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ROLANDIA E O NORTE DO PARANÁ

sábado, 16 de novembro de 2013

DANIEL STEIDLE RECEBE INDIOS KAIGANGS EM ROLÂNDIA

IMPRESSÕES SOBRE OS ÍNDIOS... 
OU DESCOBRINDO NOSSA CONDIÇÃO DE "FILHOS DA TERRA" E PARTE DE UMA “GRANDE FAMÍLIA”.

Durante estes anos todos tivemos muitos momentos gratificantes de contato direto com os índios... nas reservas, nas ruas e algumas vezes na Bimini em nosso trabalho de educação ambiental não formal.

Apesar de não podermos falar mais de um mundo índio, há o som da língua misteriosa, as aparências físicas e, às vezes, traços da cultura como os dentes limados. A integração dos índios ao mundo global foi intensa como mostram as roupas, os pircings e as tatuagens, os símbolos religiosos e dos times de futebol. 

Mas os índios são bem diferentes e inspiradores... A atenção deles é enorme! Muita observação, olhares para todos os lados, mas concentração total quando alguém fala e pouca conversa. A Suely-Xetá (fila do líder Xetá, Tiküen, já falecido) contou sentada em nosso “chabuno” (a casa redonda debaixo dos pés de manga) do “círculo” em volta da fogueira e das conversas até de madrugada do pai que lembrava do mato. 

Até à “pouco” tempo não havia a escrita no mundo dos índios. Aí dá para entender a importância de saber falar e saber ouvir, da tradição de passar conhecimentos pelas palavras. 

Os trabalhos de pintura que fizemos duas vezes com diferentes grupos foram realizados, sem comando, coletivamente. A inteiração entre gerações é perfeita, tudo sincronizado, como uma coreografia, uma dança. Mulheres separadas dos homens e filhos circulando e participando sem atrapalhar. Não há orientação, censura, nem atividade paralela. Um interfere no desenho do outro, sem muita discussão. Parece que cada um entende o outro e um vai simplesmente ajudando. 

Há um clima de paz e de alegria contagiante. A natureza em volta se aproxima e passa a fazer parte dos desenhos. Ganha importância o vento, o ranger dos galhos, a música das folhas, o canto dos pássaros, a saracura lá no brejo fazendo seu chamado. 

Os desenhos são um misto de “moldes escolares” (a árvore repolho, solzinho, pássaro em “v” das nossas crianças) com imagens de um “mundo indígena” como o símbolo de passagem da criança para o jovem (que parece a pegada de um pássaro) ou o arco e flecha, além das palavras desenhadas na língua nativa. Parece uma explicação exata das coisas. 

O que atrapalha a "ordem do momento" são as nossas fotos que fazemos alucinadamente e que sempre causam desconforto. Há uma invasão, uma desconfiança no ar. Os olhares parecem perguntar: “Porque vocês estão tirando fotos de nós? O que vocês vão fazer com estas imagens?”

Explicamos que as fotos serão expostas junto com as pinturas. A iniciativa deste grupo de pintar surgiu após eles verem as pinturas com as fotos do projeto com outros índios exposto no “Depósito 3”, um antigo barracão de madeira da época do café. Explicamos dos 6 painéis ainda “em branco” no barracão que eles poderiam pintar para completar a exposição. 

A situação acendeu um mutirão imediato, como se fosse algo planejado há tempo e bem ensaiado. Uma atividade como parte de um acordo... Trabalho gostoso e social, fácil de ser executado! 

A “natureza” e um jeito de “ser índio” volta, apesar da separação, das roupas estranhas e de tantos conhecimentos que se perderam. Na hora de passear e ver a cobra coral, de subir nas raízes da grande figueira, de ver a água e os peixes... acordavam nos índios sorrisos mostrando "vínculos seculares", um sentir-se bem outra vez, em casa... de esquecer um pouco o mundo civilizado, tecnológico, construído, deserto e sujo. Não havia sujeira no mundo dos índios. 

Hoje, quanto sobrepeso dos corpos dos índios, quanta submissão a um sistema atraente, viciante e manipulador. A professora "não índia", que acompanhava, parecia longe atrás de seus enormes óculos escuros. Sua imensa cruz na camiseta amarela debaixo do jaleco branco desabotoado, feita de um mosaico de espelhinhos, já não chamava mais tanta atenção.

Apesar do domínio há uma natural defesa dos índios pela manutenção da língua nativa. Mas um sistema destruidor e assistencialista é anestesiante, fazendo dos índios objeto para estudo, integração, folclore ou comércio. 

Ainda não descobrimos o real valor dos índios para o nosso mundo: poderia ser encontrar, através de momentos de companhia com eles, a nossa própria condição... filhos da terra e parte de uma grande família!

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