FOLHA DE LONDRINA
Burocracia dificulta vida de pacientes renais
O pensionista Ary Rodrigues gasta quase três horas, além da sessão de hemodiálise, na ida e volta de Santa Cecília do Pavão para Londrina
"Quando precisamos marcar uma sessão extra, é difícil porque já tem muita gente", observou Agilson Policarpo
Há seis anos, três vezes por semana, o dia do pensionista Antônio Belarmino da Silva, de 64 anos, começa cedo. Morador de Rolândia, ele levanta às 4 horas da manhã para pegar o transporte que a prefeitura oferece e segue até Londrina para fazer hemodiálise. A rotina de sessões, que duram em média quatro horas, poderia até ser mais leve, caso a clínica de Rolândia apta a tratar doença crônica renal já estivesse funcionando com credenciamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A unidade foi inaugurada em dezembro passado, mas ainda segue no aguardo da habilitação pelo Ministério da Saúde.
Investimento de um grupo privado na ordem de R$ 4,5 milhões, a Clínica do Rim de Rolândia tem capacidade para atender até 240 pacientes de 14 municípios. A área compreende uma população de mais de 200 mil pessoas. A estrutura conta com 40 máquinas novas para atender um público que hoje precisa ficar na estrada em busca de tratamento. "Saímos muito cedo de casa, perdemos quase o dia todo. E não podemos deixar de fazer a hemodiálise. É como se fosse uma prisão sem dever nada", comentou Silva.
Este também é o caso do serralheiro Agilson Policarpo, de 36, também de Rolândia e que há quatro anos faz hemodiálise em Londrina. "Se a clínica de Rolândia funcionasse, seria bem mais tranquilo para nós. Além disso, aliviaria o fluxo na clínica de Londrina. Hoje, quando precisamos marcar uma sessão extra, é difícil porque já tem muita gente", observou.
De Santa Cecília do Pavão, município a 90 km de distância de Londrina, o pensionista Ary Rodrigues, de 79 anos, conhece bem as dificuldades para tratar insuficiência renal crônica longe de casa. Impossibilitado de passar por um transplante de rim por conta de restrições de saúde, ele gasta quase três horas, além da sessão de hemodiálise, na ida e volta da cidade dele até Londrina. "É cansativo demais", definiu.
Diretor das clínicas do Rim de Rolândia e Londrina, o médico Getúlio Amaral Filho relata que, dos 300 pacientes atendidos em Londrina, 100 são de municípios da região de Rolândia e que poderiam ser atendidos naquela cidade. A maioria depende de vans e micro-ônibus das prefeituras, gastando, em média, 1.400 horas em viagens por mês. Este tempo poderia ser investido em qualidade de vida. "São os pacientes que fazem os maiores deslocamentos para fazer hemodiálise em Londrina. Ficam das 6h às 10h da manhã na máquina e chegam em casa por volta do meio-dia", pontuou.
Segundo ele, boa parte deste público tem a saúde debilitada e costuma passar mal na volta. "Em geral, eles já têm outros problemas de saúde, como pressão alta, diabetes, problemas cardíacos. O transporte prolongado pode causar a eles tontura, náuseas, vômitos, desmaios. Isso é muito comum de acontecer."
O médico salienta que, apesar da nova clínica estar pronta, o funcionamento segue impedido por entraves burocráticos. "Já tivemos em torno de nove idas e voltas de documentos", assinalou. De acordo com a chefe da 17ª Regional de Saúde (RS), Teresinha de Fátima Sanchez, o governo do Estado está acompanhando o caso. "Instruímos o processo, fizemos cálculos, habilitamos pacientes que vão para lá. Está tudo certo, mas cada vez mais pedem algo novo", destacou.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informou, em nota, que a habilitação do serviço em Rolândia tem pendentes documentos de responsabilidade do município, como cópia da publicação, em Diário Oficial, do extrato de contrato do município com o estabelecimento de saúde. O Ministério aguarda a adequação da documentação para a liberação do credenciamento.
Conforme o secretário de Saúde de Rolândia, Érico Ignácio, até então não há informações sobre a necessidade de envio de documentação do município ao Ministério da Saúde em relação à clínica de nefrologia. "A prestação de serviço é regional. Não caberia ao município, mas ao governo do Estado. Não temos qualquer tipo de contrato com a clínica", salientou.
Antoniele Luciano
Reportagem Local
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