Foram as redes sociais que avisaram o maestro japonês Daisuke Soga sobre o incêndio no Ouro Verde, em fevereiro deste ano. Apenas duas horas depois do fogo começar a consumir o espaço, Daisuke já via as primeiras imagens publicadas no Facebook: chamas e fumaça, exaladas do mezanino. Uma tristeza se apoderou do maestro, que tem por Londrina um carinho especial. Ele ligou para a Alemanha, acordou o pianista Marco Antonio de Almeida e avisou o amigo sobre a tragédia. Desde então, passou a pensar numa homenagem ao teatro.
Professor do Festival de Música de Londrina (FML) já há alguns anos, Daisuke regeu diversos concertos no palco do Ouro Verde. E por causa do incêndio, quis homenagear o espaço, a cidade. “Soube da tragédia vendo imagens no Facebook. Eram 6 horas no Japão. Falei com Marco Antonio e propus escrever uma peça”, conta o maestro. Chamou a sinfonia de Phoenix, em referência ao pássaro que ressurge das cinzas. “Logo pensei: o que vou escrever? Será que escrevo samba?”
“Depois de uma tragédia temos sempre forte um sentimento de tristeza. Mas, depois de uma tragédia, nasce algo novo para o futuro”, declara o maestro japonês. E de renascer Daisuke entende. Em março do ano passado ele viu o próprio país em desespero quando um terremoto seguido de tsunami atingiu o Japão, matando mais de 6 mil pessoas. Ou então, décadas atrás, cita quando bombas atômicas atingiram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. “Os homens disseram que nunca mais seria possível fazer um bosque. E sete meses depois das bombas, já havia a árvores novas”, diz.
A tragédia sempre deve vir seguida de um pensamento positivo, avalia Daisuke. “A mentalidade dos homens sempre tem um pensamento para o futuro. Não podemos viver sem uma projeção otimista”, avalia. A música traduziria esses sentimentos, seja de tristeza ou alegria. “A música é importante para emoções de tristezas, mas também para o otimismo. Por isso pensei numa peça de 15% de tristeza e mais 85% otimista”, ressalta. Para retratar a tristeza, uma sinfonia lírica. Para traduzir o sentimento de esperança Daisuke escolheu mesmo o samba.
A sinfonia, que será executada pela Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina (Osuel), demorou uma semana para ficar pronta e tem sete minutos de duração. “Quando vou escrever algo, demoro pouco tempo. Mas antes de escrever, preciso de tempo para pensar. Preciso ler livros de filosofia. É como uma mãe, que demora nove meses de gestação e, na hora do filho nascer, é num instante”, revela. A motivação da obra é também o que o leva a escrever peças. “Não gosto de compassos inúteis. Nem de prolongar. Tem que ter um objetivo”, aponta. A música vem acompanhada de poesia, escrita também pelo maestro: “enquanto existir, não sentimos que é importante. Mas quando perdemos, percebemos o valor”, diz a letra. “Tudo no universo que foi reduzido a fogo e água, renascerá”, deseja Daisuke em sua homenagem.
Serviço: A Sinfonia Phoenix será regida pelo maestro Daisuke Soga e executada pela Osuel, domingo, a partir das 16 horas, no anfiteatro do Zerão, dentro do FML. Grátis.