Londrina - Por muito pouco o professor universitário Jaime Freiberger Junior, natural da cidade de Rolândia, que leciona há quatro anos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), não foi mais uma vítima da tragédia do incêndio na boate Kiss, que deixou ao menos 233 pessoas mortas e mais de cem feridos. Ainda muito abalado, ele contou à reportagem como foram os momentos que desespero e tumulto no local. "Estava já bem próximo à saída me despedindo de alguns amigos para, então, pagar a conta. De repente, percebi um tumulto vindo em nossa direção. Inicialmente, achei que fosse uma briga. Minutos depois, porém, junto com a correria, veio uma fumaça muito forte", lembra.
Segundo Junior, foi tudo muito rápido e não deu tempo de pensar em nada; apenas tentar sair do local. "Havia somente uma porta de saída, que era a mesma de entrada. As pessoas estavam em pânico e tentavam se abrigar em locais como nos banheiros."
Já do lado de fora, o professor viu muitos jovens em desespero e alguns no chão, desmaiados, já que a fumaça se alastrou até a rua. "Também senti um pouco de tontura, pois inalei fumaça. Queria ir embora dali, mas o estacionamento estava tomado de gente. Comecei, portanto, a procurar meus amigos, já que nos perdemos no momento da correria." Enquanto isso, tentava ajudar os feridos pegando água para colocar na boca de quem havia se intoxicado ou estava inconsciente.
Foram mais de três horas correndo de um lado para outro, até que o Corpo de Bombeiros isolou a área e pediu o afastamento da população. "Durante esse tempo levamos algumas pessoas ao hospital. As ambulâncias que chegavam não eram suficientes para todos que precisavam de ajuda."
Uma das notícias mais tristes veio em seguida, com a morte confirmada de um de seus colegas de república que não conseguiu sair, juntamente com a namorada. "Somos em quatro na casa e todos estávamos lá. Infelizmente, ele não conseguiu escapar", lamenta. Além do amigo, conforme Junior, dezenas de alunos também morreram no incêndio. "Era uma festa que eles sempre costumam promover para arrecadar dinheiro para a formatura. A boate estava lotada de alunos dos cursos que leciono, como Agronomia e Engenharia Civil", revela, referindo-se à festa "Agromerados", de alunos de seis cursos técnicos e superiores da UFSM.
Tragédia
Testemunhas afirmaram que o fogo começou durante show pirotécnico quando uma banda se apresentava na boate. O material de isolamento acústico do prédio - feito de espuma - incendiou-se e a fumaça intoxicou as vítimas.
Conforme o Corpo de Bombeiros, as vítimas morreram devido à inalação de fumaça. "O isopor gera uma fumaça muito tóxica. As pessoas entraram em pânico e acabaram pisoteando umas às outras", afirmou o comandante geral dos Bombeiros do Rio Grande do Sul, coronel Guido Pedroso de Melo.
Conforme um segurança que trabalhava na boate no momento do incêndio, entre mil e duas mil pessoas deveriam estar no local durante o incidente, a maioria jovens estudantes. Um caminhão precisou realizar quatro viagens para retirar os corpos do local e levá-los até um ginásio esportivo, local onde seriam feitas as identificações e um velório coletivo.
O alvará do Plano de Prevenção de Combate a Incêndio da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012, segundo o comandante geral.
A prefeitura de Santa Maria decretou luto oficial de 30 dias, e o governo do Estado anunciou luto de sete dias. A rodada deste domingo do campeonato gaúcho de futebol também foi cancelada. (com Agência Estado)