Gilberto Abelha / Jornal de Londrina
Dona Claudina, a direita, com a mãe Lúcia: Qualidade de vida melhorou com a miniflorestaA pequena floresta de dona Claudina
Em seis anos, aposentada transformou 9 mil metros quadrados usados para plantar milho e mandioca em área de preservação
24/05/2013 | 00:01Erika Pelegrino
Um grande exemplo
“A dona Claudina tem o dedo verde. Já fizemos restauração de área em várias propriedades e é difícil obter o desenvolvimento que ela conseguiu”, afirma a bióloga Alba Cavalheiro do Laboratório de Biodiversidade e Restauração de Ecossistemas (Labri) da UEL, que faz a restauração da propriedade de dona Claudina. Em um período de 8 anos, ela já tem árvores com alturas entre 5 metros e 17 metros. Orgulhosa, dona Claudina mostra a mangueira que plantou em 1985 e uma árvore [que ela não sabe o nome] plantada em 2005. Uma ao lado da outra e a mais nova já ultrapassou a altura da mais velha. Para transformar uma área em reserva legal, segundo a bióloga, é preciso plantar árvores nativas da região. O Labri tem o mapeamento destas espécies e na chácara de dona Claudina foram plantadas algumas ameaçadas de extinção, como o jaborandi; frutas silvestres para atrair a fauna entre outras. “Dona Claudina transformou completamente o cenário ali”, diz Alba. O grande impacto é na transformação climática: a temperatura fica amena e mais úmida. “Outro grande benefício é a influencia de dona Claudina sobre outros proprietários. Ela é um grande exemplo. Dizemos que ela existir é o grande benefício.”
O dedo verde de Claudina Scopel transformou uma área degradada pela urbanização em um refúgio para a flora e a fauna na zona leste de Londrina. Onde até 2005 existia plantação de milho e de mandioca, hoje tem uma minifloresta com mais de 1.400 árvores de espécies nativas. À medida que cresciam as mais de 100 espécies foram chegando também os pássaros, gambás, quatis, furões, tatus, cobras e outros pequenos animais que antes estavam sempre de passagem, e agora se instalaram na propriedade.
A senhora de 73 anos e sua mãe, Lúcia, 95 anos, ainda colocam a mão na terra e nos últimos 15 dias plantaram mais 122 mudas. Dona Claudina decidiu transformar sua propriedade de 10,7 mil metros quadrados em reserva legal para melhorar sua qualidade de vida e garantir que a área, localizada ao lado da Milênia, não acabasse sendo utilizada futuramente para outros fins que não o da preservação ambiental.
Ela conta que sofria com dores de cabeça e enjoos e que sentia muito cansaço. “Não tinha energia para fazer nada. E minha mãe sofria com problemas respiratórios”, relata. Ela diz acreditar que os sintomas eram provocados pela poluição do ar. Foi então que resolveu melhorar seu próprio habitat transformando-o em uma reserva legal. De acordo com as determinações legais, para isso bastava que ela reservasse 20% da área de sua propriedade para plantar espécies nativas da região. Dona Claudina foi além e reservou quase 90% de suas terras para realizar o desejo de viver em um lugar saudável. Foi com este sonho que ela comprou a chácara em 1985, já viúva e com os filhos adultos.
Ao visitar o local foi seduzida pelo barulho do Ribeirão Lindóia que passa ao fundo da propriedade. Era o som da infância de quem viveu até os 6 anos em um sítio. “Lá também tinha um rio onde via os peixinhos”, relembra. Dona Claudina se mudou para o local em 1986. Em 2005, começou sua empreitada e, hoje, já tem o parecer técnico da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema) que atesta área como reserva legal. “Todos os sintomas que eu e minha mãe tínhamos desapareceram”, conta.
Para isso, ela foi povoando mais de 9 mil metros quadrados com araucária, jaborandi, peroba, pau-marfim, palmito jussara, pau Brasil, jatobá, jequitibá, caviúna, copaíba, ingá feijão, coração negro, aroeira, jabuticabeira, pitangueira, ipê roxo, abacateiro, laranjeira, limoeiro, figueira e muito mais. Com flora veio a fauna.
Dona Claudina diz acreditar que sua pequena floresta também beneficia os moradores mais próximos, com um clima mais agradável e um ar mais puro. “Alguns me disseram que eu transformando a propriedade em reserva legal, estou comprometendo o seu potencial comercial. Mas eu acredito que se não substituirmos a ganância por outros valores, nosso fim será triste”, diz. “O que eu gostaria é que todos os proprietários rurais fizessem sua parte, pelo menos com o mínimo exigido, que são os 20% de reserva legal.”
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