Contrariando todos os esforços do governo federal, a inflação de 2013 foi maior que a de 2012. Com o aumento de 0,92% em dezembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,91% no ano passado, contra 5,84% do ano anterior. O índice ficou abaixo do teto da meta estipulada pelo Banco Central (BC), que era de 6,5%, mas acima do centro da meta (4,5%). As informações foram divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em algumas oportunidades no ano passado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o IPCA de 2013 ficaria abaixo do de 2012. Em entrevista ontem, os integrantes do governo minimizaram o fato. "Não há nenhuma perspectiva futura de descontrole da inflação", disse o secretário-executivo e ministro em exercício da Fazenda, Dyogo Oliveira.
No entanto, analistas ouvidos pelas agências de notícias receberam o índice com muita preocupação. Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada, classificou o resultado do IPCA de 2013 como "desastroso". Por outro lado, economistas ouvidos pela FOLHA não veem risco de descontrole de preços.
Para Alessandra, o índice é "muito ruim", em ano no qual o governo "fez de tudo" para conter os preços: desonerações de impostos, aumento de juros e intervenção no câmbio.
Ela ressaltou que os preços administrados pelo governo fecharam 2013 com alta de apenas 1,5%, influenciados principalmente pela redução do preço da energia elétrica, pela ausência de aumento nas tarifas de transporte público em muitas cidades e também pelo controle de preços da gasolina. Já os preços livres subiram 7,3%.
"Só que nos próximos meses, a inflação mais baixa dos preços administrados será em parte revertida. A gente projeta avanço de 4,3% para as administradas em 2014, e isso terá repercussão no IPCA", explicou. Para ela, o ano de 2014 será de inflação alta, na casa dos 6%, com risco de estouro do teto de 6,5% da meta buscada pelo Banco Central. Na avaliação do economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, a inflação está estabilizada, mas não controlada. "Controlada é uma inflação de 4,5%", diz ele.
Fabiano Camargo da Silva, economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PR), afirma que o índice é um pouco superior ao que se esperava, mas não é preocupante. "Está abaixo do teto da meta, então está sob controle", resume. A meta do governo para o índice em 2013 ia de 2,5% a 6,5%.
Para ele, a inflação de 2014 deve permanecer no nível da do ano passado, "ou até mais baixa". "O aumento das taxas de juros deve continuar surtindo efeito", considera. Apesar disso, ele discorda desta medida, que "não ataca as causas da inflação". Na opinião do economista, o governo precisa analisar os preços caso a caso. E exemplifica: "O preço do trigo e derivados se controla planejando uma safra maior que a demanda".
Coordenador da pesquisa de preços da cesta básica de Londrina, o professor da Faculdades Pitágoras Flávio Oliveira dos Santos concorda que não há risco de a inflação sair do controle. "Em 2013, a taxa de câmbio (valorização do dólar) contribuiu para elevar a inflação, mas está dentro do esperado", afirma.
Para ele, é muito difícil o Brasil manter inflação baixa porque o País demanda ainda muito consumo. "A inflação voltou a subir conforme as classes C e D passaram a ter poder de compra. Então, o governo tem de aumentar muito os juros para segurar esse consumo e consequentemente os preços", considera. Oliveira acredita que, em 2014, a inflação deverá ficar no mesmo patamar da de 2013.
Outro que não vê motivos para desespero é o economista e professor universitário
Wanderlei Sereia. Ele destaca que as metas inflacionárias estão sendo cumpridas, "o que é mais importante". Sereia diz que o governo deve continuar aumentando os juros para manter os preços sob controle e que baixá-los de forma abrupta foi um erro da presidente Dilma Rousseff. "Não se abaixam os juros dessa forma, de um dia para o outro, por decreto", alega. (Com agências)