CORNÉLIO PROCÓPIO – GLEBA CONGONHAS
MAIS UM POUCO DE SUA HISTÓRIA
Prof.Me. Roberto Bondarik
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Apesar das origens do município de Cornélio Procópio remontarem ao século XIX quando foi estabelecida da Posse do Rio Congonhas pelo Barão de Antonina, a ocupação efetiva de seu território tem seus registros a partir do final dos anos 20 do século passado.
A posse Congonhas foi vendida no final do século XIX pelos herdeiros do Barão de Antonina e deu origem a Fazenda Congonhas que posteriormente seria loteada com nome de Gleba Congonhas. É fácil estabelecer quais eram os limites dessas terras, basta imaginarmos que elas abrangiam as duas margens do Rio Congonhas até o divisor de águas com o Rio Laranjinha. As terras cujas águas escoavam para o Congonhas pertenciam a essa gleba. Assim sendo parte do território urbano de Cornélio Procópio lhe pertenciam além é claro do Distrito de Congonhas e Leópolis.
Segundo dados fornecidos pelo Professor Átila Silveira Brasil em seu livro, a posse do Barão de Antonina foi firmada em 1846 quando a seu mando os sertanistas Joaquim Francisco Lopes e John Henry Elliot exploraram o sertão do Rio Tibagi em busca de um caminho fluvial para a Província do Mato Grosso. Os dois sertanistas mapearam o Rio Congonhas ou “das Congonhas” nesse ano e o batizaram com esse nome por possuir em sua nascente muita erva-mate, chamada de “congonha” pelos paulistas. A posse se iniciava em São Jerônimo e acompanhava as margens do Congonhas até o Rio Tibagi. Consta que John Henry Elliot desejava fundar a Colônia Militar que foi estabelecida em Jataizinho nesse local, próximo de onde é a Ponte Nova em Sertaneja por ser o local abrigado das enchentes constantes, repentinas e violentas que haviam no Rio Tibagi.
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Mapa com a extensão original da Gleba Congonhas em destaque em vermelho(Detalhe do Mapa de Romário Martins editado por Roberto Bondarik) |
Em 1891 os herdeiros do Barão de Antonina venderam suas terras ou parte delas, desocupadas em sua grande extensão para Ildefonso Mendes de Sá. Essa Gleba também se iniciava em São Jerônimo,passava por Santa Cecília com os mesmos limites da bacia do Congonhas. Essa gleba deu origem a Fazenda Congonhas cuja existência é comprovada também pelos mapas que mostram os limites da Colonia Militar do Jatahy naquela época. Englobava também o território de Urai.
A Fazenda Congonhas foi comprada em 1893 por Olegário Rodrigues de Macedo e José Marcondes de Albuquerque. No ano de 1900 Olegário tornou-se o único proprietário da Fazenda ao comprar a parte de seu sócio. Em 1902 a Fazenda Congonhas mudou novamente de dono sendo comprada por José Pedro da Silva Carvalho. Mesmo mudando de mãos por diversas vezes acreditamos ser difícil que algum deles tenha se fixado nestas terras ou produzido sua ocupação. Era muito comum àquele tempo que fazendeiros e investidores de Minas Gerais e de São Paulo comprassem terras, em grande extensão, no Norte do Paraná. A falta de estradas e outros meios de transporte tornavam os preços mais baixos e atrativos, estas fazendas cujos direitos eram garantidos pelos documentos de posse eram mantidas por meio de documentos, recibos e escrituras, com certeza não eram ocupadas por seus donos legais ou seus prepostos.
A situação da região começou a mudar quando foi planejada a construção da ferrovia que vindo de Ourinhos em São Paulo teria por objetivo atingir a Assunção, capital do Paraguai. A Ferrovia São Paulo Paraná como foi denominada iria dotar o Norte do Paraná de um meio de transporte eficiente e rápido para aquele tempo, capaz de conduzir grandes volumes de carga e pessoas. A possibilidade de venda das fazendas existentes na área para aqueles que desejavam plantar algodão ou café era muito grande. Imagina-se a valorização das terras cortadas pela “linha do trem”.
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Mapa da Ferrovia São Paulo - Paraná |
A ferrovia começou a ser construída e logo ligava Ourinhos a região de Cambará, mais precisamente a fazenda que pertencia a Companhia Agrícola Barboza, de propriedade de Antonio Barboza Ferraz e seus filhos Bráulio e Leovegildo. Construir ferrovia era algo muito caro e de difícil execução, em 1924 os Barboza Ferraz e seus sócios venderam seus direitos sobre a pretensa linha para um grupo de investidores britânicos que eram no Brasil liderados por Lord Lovat. Os britânicos foram atraídos, segundo Nelson Dácio Tomazi em seu livro, pela possibilidade de comprar as terras devolutas da margem esquerda do Rio Tibagi e depois dividi-las em lotes e revendo-os a pequenos proprietários depois de organizada a região com o transporte ferroviário, vias vicinais, estradas de rodagem e centros urbanos planejados. Pode ter sido o negócio imobiliário dos mais rentáveis do mundo destaca alguns pesquisadores. As terras por onde passaria a ferrovia foram adquiridas por investidores paulistas e mineiros antes mesmo que os ingleses assumissem a estrada e anunciassem a compra das terras que dariam origem a Londrina e Maringá por meio da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), subsidiaria da britânica “Paraná Plantations”.
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Composição da Ferrovia São Paulo - Paraná |
Desta forma a A região Norte do Estado do Paraná compreendida pelas terras à Oeste do Rio Tibagi, foi efetivamente incorporada ao cenário produtivo nacional a partir das décadas de 1920 e 1930. Fruto de um grande investimento imobiliário no qual se faziam presentes investidores brasileiro mas principalmente britânicos. A venda das terras e o estabelecimento das condições logísticas e de infra-estrutura necessárias para a efetiva ocupação e plena exploração econômica somente foram efetivados com investimento e a presença do capital financeiro britânico. Os empresários britânicos conduziam projetos semelhantes em diversas partes do mundo, investindo em mineração, agricultura e logística. Empreendimentos que haviam caracterizado o período vitoriano daquele país.
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Trecho da Estrada Cornélio Procópio - Santa Amélia(Foto: Roberto Bondarik - 13 de Julho de 2012) |
O projeto da CTNP não visava apenas ao projeto imobiliário, que pelas informações que possuíam, seria bastante lucrativo. Os ingleses também queriam uma ferrovia, pois nesta área tinham muita experiência em todo o mundo. A CTNP desenvolveu suas atividades durante este período (conhecido como fase inglesa da colonização do Norte do Paraná) e desde o inicio fez intensa propaganda no Brasil e no exterior onde elaborou a um discurso que reforça aquele sobre as maravilhas da região, do progresso e da riqueza ali existente, visando antes tudo trazer compradores para as terras que havia adquirido até então.
Dentro da perspectiva da construção da Ferrovia São Paulo-Paraná, em 13 de outubro de 1923, José Pedro da Silva Carvalho vendeu a Fazenda Congonhas à Companhia Agrícola Barbosa, por trezentos contos de réis como afirma o Professor Átila. Mas posse ou os direitos acabaram sendo contestados por outras pessoas que se julgavam a proprietárias da área. Isso era comum naquele tempo em que a grilagem de terras era comum ou mesmo de boa fé o registro duplo ou triplo de um mesmo terreno. A Companhia Barboza contratou o advogado paulistano Francisco Morato, que seria fundador do Partido Democrátido de São Paulo e grande articulador da Revolução de 1930 como apoiador de Getúlio Vargas. Francisco Morato conseguiu assegurar os direitos dos Barboza. A gleba da Fazenda Congonhas começou a ser medida, loteada e vendida antes mesmo da chegada dos trilhos da ferrovia a Cornélio Procópio cuja instalação do núcleo urbano estava planejada desde 1924, porém em outra gleba, a Laranjinha de posse de Francisco da Cunha Junqueira. Mas a efetivação das vendas nessa área ocorreria apenas depois de 1932 quando ela foi comprada pela Companhia Paiva e Moreira.
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Construção da ponte rodoviária sobre o Rio das Cinzas entre Andirá e Bandeirantes em 1929 (Fonte: Jornal "A República" - Curitiba, 12 de Dezembro de 1929)
Para dar início à venda dos lotes da Fazenda Congonhas foi preciso abrir uma estrada de rodagem que vinha desde Cambará, passava por Andirá, cruzava o Rio das Cinzas, atingia Carvalhópolis (Abatiá), Santa Amélia e chegava as margens do Laranginha. Cruzando esse rio entrava pelo bairro Igarapava e seguia até onde hoje é a torre da Embratel na saída de Cornélio para Nova Fátima. Nesse ponto tinha início a Gleba da Fazenda Congonhas e em algum lugar as margens da estrada foi erguido o Armazém Velho, feito com tábuas já usadas e trazidas de Cambará. Nesse lugar ficava um administrador encarregado de levar os compradores até seus lotes. A estrada ainda passava por Cornélio e seguia até Congonhas. Possuindo o mesmo traçado da estrada velha até aquele distrito. Cruzava o rio, atingia a Serra do Herval e por fim chegava a Jataizinho, chamada à época de Jatahy. Sua abertura foi concluída definitivamente com as pontes em 1929.
Esta estrada foi paga pelo Governo do Estado do Paraná e executada pela Prefeitura de Cambará, mesmo as terras pertencendo ao Município de Jacarezinho. Detalhe que o prefeito de Cambará era Braulio Barboza Ferraz, filho de Antonio Barboza e um dos sócios da Companhia Agrícola Barboza que se beneficiou do projeto. O jornal “A República”, de Curitiba publicou reportagem a respeito da construção da ponte sobre o Cinzas em 1929, mostrando sua foto na edição do dia 12 de dezembro daquele ano. A base da ponte é ainda a mesma que foi construída naquele tempo apesar dela hoje ser em concreto. Trata-se da ponte da estrada de terra próximo de Andirá.
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Distrito de Congonhas em Cornélio Procópio, efetivamente foi por aqui que teve inicio a colonização deste Município Fonte: Roberto Bondarik - 12 de Julho de 2012)
Pela estrada de rodagem Cambará – Jataizinho chegaram os primeiros pioneiros que efetivamente passaram a viver e produzir no que é hoje o município de Cornélio Procópio. Essa ocupação teve início por Congonhas e acreditamos os primeiros compradores e moradores tenham sido em grande parte ex-colonos das fazendas dos Barboza em Cambará e no Estado de São Paulo.
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Cornélio Procópio - 2013(Fonte : Roberto Bondarik) |
Nossa história precisa ser estudada e contada para que seja conhecida e respeitada. Esse é o tributo que devemos à memória e ao esforço dos pioneiros que deram origem a esse rincão do Norte do Paraná.