Depois de ter viajado com a família de férias no avião pago pelo doleiro Alberto Youssef, preso há 15 dias pela Polícia Federal (PF), o deputado federal André Vargas (PT), vice-presidente da Câmara, disse que tem apenas "relações sociais" com o investigado. Em entrevista à FOLHA por e-mail, o deputado londrinense confirmou que conhece Youssef há 20 anos como "um grande empresário em Londrina, dono do Hotel Blue Tree", com quem manteria contatos "esporádicos". A viagem cujas despesas com o avião foram bancadas por Youssef, foi revelada ontem em reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.
A PF interceptou várias mensagens trocadas via celular entre o deputado londrinense e Youssef, um dia antes da viagem, que ocorreu no dia 2 de janeiro deste ano. O material foi identificado pela PF durante a operação Lava Jato, que apura esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões em contratos suspeitos. Youssef seria um dos líderes do esquema. "Tudo certo para amanhã", diz uma mensagem originada do celular do doleiro. "Boa viagem e boas férias", deseja Youssef em outro comunicado.
"Procurei-o sabendo que ele havia sido dono de um hangar e conhecia a área. Tratavam-se de oito passagens de ida e volta, de Londrina a João Pessoa (PB), e estimava as despesas com combustível do avião em torno de R$ 20 mil", justificou Vargas, por e-mail. Apesar de afirmar que naquele momento desconhecia as acusações que pesam contra Youssef, o deputado reconheceu que foi um erro ter se beneficiado do avião. "Reconheço que foi um equívoco ter aceitado, o que eu lamento."
Em outra conversa, segundo a Folha de S.Paulo, Vargas e Youssef discutem assunto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde e envolveria a empresa Labogen, investigada na operação Lava Jato, porque teria sido usada para remessas ilegais de dinheiro ao exterior. O petista teria dito que "a conversa com Gadelha foi boa demais". Carlos Gadelha é secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos do Ministério. Vargas disse que "orientei-o a respeito de encaminhamentos burocráticos em tratativas da Labogen com o Ministério da Saúde, para parceria na produção de medicamentos, como faço normalmente com quem procura nosso gabinete". "Encontrei no aeroporto um representante da empresa, que estava em Brasília, e ele comentou que havia feito uma boa reunião no Ministério, informe que repassei ao Youssef", complementou.
Youssef segue preso em Curitiba, desde que a operação Lava Jato foi deflagrada. A reportagem não conseguiu com a defesa do doleiro.