharam com giz de cera suas representações das copas de árvores
No passeio pela mata, os alunos receberam explicações sobre o processo de decomposição do material orgânico
Há quase 20 anos a Fazenda Bimini, em Rolândia, realiza um respeitado trabalho de educação ambiental na região e em 2014 - aproveitando a iminência da Copa do Mundo, este ano, e da Olimpíada, em 2016 – as atividades estão sendo direcionadas para a reflexão acerca do processo de competição que acontece na natureza e na nossa sociedade. Na semana passada, 19 alunos do segundo ano do fundamental 1 da Escola Roland, de Rolândia, puderam participar de um dia de campo cheio de surpresas e aprendizagens. A ideia é valorizar a natureza como uma grande escola.
Seja a partir da observação da diferença entre as copas das árvores e até deles mesmos, o tempo todo os alunos são lembrados que a diversidade faz parte da vida e é necessária para o desenvolvimento do meio ambiente e da humanidade como um todo. Com atividades práticas, como uma brincadeira de cabo de guerra e até a simulação de um pódio com bichos de pelúcia, os alunos são levados a refletir sobre os diferentes processos de competição. Os tijolos enfileirados com carinhas tristes serviram para demonstrar o perigo da padronização/massificação. "É preciso valorizar a riqueza que existe na individualidade e criatividade de cada um", lembra o educador Daniel Steidle, que não por acaso estava caracterizado de ovelha negra.
Na natureza, a competição é marcada pela sobrevivência, em um ciclo dinâmico em que tudo é reaproveitado. A árvore que cai é a mesma que irá servir de fonte de nutrientes para as plantas que estão se desenvolvendo - bem diferente das competições entre nós, em que o desejo pelas condecorações parece predominar. "A Olimpíada na natureza é para sobreviver. A Olimpíada na nossa sociedade é para concorrer", lembra Steidle.
No antigo terreirão de café, as crianças fizeram desenhos com giz de cera das suas representações das copas de árvores. Pelo resultado, deu para perceber que definitivamente cada um tem uma forma diferente de enxergar o meio ambiente que o cerca, com suas formas e cores diferentes.
Cinema no antigo paiol
No Cine Paiolzão, montado no antigo paiol da fazenda, com piso de peroba-rosa, as crianças puderam assistir a um trecho do clássico "Tempos Modernos", de Charles Chaplin, que demonstra com propriedade o processo de um trabalho repetitivo e extenuante. Antes, puderam observar a reprodução de uma imagem de um rebanho de carneiros brancos com apenas um de cor preta. Mais um exercício de percepção. No final, se encantaram com parte do documentário "Planeta Terra" (BBC), que mostrou imagens impactantes sobre o processo de competição na natureza entre plantas e animais. "Todos esses filmes têm em comum a temática ambiental da superação, da coragem, do agir individual", observa o educador.
Após assistirem aos filmes, eles ainda fizeram uma atividade de observação para colocar em prática alguns dos conceitos observados. Diante de pequenos cogumelos ou da imensidão de um bambuzal, a chance de observar a natureza com mais calma e atenção. Eles também puderam experimentar bambu em conserva, preparado por Ruth Steidle, mãe de Daniel, e se deliciaram. "É preciso conhecer bem para poder conviver bem. E mesmo na cidade podemos aprender com a observação da natureza que ainda está presente", salienta Steidle. No passeio pela mata, mais explicações sobre o processo de decomposição do material orgânico. Para finalizar, eles ainda foram no riacho observar os lambaris, que não se trombam e vivem em harmonia.
"Esse tipo de atividade é fundamental para despertar nos alunos um outro tipo de consciência ambiental, pois eles vivenciam na prática muitos dos conteúdos que os livros trazem apenas na teoria e são difíceis de praticar na sala de aula. E esse enfoque sobre a competição é muito importante para reforçar entre eles a importância da ajuda mútua, do cooperativismo, combatendo esse estímulo exacerbado hoje em dia pelo individualismo e o consumismo", destaca a professora Rita Cristina Schuster.
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