FOLHA DE LONDRINA
Polêmica marca Dia do Pioneiro
Determinação do Iphan que autoriza transferência de locomotiva de Londrina para Curitiba foi a tônica de evento comemorativo realizado ontem no Museu Histórico
Locomotiva Baldwin 840, que foi reformada e hoje está exposta no museu, também corre o risco de ser transferida para Curitiba, além da Manobreira 10 que está em terreno do PAI
Os tons de crítica e indignação marcaram os discursos proferidos na manhã de ontem durante festividade em prol do Dia do Pioneiro realizada no Museu Histórico Padre Carlos Weiss, em Londrina, com a eminência da retirada oficial da Locomotiva Manobreira 101, La Meuse, nesta terça-feira, seguindo determinação da Superintendência do Paraná do Instituto Brasileiro do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Como ação prática para tentar impedir a medida, alunos do curso de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL) aproveitaram o evento para dar início a um abaixo-assinado que será encaminhado à sede nacional do Iphan, em Brasília, pedindo a revogação da portaria que autoriza a transferência da locomotiva - hoje mantida sob guarda da Prefeitura Municipal de Londrina em terreno que faz parte do Pronto Atendimento Infantil - para Curitiba, onde poderá vir a ser utilizada em circuito turístico pago sob a administração da Associação Brasileira de Patrimônio Ferroviário (ABPF). A locomotiva Baldwin 840, que foi reformada e hoje está exposta no museu, também corre o risco de ser transferida para Curitiba. A solenidade contou com aproximadamente 500 participantes, entre pioneiros, familiares e comunidade em geral. Na abertura, uma encenação simulou a locomotiva em funcionamento, com direito a fumaça, apito de trem e toque de sino.
"Esse evento é muito importante pelo reconhecimento de milhares de pessoas que trabalharam e se esforçaram pela construção da nossa cidade e também pela reflexão sobre os destinos de Londrina e a preservação do seu patrimônio histórico, dentro de um espírito empreendedor. As locomotivas são símbolos importantes da nossa história e desde 2014 havíamos solicitado a transferência da Manobreira para o museu para que pudêssemos dar início a um projeto de restauração e musealização do equipamento. Não houve negligência da nossa parte e a decisão do Iphan foi arbitrária, não houve um debate sobre o assunto antes de tomarem essa decisão", destaca a diretora Regina Célia Alegro, do Museu Histórico de Londrina, que chegou a declarar que colocaria o seu cargo à disposição em caso de necessidade.
Um dos responsáveis pela instalação do curso de Medicina na UEL, o médico Lauro Castro Brandão, de 84 anos, chegou em Londrina em 1935, aos cinco anos, juntamente com seus pais. "O meu pai deu início à colonização na cidade e agora é hora de fazer um ‘grito’ de conclamação para que a sociedade se una e pense na importância da nossa região como um todo. É inadmissível que esse tipo de coisa aconteça, desvalorizando o nosso patrimônio. É preciso uma maior movimentação de política e opinião para retomar os rumos do nosso progresso", ressalta.
A dona de casa Helena Marchezine Gouveia, de 90, lembra bem do dia da chegada da primeira locomotiva, em 1935, na antiga estação ferroviária, onde hoje funciona o museu histórico. "Foi o evento da cidade. Eu tinha 10 anos e parece que foi ontem que isso aconteceu. Lembro claramente que na frente da locomotiva tinha as bandeiras do Brasil e do Paraná e, na parte de trás, a da Inglaterra. Era bonito de ver. Amo Londrina e não acho justo que as locomotivas sejam transferidas para Curitiba", critica. Emocionada, Gladys Lessa, de 82, filha do pioneiro José Bonifácio e Silva, que contribuiu para a construção da Santa Casa de Londrina, estava indignada com a polêmica sobre as locomotivas: "Não tem sentido uma coisa dessa", desabafa.
Por telefone, a secretária municipal de Cultura, Solange Batigliana, disse que não pôde participar da solenidade devido a um imprevisto particular e informou que foi comunicada no final da manhã de ontem sobre o agendamento de uma reunião no Iphan Paraná, em Curitiba, marcada para segunda-feira, às 11 horas. "Existem vários pontos a serem esclarecidos e essa reunião será a oportunidade para tentarmos reverter essa situação. É preciso uma avaliação em conjunto com os nosso parceiros e defendemos a importância da preservação do nosso patrimônio histórico", alega. Segundo ela, o agendamento é resultado de uma mobilização que envolveu os deputados federais Alex Canziani (PTB) e Marcelo Belinati (PP) e o deputado estadual Tercílio Turini (PPS).
Ana Paula Nascimento
Reportagem Local
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