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ROLANDIA E O NORTE DO PARANÁ

sábado, 2 de setembro de 2017

BETO RICHA E DURVAL AMARAL CITADOS EM DELAÇÃO PREMIADA

FOLHA DE LONDRINA

Delator afirma que desvios em escolas abasteceram campanha de políticos no PR.

ENVOLVIDOS NEGAM

Dono da construtora Valor revela esquema de propina e coloca sob suspeita cúpula do governo do Estado e principais aliados; todos negam as acusações e criticam vazamento de delação sob sigilo

Sandro Nascimento/Alep


Citado na delação, o chefe da Casa Civil do Estado, Valdir Rossoni (PSDB), nega ter recebido propina da Construtora Valor quando era deputado estadual

Curitiba - O dono da construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, disse em delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) que pagou R$ 12 milhões de propina a um intermediário do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). As informações foram publicadas pela "Folha de S.Paulo". Conforme o jornal, parte dos recursos foi entregue, segundo o delator, em um banheiro da Secretaria de Educação (Seed) e camuflada em caixas de garrafas de vinho. Nesse montante estaria incluída uma mesada de R$ 100 mil, destinada a abastecer as campanhas de Beto em 2014 e de parentes seus em 2018. O governador e outros citados negam as acusações.


São citados o secretário de Estado da Infraestrutura e Logística, Pepe Richa, e o secretário municipal do Esporte e Lazer de Curitiba, Marcello Richa, respectivamente irmão e filho do governador. O acordo foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em caso de homologação, o empreiteiro será intimado a apresentar provas à Justiça sobre os atos ilegais que descreveu. Em troca, terá direito a benefícios, como redução ou extinção de eventuais penas. Já as autoridades policiais e o Ministério Público Federal (MPF) poderão abrir investigações para apurar todos os ilícitos apontados na delação. Não há prazo para que isso ocorra.

O intermediário do governador apontado por Souza é Maurício Fanini, que foi nomeado diretor da Superintendência de Desenvolvimento Educacional (Sude), braço da Seed. Fanini é ligado a desvios de cerca de R$ 20 milhões da construção de escolas públicas, apontam investigações da Quadro Negro. Ele chegou a ser preso devido ao seu envolvimento no esquema. Souza relatou ainda que o ex-diretor fez com Beto uma "viagem da vitória" em novembro de 2014 para Miami e Caribe, com o objetivo de comemorar a reeleição do político no primeiro turno ao Palácio Iguaçu.

O empreiteiro disse que passou a dar a mesada ao governador quando Fanini foi nomeado presidente da Fundepar, autarquia que cuidaria da parte administrativa da Seed. "A gente daria R$ 100 mil por mês a ele [Fanini], porque o Beto vai ser candidato a senador, o Pepe Richa vai ser candidato a deputado estadual e o Marcello Richa a deputado estadual", contou. Segundo Souza, a mesada durou pouco tempo porque, meses depois de assumir a Fundepar, Fanini foi exonerado.

OUTRO LADO

Beto classificou as declarações como "afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua pena. Tais ilações sequer foram referendadas pela Justiça. E suas colocações são irresponsáveis e sem provas", escreveu. "O governador afirma que nunca teve contato com o senhor Eduardo Lopes de Souza e sequer fez ou pediu para alguém fazer qualquer solicitação a essa pessoa para a campanha eleitoral de 2014", informou a assessoria de Beto. Ele reiterou que a própria Secretaria detectou disparidades em medições de algumas obras de escolas e abriu auditoria sobre o caso. Na mesma nota, ressaltou que a Valor e seus responsáveis foram punidos administrativamente pelo governo.

Também por meio de nota, Pepe Richa afirmou que o depoimento traz acusações "absurdas e mentirosas. As obras do setor de Educação são contratadas diretamente pela Secretaria de Educação, sem qualquer intervenção ou participação da Secretaria de Infraestrutura e Logística. Jamais tratei de qualquer assunto relacionado à campanha eleitoral de 2014 ou qualquer outra campanha com o senhor Eduardo Lopes de Souza ou com qualquer pessoa indicada por ele".

Marcello Richa chamou as suposições de Souza de inverídicas. A assessoria de imprensa do filho do governador disse que estranha "que uma delação que nem homologada foi se torne verdade absoluta e rechaça qualquer citação referente a recebimento de valores, ressaltando que não conhece ou teve qualquer contato com o senhor Eduardo. Salienta que é o maior interessado em ver a verdade revelada e que irá tomar todas as medidas judiciais cabíveis para que isso ocorra".

ASSEMBLEIA

A delação repercute na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná, onde Beto dispõe de ampla maioria. Foram citados o presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), o 1º secretário, Plauto Miró (DEM), o deputado Tiago Amaral (PSB) e seu pai, o presidente do Tribunal de Contas (TC) Durval Amaral. Todos teriam participado de conversas com Maurício Fanini, relativas a um suposto caixa dois.

"Repudio veementemente as acusações infundadas e sem provas. Não tenho conhecimento sobre a delação, que não foi homologada e corre sem segredo de Justiça", rebateu Traiano. Plauto também negou envolvimento e disse que aguarda "com serenidade a apuração dos fatos". Da mesma forma, Tiago disse que jamais teve qualquer relação com o proprietário da Valor e que "disponibiliza o sigilo telefônico e bancário". O parlamentar e seu pai falaram em processar o delator.

"Repudio a inclusão de meu nome na delação do sr. Eduardo, a quem não conheço, o que pode configurar uma represália pelo fato de, no dia 2 de julho de 2015, ter emitido liminar no Tribunal de Contas determinando a suspensão imediata de pagamentos e contratos da empresa, bem como ter encaminhado a denúncia à polícia, Ministério Público e Tribunal de Contas da União, o que deu início a todo o processo de investigação do caso", escreveu Durval. (Com agências)

Mariana Franco Ramos

Reportagem Local

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