Governo promete resolver o problema com a contratação de 75 concursados, além de investigadores e papiloscopistas
Londrina – Das 161 comarcas do Paraná, 53, ou 33%, não têm delegado de polícia. Atualmente trabalham no Estado 356 delegados. Os dados são da Polícia Civil do Paraná. O governo do Estado anunciou nos últimos dias a contratação de 75 novos delegados em uma tentativa de amenizar o problema. A promessa é que todas as comarcas desfalcadas terão os cargos preenchidos.
Diante dessa realidade o que se vê são delegados acumulando a função em diversos municípios e com dificuldades para realizar o trabalho de investigação de crimes. "Toda a investigação é dirigida pelo delegado e com a ausência dele o trabalho fica prejudicado. Existem profissionais que trabalham direto, sem fim de semana para poder atender várias cidades", apontou Roberto Nascimento, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil do Paraná (Adepol).
Para Ademilson Batista, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Londrina e Região (Sindipol), a presença do delegado o dia todo em uma mesma delegacia é fundamental. Para ele, também faltam investigadores e escrivães nas delegacias do Estado. "Todos sabem que uma das formas de diminuir a violência é aumentar o efetivo, é ter polícia na rua. Enquanto houver sensação de impunidade, os índices não vão cair", frisou. "Não adianta só nomear delegados, é preciso [que sejam nomeados] mais investigadores e escrivães", cobrou Nascimento.
Além dos novos delegados, o Estado anunciou também a nomeação de 413 investigadores e 48 papiloscopistas. Os contratados estão cumprindo a fase de entrega de documentos e exames médicos. De acordo com o delegado geral da Polícia Civil do Paraná, Riad Braga Farhat, os novos delegados devem começar a trabalhar em agosto, após realizarem um curso com práticas de tiro, ações policiais, técnicas de investigação e direitos humanos. "Todas as comarcas sem delegados serão contempladas", garantiu Farhat.
O delegado José Arnaldo Peron é titular da Delegacia de Bela Vista do Paraíso e acumula a função em Primeiro de Maio, sede de comarca, e Alvorada do Sul, todas na Região Metropolitana de Londrina. Peron não esconde a principal dificuldade para realizar o trabalho. "Você passa mais tempo se deslocando do que na própria delegacia. Pela demanda existente essas cidades necessitam de um delegado em tempo integral", relatou.
Outra comarca pertencente a 10ª Subdivisão Policial (SDP) sem delegado é a de Centenário do Sul. O delegado titular de Porecatu, Elizandro Correia, acumula a função no município e em outras cinco cidades da região: Florestópolis, Prado Ferreira, Miraselva, Lupionópolis e Cafeara. "Procuramos centralizar todo o trabalho nas sedes das comarcas para agilizar", limitou-se a dizer Correia. O delegado ainda é responsável pela guarda de 65 presos em Porecatu e 25 em Centenário.
O delegado chefe da 10ª Subdivisão Policial (SDP), Márcio Amaro, acrescenta que fica difícil realizar um trabalho eficiente sem conhecer a realidade daquela comunidade. "Defendo que o delegado deve morar na comarca para que ele possa conhecer e se envolver com os problemas locais. O que acontece hoje é um distanciamento entre a autoridade policial e os moradores", apontou.
Para Riad Farhat, a rotina de trabalho em várias cidades desgasta o profissional e diminuiu o rendimento. "Isso não é bom nem para a população nem para instituição. Um excelente delegado acaba sendo mal visto pela sociedade, pelo Ministério Público e pelo Judiciário", frisou.