A esvaziamento das galerias,
segunda-feira, não impediu que a insatisfação dos servidores com o
projeto de lei do governo do Paraná, que prevê mudanças na
ParanaPrevidência, ecoasse no plenário da Assembleia Legislativa (AL).
Embora tenha saído vitoriosa na primeira votação, a administração não
garantiu consenso nem mesmo entre os partidos da base aliada. Entre as
dez legendas que têm mais de um deputado estadual, apenas três (DEM, PP e
PSDB) tiveram votação uniforme e favorável ao projeto, enquanto que nos
demais as posições foram divergentes.
O maior exemplo é o PSC, do deputado licenciado e secretário
estadual de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Junior, tradicional aliado
do governador Beto Richa (PSDB) e virtual candidato ao governo estadual
em 2018. Com 12 parlamentares, a maior representação na Casa, a sigla
tem lastro suficiente para decidir votações importantes, tanto que na
véspera, Beto chamou o grupo para pedir apoio. Como comparação, a
diferença na aprovação de anteontem foi de 10 votos.
Evandro Araújo
(suplente de Ratinho), Claudio Palozi, Leonaldo Paranhos e Gilson de
Souza votaram contra a proposta do Executivo.
Segundo o líder do partido na AL, Hussein Bakri (PSC), não foi
emitida nenhuma recomendação e os deputados tiveram liberdade para
votar. "Não existe consenso e estes deputados entendem que o projeto
precisa de melhorias."
Porém, o receio de perder o capital político em
ano pré-eleitoral pode ter feito a diferença em muitas avaliações
individuais, conforme sinalizou o deputado Cobra Repórter (PSC). "Tem
parlamentar que pretende disputar como prefeito e não quis se arriscar."
ACONCHEGO DA BASE
Apesar da análise sobre os colegas,
Cobra arriscou e votou com o
governo para manter o aconchego da base governista, que traz vantagens
para o parlamentar. Em conversa reservada com correligionários após a
sessão de segunda-feira, e que
acabou vazando para a imprensa ontem, o
deputado de Rolândia disse que "o governo só dá coisas para quem está na
base". "Se eu me posicionar na oposição,
esse cara (o governador) não
me dá nada.
Nem um papel de bala. E eu vou ser um deputado de quatro
anos fazend
o oba-oba, sem levar nada para a minha região."
Procurado pela FOLHA,
Cobra reconheceu que fez as declarações.
"Foram palavras num grupo fechado nas
redes sociais e invadiram a nossa
privacidade ali, mas é assim mesmo", lamentou.
Segundo ele,
a dependência do dinheiro do Executivo acaba
interferindo na atuação do parlamento. "
Não adianta tapar o sol com a
peneira. É assim que funciona. Mas eu
não estou pensando em mim, estou
pensando na população para onde eu preciso levar os recursos, os
investimentos. Quem está na
oposição vai ter dificuldades para
conseguir."
Contudo, o parlamentar negou que estará sempre votando com o
governo. "Se algo não for bom, for contra os meus princípios,
vou deixar
claro que não voto." Cobra, que
assinou documento para garantir a sua
atuação na AL, disse que manteve o compromisso com os eleitores, "pois
assinei que não votaria contra a população e entendo que o projeto é
bom, não retira direitos".
O deputado Tercílio Turini (PPS), que é de Londrina, não poupou
críticas ao colega da região.
"Se ele (Cobra) falou isso, discordo
veementemente. É um equívoco, porque fazer obras no interior é uma
obrigação do governador. Apenas para lembrar, Beto teve quase
80% dos
votos de Londrina." De acordo com Turini, "na política
o que vale são as
posições que a gente toma e não apenas levar uma ambulância para a
cidade".
Tiago Amaral (PSB), também da região, foi procurado mas atendeu
o celular.
O líder do PSC, deputado Hussein Bakri não negou o desconforto
com a situação, mas mantém o apoio ao projeto da ParanaPrevidência.
"Claro que sempre há um prejuízo político, mas com as mudanças, o
projeto ficou bom." Segundo ele, em razão das dificuldades financeiras
do governo, "nesse momento não há outra solução que não seja a
aprovação." Vale lembrar que, na primeira discussão na segunda-feira, o
projeto do Executivo foi aprovado por 31 votos favoráveis contra 21
contrários.
Edson Ferreira - Reportagem Local