A primeira médica de Rolândia
Converso com a Dra. Maria de Lourdes — e o meu dia se ilumina
Há 100 anos, na manhã de 26 de janeiro de 1917, um soldado do exército italiano passava pela aldeia de Santa Maria La Longa, localizada na província de Udine, ao norte da Itália. Provavelmente o jovem militar estava de folga naquele dia. Ao acordar, contemplou o céu da manhã fria — era inverno na Europa em guerra — e escreveu à margem de uma folha de jornal atrasado: "M’illumino d’immenso". Ilumino-me de imenso. O curtíssimo poema "Mattina" (Manhã) colocaria a modesta Santa Maria La Longa na história da literatura universal. O nome daquele soldado-poeta era Giuseppe Ungaretti, autor de uma das mais importantes obras literárias modernas no idioma de Dante. Os moradores de Santa Maria La Longa ergueram um monumento em homenagem a Ungaretti, que hoje pode ser visto por todos que visitam a aldeia.
M’illumino d’immenso. Às vezes, se me sinto angustiado pelas pressões do cotidiano — essas que não perdoam nenhum de nós —, abro o livro de Ungaretti e releio o seu pequeno poema. Tento imaginar a situação do jovem de 29 anos, que dentro de alguns dias estaria de volta às trincheiras da Grande Guerra, enfrentando a possibilidade concreta da morte no instante seguinte, por um sim ou por um não. Nessas horas descubro que sou um homem afortunado. Contemplo o céu de Londrina, fecho o livro — e me ilumino de imenso.
No meio da tarde de novembro, estava eu meio assoberbado pela pilha de papéis e compromissos acumulados na minha mesa, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, ouço uma voz simpática e educada. Voz de quem quer falar boas coisas.
— Boa tarde, Paulo. Meu nome é Maria de Lourdes Nascimento Santos. Tenho 90 anos e sou sua oitava leitora.
Dra. Maria de Lourdes é a primeira médica de Rolândia. Nas últimas seis décadas, trabalhando como ginecologista e obstetra, ela tem ajudado muitas crianças a nascer no Norte do Paraná. Muitas vezes, ela está caminhando pelas ruas de Rolândia e alguém se aproxima sorrindo: é mais uma pessoa que ela trouxe à luz. Neste momento, o sorriso de Dra. Maria de Lourdes se ilumina. Ela deve ter trazido ao mundo mais gente do que toda a população de Santa Maria La Longa — hoje estimada em 2 mil habitantes.
A veterana obstetra — que leva o Nascimento no próprio nome — faz uma série de elogios à Folha de Londrina, da qual é leitora fiel há mais de 50 anos. Todas as manhãs, ela continua ajudando seus colegas mais jovens a receber novas crianças para o mundo. Seu trabalho é o trabalho de parto. Difícil imaginar profissão mais bela.
A primeira médica de Rolândia concede-me a honra de ler a Avenida Paraná todas as manhãs, antes do trabalho. Gostou especialmente da crônica sobre os Filhos da UEL — e apoia com entusiasmo os professores e alunos da universidade que desejam continuar trabalhando, assim como ela trabalha diariamente.
Obrigado, Dra. Maria de Lourdes, por nos iluminar de imenso.
Fale com o colunista: avenidaparana @ folhadelondrina.com.br
por Paulo Briguet
COMENTÁRIO:
Segundo Urbano Rodrigues a primeira médica de Rolândia foi ELIZA CHECHIA NORONHA, ESPOSA DO TAMBÉM MÉDICO DR. LEONIDAS NORONHA.
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RENÊ KELLER.
A primeira médica de Rolândia foi a Dra Eliza Chechia Noronha, esposa do também médico Dr Noronha. Foi a Dra Eliza quem fez o parto de minha mãe quando eu e minha irma Silvia Minikowski Innecco nascemos Eles eram nossos vizinhos. A casa ficava onde hoje tem uma livraria na Avenida Expedicionários, em frente ao antigo Cine Rolândia.
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