Quem esteve em Londrina neste fim de semana pôde presenciar, em
diversos pontos da cidade, verdadeiras revoadas de formigas aladas. O
fenômeno faz parte do ciclo de vida das saúvas-limão, espécie que se
instalou na cidade há cerca de 15 anos, e marca o período do
acasalamento do inseto. Apesar de não trazer riscos às pessoas, a
infestação das formigas põe em risco desde plantações de hortaliças até
áreas de reflorestamento.
A avaliação é do engenheiro agrônomo e especialista em insetos,
Amarildo Pasini. Ele é professor na UEL, e acompanhou de perto a revoada
das saúvas. As condições do tempo, explicou o especialista, foram as
ideais para que o fenômeno acontecesse.
“Essas formigas ficam muito tempo dentro do formigueiro esperando
por duas condições essenciais: calor e umidade. Como choveu bastante e
tivemos temperaturas altas, elas puderam passar por essa transformação,
ganharam asas e se espalharam como sementes para formar novas colônias”,
disse. Segundo Pasini, além das formigas, outros insetos, como
besouros, também aproveitaram as boas condições e partiram para o
acasalamento.
O ritual acontece durante o voo. Após a fecundação, as fêmeas
partem para a construção de novos ninhos. De acordo com o especialista,
apenas uma pequena quantidade de formigas aladas sobrevive após a
revoada. Porém, as poucas sobreviventes botam milhares de ovos em cada
um dos formigueiros recém-criados. A situação na cidade é crítica e
precisa ser controlada.
“É um verdadeiro surto, que precisa ser controlado a curto prazo.
Elas são cortadeiras vorazes e atacam o que vier pela frente, qualquer
tipo de folha. Aqui no campus da UEL, as espécies preferidas são a
pata-de-vaca, os cedros e até mesmo as nossas queridas perobas. Mas
também já tivemos relatos de produtores de hortaliças e morangos que
perderam toda uma produção por conta das saúvas”, comentou.
Rainha, soldado e operário
Neste processo de criação de novas colônias, é possível perceber a
diferenciação entre os tipos de formiga. As maiores – com cerca de 3
centímetros de comprimento – são as mais inofensivas. São as rainhas,
cuja única função é botar os ovos. Os soldados, menores, são muito
agressivos, e se preciso for, morrem para manter a vida da rainha. Já as
operárias têm pinças especializadas no corte das folhas.
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, as formigas não
se alimentam das plantas que cortam. Os pedaços de vegetais são, na
verdade, levados para dentro dos formigueiros para servirem de comida a
diversos fungos – estes sim, alimentos dos insetos.
Controle
O controle da praga, segundo Pasini, pode ser feito com produtos
adquiridos em lojas especializadas ou mesmo supermercados. As iscas
granuladas para formigas cortadeiras têm uma boa taxa de mortalidade
para os insetos, combinada a um manuseio seguro. Mesmo assim, é preciso
ler atentamente as instruções de segurança no rótulo do produto. As
iscas são eficazes em formigueiros pequenos. Em casos de maior
infestação, é imprescindível o apoio de um profissional.
“Dependendo do tamanho do formigueiro é preciso usar uma outra
abordagem, com direito a nebulização de fumaça, produtos em pó e até
mesmo gases. Para isso, é sempre importante contar com um agrônomo para
dar as orientações sobre o combate às formigas”, confirmou.
Trabalho paralisado
Em agosto deste ano, voluntários da UEL e representantes da
Secretaria Municipal do Ambiente (Sema) fizeram uma ação conjunta de
combate às saúvas que infestavam as margens do Lago Igapó 2 até o
aterro. Na ocasião, folhetos explicativos e iscas foram distribuídos à
população para que o combate aos insetos fosse feito de maneira correta.
Desde então, a administração municipal pouco pode fazer nesse
campo. Segundo a titular da pasta, Maria Sílvia Cebulski, a Sema não tem
mais as iscas necessárias para o controle das formigas. “Estamos com o
trabalho paralisado desde o início de setembro. Foi aberta uma licitação
para comprar essas iscas, mas desde então nada saiu do papel”, revelou.
“Pedimos urgência ao setor de licitações, mas por enquanto não temos
nada de concreto.”