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Rota do Café: um passeio gastronômico, cultural e histórico no Paraná
Teve um dia ruim? Um café e um cafuné resolvem tudo, não é? Como
boa viciada em café, fiquei muito feliz quando recebi o convite do
SEBRAE-PR para conhecer a Rota do Café no Norte do Paraná com outros
blogueiros e jornalistas. Além de provar a gastronomia e aprender sobre o
cultivo dessa cultura no estado, eu ainda tive a oportunidade de tomar
alguns dos melhores cafés da região! Posso dizer que foram quatro dias
repletos de caminhada, belezas naturais, aprendizado e muita comida boa!
Quer saber mais? Bora lá!
HISTÓRIA CAFEEIRA
O cafezinho é parte tão intrínseca do nosso dia a dia que é difícil
imaginar que já teve um passado tão conturbado e pomposo. A bebida
surgiu na Etiópia no século IX, quando, de acordo com a lenda, um pastor
observou que suas ovelhas ficavam agitadas após ingerir os frutos e
folhas de um pé de café. De lá, o “ouro negro”, como também é conhecido,
passou pelo mundo árabe, onde foi considerado contrário às leis
islâmicas de Maomé por conta de suas propriedades estimulantes. Com o
tempo, o café venceu essas resistências e foi levado por comerciantes
até a Europa, chegando posteriormente às novas colônias na época do
descobrimento.
No Brasil, o café surgiu clandestinamente, após o governador do
estado de Grão-Pará encomendar uma muda do café-arábico a um sargento
que viajava à Guiana Francesa. As primeiras plantações na região norte e
nordeste não foram muito bem sucedidas, fazendo com que as plantinhas
viajassem país adentro até encontrarem condições climáticas ideais em
São Paulo, Minas Gerais e, finalmente, no norte do Paraná.
O café não só se adpatou bem ao país, ele foi além, construindo a
cultura brasileira xícara a xícara. E assim surgiu nosso “café da
manhã”, “entre que vou passar um cafezinho” e o famoso copinho
revigorante após as refeições. A relação do nosso povo com o pretinho
básico é intensa e íntima, passando pela economia do país e pelos nossos
hábitos diários. E é essa mistura de experiências e história que a rota
do café explora.
A ROTA DO CAFÉ
E o que é a rota do café…
É uma viagem cultural pela história do cultivo do café no Paraná?
Sim. É uma experiência gastronômica com degustação de cafés especiais e
workshops sobre a bebida? Também. Inclui turismo rural com trilhas e
almoços em fazenda? Claro. Pode ser considerado um passeio ideal para a
família? Para a família, para os amigos e para quem mais você quiser
levar.
Na verdade, a rota é como um quebra-cabeça, com mais de 35 atrativos
espalhados por nove municípios que juntos contam a história do povo
acolhedor do interior do Paraná e da cultura cafeeira.
Como funciona: Você entra em contato com uma das agências especializadas que
montará um roteiro personalizado com base no tipo de atividade que seu
grupo mais gosta e na quantidade de dias disponíveis.
Tamanho do grupo:
Deverá ter entre 8 e 15 pessoas. Caso não consiga fechar um grupo, você
pode tentar fazer parte de um dos passeios organizados que saem uma vez
por mês (esses não são personalizados).
Preço: Dependerá das
atividades escolhidas, mas fica aproximadamente em R$ 160/pessoa para um
dia de passeio sem pernoite e R$ 350/pessoa para dois dias com
hospedagem em hotel.
Quantidade de dias: Pode ser agendado para um dia a uma semana.
Melhor época: Há
atrações durante todo o ano, com festivais especiais ocorrendo em maio,
agosto e outubro (descritos no final do texto). A colheita é realizada
entre maio e agosto, período interessante para visitar as fazendas
produtoras.
O que está incluso: Alimentação, passeios guiados, translado e hospedagem (caso fique mais de um dia).
PASSEIOS EXCLUSIVOS DA ROTA
Dividi os passeios em categorias, assim fica mais fácil misturar
opções legais de acordo com o gosto de cada um. Minha recomendação é
incluir pelo menos uma atividade cultural, uma experiência gastronômica
relacionada ao café e um passeio por uma fazenda produtora. Não visitei
todas as atrações, ou teria que passar pelo menos um mês por lá, mas
conto um pouco do que vivi na press trip em cada categoria para você se inspirar!
Atividades Culturais:
Londrina e região têm muitos museus interessantes
que exploram temas diversos, como arte contemporânea. Mas nós estamos
aqui para falar de café, certo? Então vou focar nos museus que visitei e
que valem muito a pena para quem quer conhecer mais sobre a história
cafeeira do norte pioneiro:
-Museu do Café em Ibiporã: Ibiporã é uma cidade de 50 mil habitantes bem bonitinha. Há várias esculturas do artista paraibano Henrique Aragão na cidade, além de uma linda igreja na praça central. O Museu do Café foi estabelecido na antiga estação ferroviária,
construída por imigrantes ingleses em 1936, e conta com um acervo bem
preservado de fotos e objetos referentes à cultura cafeeira, além de uma
sala de vídeo onde é exibido um filme com relatos dos fazendeiros
pioneiros da região. Eu adorei o teto do museu, todo revestido com
peneiras usadas nos cafezais! Antes de ir embora, não deixe de
contemplar a estátua de 4 metros conhecida como Cristo
Libertador, criação de Henrique de Aragão, que adorna o espaço exterior
do museu. O Cristo em latão foi concluído em 1975 para decorar a Igreja
Matriz Nossa Senhora Auxiliadora de Colorado e era originalmente nu. Com
o tempo, alguns religiosos passaram a considerar a peça “imoral”, o que
resultou na sua doação para a universidade de Londrina, onde permaneceu
até 2006. Contudo, devido à proibição de exibição de objetos religiosos
em instituições laicas, o Cristo Libertador foi transferido mais uma
vez, encontrando sua casa final no Museu do Café de Ibiporã que lhe
concedeu uma linda moldura natural: o céu da cidade. (O museu tem
entrada gratuita).
-Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss:
Também foi criado em uma estação ferroviária, a segunda mais antiga de
Londrina! Sua arquitetura é única na cidade, pois preserva às
influências inglesas da época da colonização. Conhecemos o espaço com um
guia que viveu em uma plantação de café quando criança, o que adicionou
um clima ainda mais especial à coleção do museu, que tem muitos objetos
antigos, maquetes de uma casa da época e explicações sobre a cultura
cafeeira. Na entrada do museu, há uma antiga locomotiva restaurada que é
belíssima, parece um brinquedo de criança! Ah! E no final de maio, o
espaço abriga uma série de workshops bacanas para celebrar a semana do
café! (O museu tem entrada gratuita).
-Cine-Teatro de Ibiporã (o nome oficial é Cine Teatro Padre José Zanelli):
Se estiver viajando com crianças, dê uma olhadinha na programação desse
espaço cultural, que recentemente passou a exibir uma peça infantil e
um balé com a temática do café. A agenda do cine-teatro pode ser
encontrada no site da Fundação Cultural de Ibiporã.
Experiências Gastronômicas:
Para mim, viajar é sinônimo de descobrir novos sabores e a rota do
café é um prato cheio para viver ótimas experiências gastronômicas.
Quando agendar o roteiro com a agência, não se esqueça de pedir para incluírem o jantar temático do Restaurante Brasiliano Bar & Cozinha
em Londrina. Inspirado na rota turística, o menu garante notas de café
em pratos inusitados e saborosos, como o risoto de lombinho e queijo
coalho com molho de espresso. Há outras opções igualmente gostosas, mas
não quero contar tudo para não estragar a surpresa!
Os passeios pelas fazendas da região também rendem deliciosas
experiências, que vão desde o sabor de uma fruta colhida madurinha do
pé, aos fartos cafés coloniais e aos produtos artesanais, como o licor
de café da Casa Muller que fica divino com um sorvete de creme.
Agora, nenhum apreciador de café que se preze pode visitar o norte do
Paraná sem conhecer o maravilhoso trabalho da barista Cristina Maulaz
da cafeteria O Armazém Café,
que oferece o sabor dos melhores lotes da região para tomar com um
quitute, ou levar para degustar em casa. Apaixonada pela bebida,
Cristina também conduz oficinas específicas para o passeio, onde você
irá aprender a passar café com diversas técnicas, usando um coador de
pano e até um syphon (também conhecido como sifão japonês).
Fazendas da Região:
Visitei quatro propriedades diferentes, cada uma com algo especial para o turista!
-Chácara Marabú (Rolândia, PR):
O Adrian, gerente da fazenda que é filho de suíços, tem uma preocupação
enorme com o meio ambiente e a qualidade dos produtos produzidos na
Marabú. Além de se dedicar ao reflorestamento de parte da propriedade,
Adrian adotou uma agricultura mais ecológica, onde as árvores frutíferas
ficam em meio à mata nativa e não levam nenhum produto químico. Ele
produz geleias e compotas espetaculares! Tenho dois produtos favoritos, o
molho Mexicano, com milho, abobrinha e pimenta, e a geleia de uvaia,
uma fruta amarela e azedinha típica da mata atlântica. O dia na Marabú
pode incluir várias atividades, como trilhas, banho em cachoeira, aulas
com uma nutricionista e uma degustação de café. Como grande parte da
família do Adrian não come carne, as refeições na chácara são
vegetarianas, porém preparadas com muito carinho e tempero. Não
acredita? Prove a chäsweia, uma torta de queijo feita pela mãe do Adrian
que estava tão boa a ponto das pessoas saírem com pedaços escondidos
dentro da bolsa.
-Fazenda Monte Bello (Ribeirão Claro, PR):
Datada de 1915, a fazenda chegou a ter 250 mil pés de café e está muito
bem conservada, incluindo as antigas instalações e maquinários outrora
utilizados na colheita. O tour guiado é uma ótima maneira de conhecer
como funcionava uma fazenda produtora na fase áurea do cultivo do café,
que no Paraná perdurou até 1975 quando a “geada negra” dizimou a maior
parte dos cafezais. A propriedade é uma gracinha e inclui dois chalés
onde você pode se hospedar.
-Fazenda Palmeira (Santa Mariana, PR):
A fazenda é voltada para o agronegócio, focando no plantio de soja,
milho, trigo e café. É um lugar perfeito para aprender como o café é
colhido hoje em dia, além dos diferentes tipos de grãos e processos de
qualidade existentes. O passeio inclui um café da tarde delicioso, com
receitas alemãs da família Gamerschlag, proprietários da fazenda.
-Casa Muller (distrito de Warta, PR):
Nos arredores de Londrina fica a Casa Muller, que oferece frutas sem
agrotóxico e vinhos e licores produzidos artesanalmente. O morango
colhido do pé é de outro mundo! Dá vontade de encher dois sacos e levar
pra casa! Os licores também são muito gostosos: de maracujá, banana e,
como não poderia faltar, café! (Dica: compre uma garrafinha e use como
cobertura de um sorvete de creme, você me agradecerá depois!) Os donos, o
casal-mais-fofo-do-mundo Eloy e Cleide, adoram fazer passeios
pedagógicos com crianças pela mata tropical da propriedade, uma ótima
opção se você está pensando em viajar com os filhos!
Mais sobre o Mundo do Café:
-Edifício América:
Construído em 1960, foi o primeiro arranha-céu de Londrina. O edifício
abriga escritórios dedicados aos corretores de café. O produto é moído
ali mesmo para prova e classificação. Grupos de até oito pessoas podem
agendar uma visita e participar de uma mesa de negociação de café.
-Eventos Especiais:
No final de maio ocorre a Semana do Café, com uma série de eventos
culturais e gastronômicos, com destaque para a oficina de degustação.
Para quebrar o friozinho do inverno, a pedida é o Fest Café,
um festival gastronômico onde restaurantes e cafeterias participantes
servem bebidas, pratos ou sobremesas feitos ou aromatizados com café
(geralmente na segunda semana de agosto). Já em outubro acontece o Café
no Museu, com workshops gratuitos ministrados dentro do Museu Histórico
de Londrina.
-Artesanato e Lembrancinhas de Viagem: O charmoso Centro de Artesanato de Ibiporã tem vários produtos bacanas para você dar de presente ou levar para casa!
OUTRAS INFORMAÇÕES:
- Hospedagem em Londrina: Ficamos no Cedro Hotel, um hotel confortável com ótimo atendimento no centro da cidade. A limpeza do estabelecimento é exemplar e o café da manhã é gostoso e farto, com vários pães, cereais, opções saudáveis, frios, frutas, bolos, ovos e outros pratos quentes.
- Mais informações sobre os atrativos da rota do café aqui.
*Press trip: o SEBRAE arcou com as despesas de viagem, incluindo hospedagem, passeios, alimentação e translado.
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