Ministério Público faz operação contra adulteração de leite no RS
Mandados são cumpridos nesta quarta (8) em três regiões do estado.
Investigação começou após denúncia ao Ministério da Agricultura.
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O Ministério Público do Rio Grande do Sul faz na manhã desta quarta-feira (8) uma operação contra a adulteração de leite no estado. De acordo com a investigação, para aumentar o lucro, os fraudadores misturavam água e até ureia ao leite. Cinco empresas de transporte de leite adulteraram o produto cru entregue para a indústria. São cumpridos nove mandados de prisão. Foram pedidos 10 mandados, mas um foi negado pela Justiça. Oito pessoas foram presas pela manhã. A força-tarefa também reúne a Receita Estadual, além de policiais civis e militares.
Conforme o MP, a simples adição de água com o objetivo de aumentar o volume acarreta perda nutricional, que é compensada pela adição da ureia, produto que contém formol em sua composição e é considerado cancerígeno pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
A fraude foi comprovada através de análises químicas do leite cru, onde foi possível identificar a presença do formol. Mesmo depois dos processos de pasteurização, ele persiste no produto final.
As ordens de prisão estão sendo cumpridas ao mesmo tempo em três regiões do Rio Grande do Sul: em Horizontina, no Noroeste, em Ibirubá, no Norte, e em Guaporé, na Serra. O MP suspeita que o esquema possa ter adulterado até 100 milhões de litros nos últimos 12 meses. A investigação começou depois de uma denúncia ao Ministério da Agricultura.
A investigação apontou que a fraude ocorria no meio do caminho, entre o produtor e a indústria, nos chamados postos de resfriamento, para onde o leite é levado e armazenado antes de ser industrializado. Após a descoberta do esquema, o Ministério da Agricultura determinou o recolhimento de lotes de quatro marcas nas prateleiras dos supermercados: Latvida, Italac, Líder e Mumu (veja lista abaixo).
A investigação mostra que as indústrias não sabiam da fraude. No entanto, segundo o MP, teriam falhado ao não detectar o esquema no controle de qualidade. A orientação dos promotores é que os consumidores deixem de consumir o leite de lotes específicos de fabricação.
O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Pagliarini, disse em entrevista à Rádio Gaúcha que recebeu informações sobre a adulteração ainda em janeiro, e informou ao Ministério da Agricultura.
"As empresas são vítimas desse processo. O sindicato tentou agir para coibir essa fraude. Já foi feito o recall desses produtos, e não existem mais os lotes nos supermercados. Quanto à quantidade de formol, nem o ministério tem a resposta", disse Pagliarini.
Fiscalização periódica detectou primeiras alterações
O Ministério da Agricultura emitiu nota técnica para explicar como foi detectada a fraude. De acordo com o Ministério, desde 2007, há fiscalização periódica por parte do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para atestar a qualidade do produto. A partir de junho de 2012, o SIF começou a detectar a presença de formaldeído nas amostas de leite cru em alguns postos de refrigeração no estado.
No início deste ano, o laboratório do Ministério em Pedro Leopoldo (MG) confirmou a presença da substância em seis lotes da marca Italac pertencente à Goias Minas, em Passo Fundo. A partir deste resultado, foram coletadas amostras de todos os leites UHT produzidos no Rio Grande do Sul. Foi encontrada adulteração em lotes das marcas Líder e Mumu.
As investigações apontam para adição de ureia agrícola no leite cru, com o formaldeído acrescido por fazer parte da composição do produto. A adulteração tinha como objetivo aumentar o volume com água e tentar manter os padrões do leite. A Superintendência Federal de Agricultura no RS concluiu que a fraude não ocorria nas indústrias, mas nos transportadores, que só podem ser fiscalizados quando estão nas indústrias ou nos postos de resfriamento de leite.
De acordo com a nota, alguns transportadores atuam de forma independente e negociam o volume e o preço do leite entre os produtores e as indústrias. A remuneração ocorre por volume e não por quilômetro rodado. A investigação mostra que as indústrias não sabiam da fraude. No entanto, segundo o MP, teriam falhado ao não detectar o esquema no controle de qualidade.
A orientação dos promotores é que os consumidores deixem de beber o leite de lotes específicos de fabricação. Quem tiver o produto em casa ou identificar a presença do produto no comércio pode informar o MPRS por e-mail , destacando marca, número do lote e data de fabricação.
O que diz a Mu-Mu
Por volta das 11h40, a Mu-Mu se manifestou através de nota por e-mail afirmando que "a empresa atende a todos os requisitos e protocolos de testes de matéria prima exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento". No texto constam outros esclarecimentos: "A investigação do Ministério Público está concentrada no transporte entre o produtor leiteiro e os postos de resfriamento, onde o produto fica armazenado antes da entrada em nossa fábrica. A empresa permanece à disposição do MP e MAPA, no que for solicitado".
A Mu-Mu também informa aos consumidores que eventualmente possuem os produtos do lote 3 ARC, fabricação 18 de janeiro de 2013, ou tiverem dúvidas, o Sistema de Atendimento ao Consumidor presta esclarecimentos no número 0800 51 7542, de segunda a sexta, das 7h30 às 18h30 e, aos sábados, das 7h30 às 13h30.
O que diz a Latvida
Em contato com o G1, a empresa Latvida informou que está operando normalmente. Segundo a assessoria de comunicação, a ação do Ministério Público está sendo direcionada exclusivamente aos transportadores do leite no estado. Em relação a este serviço, a marca disse que "está sendo eficiente até o momento".
A Latvida ainda afirmou que os problemas aconteceram no lote 196 do leite UHT desnatado e que todos os outros estão liberados para o consumo. "Estamos vendo essa ação do MP com naturalidade. Nossos laboratórios funcionam 24 horas por dia e temos um laboratório móvel que percorre as regiões dos 1,6 mil produtores que temos no estado", disse o assessor de comunicação da empresa, Paulo Pereira.
O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa da marca Líder às 9h e foi informado que a empresa analisa as informações da operação e vai se pronunciar mais tarde. Por volta das 9h40, a Italac avisou que se manifestará através de uma nota.
Confira os lotes não recomendados para consumo pelo Ministério Público
Leite Líder - UHT Integral
SIF 4182 - Fabricação: 17/12/12
Lote: TAP 1 MB
Leite Italac - UHT Integral
Goiás Minas - SIF 1369
Fabricação: 30/10/12 - Lote: L05 KM3
Fabricação: 5/11/12 - Lote: L13 KM3
Fabricação: 7/11/12 - Lote: L18 KM3
Fabricação: 8/11/12 - Lote: L22 KM4
Fabricação: 9/11/12 - Lote: L23 KM1
Leite Italac - UHT semidesnatado
Goiás Minas - SIF 1369
Fabricação: 5/11/12 - Lote: L12 KM1
Leite Mumu - UHT Integral
Vonpar - SIF 1792
Fabricação: 18/01/13
Lote: 3 ARC
Leite Latvida - UHT Desnatado
VRS - Latvida - CISPOA 661
Registro: 37/661
Leite Latvida - UHT Semidesnatado
VRS - Latvida - CISPOA 661
Registro: 48/661
Leite Latvida - UHT Integral
VRS - Latvida - CISPOA 661
Registro: 36/661
Registro: 24/661
Fraude em 2007 foi investigada pela Polícia Federal
Em outubro de 2007, a Polícia Federal desencadeou uma operação chamada Ouro Branco, que investigava cooperativas por adulteração de leite. Cerca de 200 policiais federais realizaram a operação na Copervale, em Uberaba e na Casmil, em Passos, ambas em Minas Gerais. Na ocasião, galões e sacos de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e citrato de sódio, foram apreendidos. Segundo o Ministério Público, as substâncias eram adicionadas ao leite com o objetivo de aumentar o tempo de conservação do produto e disfarçar a adição de soro usado para dar mais volume à bebida.
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